A taxa de mortalidade da doença é mais alta que as infecções respiratórias em geral. Mais de dois mil casos foram notificados na China continental e a economia sofre o impacto. Em Singapura a preocupação se espalha. O mal chega à América do Norte e em Paris um virologista do Instituto Pasteur faz o susto aumentar, alertando que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, em inglês) está se tornando endêmica.
No Brasil, o medo parece restrito aos meios de comunicação de massa, o que parece um enorme equívoco.
Lembra o aparecimento da Aids, no início dos anos 80, quando as autoridades sanitárias tentavam minimizar a questão em nosso País, provavelmente para evitar o pânico.
Como se fosse possível ao Brasil ou qualquer outro país do mundo se excluir dos efeitos da globalização, que se manifestam em todas as áreas. Com a aproximação dos povos, o aprimoramento dos transportes, a melhoria da renda e o crescimento da expectativa de vida, a expansão do turismo, o crescimento dos negócios, caem as barreiras, somem as fronteiras, e o mal que afeta hoje Bangladesh amanhã pode estar instalado em qualquer cidade nordestina. São freqüentes os depoimentos de viajantes que estranham a facilidade com que passam pelos nossos aeroportos, quando fica mais rígido o controle em todos os grandes países do mundo.
Como se acreditássemos na imunidade natural, fruto do excesso de confiança que pode redundar numa brutal demonstração de incompetência. Acreditamos que alguma ação deve estar fermentando nos meios oficiais, posto que a preocupação se alastra em todo mundo na medida em que o coronavírus rompe as fronteiras da China e se manifesta em área tão distante como o Canadá.
O epidemiologista francês Jean-Claude Manuguerra, responsável por um laboratório integrante da rede internacional que identificou o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave, alerta que estamos diante de uma fase epidêmica ascendente e de difícil controle, com o risco de que o vírus vá aperfeiçoando sua forma de transmissão na medida em que se espalhar. Evidentemente que não cabe aos meios de comunicação e, muito menos, às autoridades sanitárias do País criar pânico em uma população já tão assustada com outras endemias, como a criminalidade, mas é fundamental que a nação saiba o que os governos estão fazendo para impedir que também este mal se abata sobre nós por falta de previsão. A população precisa ser informada que para esse mal não existem grupos de risco nem ajudam os recursos que porventura venha a ter o infectado.
O sinal vermelho foi aceso com a morte de um empresário norte-americano em Hong Kong. O acompanhamento que passou a ser feito pelas autoridades sanitárias chegou à província de Guangong, na China, onde houve mais casos fatais de infecção respiratória aguda. Num segundo momento, foi detectado que os sintomas parecem com os da gripe, com febre alta, dor de cabeça, garganta inflamada, tosse. Instalado de vez o sinal de perigo, o que se vê agora são grandes massas humanas em países asiáticos usando máscaras, os hábitos são alterados, desfazem-se os aglomerados, cai a produção, o consumo, a circulação de pessoas de outros países.
Um professor inglês especialista em virologia fez crescer a temperatura provocada pela infecção ao avisar que não há muito o que fazer para evitá-la, a não ser que se viva como um ermitão, isolado de tudo e de todos.
É preciso argumentar mais para questionar a pouca atenção que a infecção respiratória aguda está despertando em nossos portos e aeroportos?
Será necessário que a epidemia se instale entre nós, causando comoção de grandes massas, contribuindo para agravar a situação do já falido sistema hospitalar, para que vejamos a ação dos responsáveis pela saúde pública? O que estamos esperando?
|