O primeiro semestre de 2009 teve momentos importantes para o futuro de medicina e da saúde do Brasil. Defensores determinados de um sistema de saúde integral, universal e de qualidade para todos os cidadãos, médicos de todo o Brasil buscaram um nível de organização superior para lutar por valorização, por dignidade profissional e por uma assistência de excelência aos pacientes.
Diversas manifestações tomaram conta do país. No norte, no nordeste e no interior de São Paulo, em cidades como Sorocaba e Campinas, houve até paralisações pontuais, sempre garantindo-se uma estrutura básica para o atendimento da população. Na Capital paulista, centenas de profissionais tomaram a Avenida Paulista no movimento Pró-SUS. Entre as reivindicações comuns, a inclusão da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos no sistema público, para possibilitar uma cobertura adequada aos usuários, um Plano de Carreira, Cargos e Salários para os médicos, além do salário mínimo de R$ 8.239,24 para 20 horas de trabalho semanais.
São pleitos justos, justíssimos. Hoje, os médicos brasileiros pagam alto preço pelas falhas de gestão e carência de financiamento. O resultado é que são obrigados a trabalhar em diversos locais, contabilizando jornadas desumanas de 60, 70 e até 80 horas semanais. É quase um regime de escravidão o que se impõe ao profissional de medicina.
Óbvio que isso tem reflexos no atendimento. Para fazer um salário decente, o médico pula de um trabalho para o outro e tem dificuldades de assegurar o tempo que julga adequado à boa assistência. Também chega a níveis de estresse recordes e se acaba física e psicologicamente.
Mesmo assim ele não fraqueja, por amor à medicina e pelo compromisso com o paciente, tira do próprio bolso recursos consideráveis para arcar com a necessária educação científica permanente, ficando assim atualizado e em condições de prestar uma assistência de qualidade.
É necessário, mais do que urgentemente, que essa situação se altere. Temos todos de sair em defesa dos médicos brasileiros e em apoio às bandeiras que empunham, pois são em benefício da população. Um país só é grande de fato quando olha para a saúde de seu povo com o carinho e o respeito que ela merece.
* Desiré Callegari e Renato Françoso, diretores do Cremesp e da Associação Paulista de Medicina