O vice-presidente da República, José Alencar, se recupera bem após a cirurgia de seis horas a que se submeteu na quinta-feira para desobstrução do intestino, informou nessa sexta-feira o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele pode ficar internado por 10 dias ou mais, dependendo de como vai se recuperar, segundo informaram seus médicos.
"O paciente está evoluindo de maneira satisfatória, estando bem disposto e acordado", afirmou nota oficial divulgada pelo hospital na tarde de sexta. O vice-presidente foi internado na quarta-feira à tarde após sentir fortes dores abdominais quando ainda estava em Brasília. Na operação de quinta-feira, os médicos desobstruíram uma das alças de seu intestino delgado e retiraram dez dos 18 tumores que Alencar tinha na região.
Após a cirurgia, os médicos afirmaram que Alencar se comportou bem durante a operação. O vice-presidente pode deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cardiológica do Hospital Sírio-Libanês ainda hoje. A informação foi confirmada pelo chefe de gabinete de Alencar, Adriano Silva, que se encontrou com ele ontem. A expectativa é de que o vice-presidente permaneça internado por pouco mais de uma semana.
"Vai depender de como o organismo dele reagir: uma semana, dez dias, um pouco mais (de internação)", afirmou o cirurgião Raul Cutait em entrevista coletiva. Além de Cutait, a equipe responsável pelo acompanhamento médico de Alencar é coordenada pelos médicos Roberto Kalil Filho e Paulo Hoff.
De acordo com Silva, o primeiro pedido de Alencar ao acordar, bem-humorado, ontem pela manhã, foi que ligassem a televisão para que pudesse acompanhar notícias sobre seu estado de saúde nos telejornais. Os médicos fizeram uma avaliação do quadro do vice-presidente logo cedo e constataram que todos os sinais vitais do vice-presidente estão dentro da normalidade. Também pela manhã, Alencar conversou pelo telefone com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
"Ele queria saber de tudo, de como estava o País", informou o chefe de gabinete.
A doença
Alencar descobriu que tinha câncer em 1997, quando após um check-up foi encontrado um tumor no rim direito e outro no estômago, retirados naquele mesmo ano. Em 2000, uma nova cirurgia retirou um tumor na próstata. Depois da retirada de outros nódulos, agora no abdômen, Alencar foi diagnosticado com câncer no intestino.
Em janeiro deste ano, ele enfrentou cerca de 17 horas de operação para a retirada de nove tumores na região abdominal. Na mesma cirurgia, os médicos retiraram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga. Alencar chegou a ficar internado 22 dias após a operação.
Contrariando as expectativas, no entanto, os exames seguintes apontaram a volta de 18 tumores na região. Uma nova cirurgia foi descartada e os médicos optaram por um remédio em fase de teste no Centro Oncológico MD Anderson.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou ontem no fim da noite ao Brasil depois de uma semana de viagem ao exterior, e a previsão era de que visitasse Alencar tão logo chegasse ao País. Dependendo do horário que Lula chegasse em São Paulo, a visita poderia ocorrer ainda na madrugada de hoje.
Exercício
Mesmo hospitalizado, Alencar continuou presidente da República em exercício durante a ausência de Lula. Uma vez que o presidente em exercício não pediu afastamento por se considerar incapaz de exercer o cargo, a junta médica que trata dele também não o declarou impedido. Também não houve pedido externo, como, por exemplo, do Congresso Nacional, para que ele assim fosse considerado, detalhou o Palácio do Planalto.
A questão de quem assume a Presidência na ausência do presidente da República e do vice-presidente e também sobre a vacância de ambos os cargos é tratada no Artigo 80 da Constituição. No entanto, a Constituição não disciplina o que pode ser considerado impedimento para o exercício do cargo e nem quem declara a vacância.
Se Alencar fosse declarado impedido de exercer a Presidência, o primeiro na linha sucessória para assumir o cargo seria o presidente da Câmara dos Deputados, seguido pelos presidentes do Senado e do Supremo Tribunal Federal.