O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou nesta quinta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao governante colombiano, Álvaro Uribe, "garantias" de que o efetivo militar americano que ficará nas futuras bases militares na Colômbia restrinja suas atividades apenas ao país, e não amplie suas funções a nações vizinhas, como o Brasil.
O governo de Barack Obama negocia com Uribe a utilização de sete bases militares colombianas para suas atividades. O presidente colombiano, por sua vez, decidiu fazer uma rodada de reuniões com os países vizinhos à Colômbia para explicar as razões do futuro acordo após o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter ameaçado declarar guerra na região casos os americanos se instalassem no local.
"A questão de garantias foi mencionada e creio que isso será objeto de reflexão", disse o Amorim, indicando que Álvaro Uribe não deu uma resposta imediata ao pleito brasileiro. "Há uma sugestão de uma transparência maior. Temos que ver exatamente se essa transparência satisfaz as nossas dúvidas ou não", destacou o chanceler.
Também reunido nesta semana com o presidente Lula, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, confirmou que os Estados Unidos não recuarão da negociação com o governo colombiano por considerar que o acordo entre os dois países não representa uma "mudança dramática" no objetivo de combate ao narcotráfico e às ações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
"Há um clima de diálogo e busca de entendimento das situações de parte a parte. Certamente (a conversa) vai ter continuidade. As nossas preocupações foram expressas. O presidente Uribe também deu os esclarecimentos sobre os objetivos desse acordo com os Estados Unidos", explicou Celso Amorim.
Na avaliação do ministro, o Brasil não tende a se intrometer nas negociações entre Colômbia e Estados Unidos caso as atividades militares fiquem restritas ao território colombiano. "Voltamos a reiterar que um acordo com os Estados Unidos que seja específico e delimitado ao território colombiano é uma matéria da soberania colombiana. O presidente Uribe reiterou que esse é o propósito", disse, com a ressalva de que a instalação das bases militares "é um processo que vai exigir outras consultas e outras conversas não só com a Colômbia mas também com os Estados Unidos".
Álvaro Uribe, que havia rejeitado sugestão de Lula e da presidente do Chile, Michelle Bachelet, para que expusesse o acordo com os Estados Unidos ao Conselho de Defesa Sul-Americano durante a Cúpula das Nações Sul-Americanas (Unasul) na próxima semana, ouviu novamente do governante brasileiro a importância de o colegiado pode debater problemas da região.
"O presidente Lula exprimiu o propósito do Conselho de Defesa Sul-Americano que, entre outros, o objetivo de permitir um clima de confiança e um clima que permita que certas questões que possam surgir possam ser respondidas, que as dúvidas possam ser dirimidas com tranqüilidade, de maneira técnica. Claro que não somos ingênuos. Sabemos que isso não é uma coisa muitas vezes fácil, mas o objetivo é caminhar nessa direção", relatou Amorim.
"Houve uma reunião que durou duas horas aproximadamente entre o presidente Lula e o presidente Uribe. Essa foi a última das visitas desse percurso que ele fez pela América do Sul. Nós interpretamos como um gesto muito positivo o desejo de o presidente Uribe ter uma diálogo direto com os outros chefes de governo da região e especialmente essa longa conversa que houve", afirmou Celso Amorim.