O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), subiu à tribuna nesta segunda-feira para se defender da denúncia de que sua família estaria recebendo dinheiro de empreiteiras e criticou o trabalho da imprensa, em especial do jornal O Estado de S. Paulo. Ele disse estar sendo vítima de um processo "nazista" com o único objetivo de denegrir a sua imagem.
Segundo o jornal, a empreiteira Aracati Construções, Assessoria e Consultoria Ltda, teria comprado há três anos dois imóveis em São Paulo para uso da família do presidente do Senado. Em um dos imóveis, de acordo com a reportagem, moraria um neto do peemedebista, enquanto o outro seria utilizado para abrigar assessores e convidados dos Sarney, mas também hospeda a família.
O peemedebista disse que comprou um dos apartamento citado pelo jornal em 1977 para seus filhos que estudavam em São Paulo morarem. Sarney afirmou que o outro imóvel citado pela matéria foi adquirido por outro filho para os netos estudarem em São Paulo e morarem junto com os primos.
"É de uma irresponsabilidade de tamanha grandeza que eu não possa acreditar que o jornal publica: empreiteira pagou dois imóveis para família Sarney em são Paulo. Ele vem se empenhando numa campanha sistemática contra mim, se empenhando numa pratica nazista de acabar com as pessoas, denegrir com suas honras, até levar os judeus a uma câmara de gás. Este tem sido o comportamento do Estado de S.Paulo", disse Sarney.
Além de criticar o jornal, Sarney se mostrou indignado com senadores que, em entrevistas, defenderam que o peemedebista se explicasse em relação à denúncia ligando o nome de sua família à empreiteiras. "Alguns colegas meus foram muito apressados, não procuram nem saber do que se tratava", criticou.
"Cabe na cabeça de alguém que uma notícia de jornal vai instaurar uma investigação, mas o que tem isso com o Senado? É por isso a minha indignação, parece o livro de Kafka, 'o processo' (...) é esse um processo kafkiano. Meu Deus, eu devo dar explicações sobre compra ou uso. Os senhores são obrigados a isso", disse.
"A Constituição, no seu artigo 5, diz que se tem direito à privacidade, é garantia constitucional. Este País rasga a Constituição. Não temos lei de imprensa, não temos direito a resposta, o que vamos fazer? ", questionou.
O presidente do Senado ainda se irritou ao falar sobre um parlamentar que criticou o fato de ele ir a São Paulo e se hospedar em um dos apartamentos, quando ele teria direito a utilizar verba do Senado para ficar em um hotel. "Devia ser uma atitude louvável porque se está economizando dinheiro, mas então se pede uma investigação", disse.
"Me cobram que eu me explique porque me hospedei lá e não fui para um hotel. Assim, peço a meus colegas, pelo menos, que reflitam sobre sua responsabilidade e não procurem fazer isso. Só venho falar nesta Casa por causa disso. (...) Eu tenho que vir aqui para dizer porquê me hospedei no apartamento do meu filho e não fui para um hotel porque isso é falta grave, é quebra de decoro. Perdoe-me a Casa pela minha indignação, tenho ficado calado, Deus sabe o que tenho sofrido, mas não posso ouvir isso e ficar calado, não por mim, mas pelos meus colegas e pelo Senado", disse.
Sarney é acusado de cometer uma série de irregularidades na administração do Senado, como empregar pessoas ligadas à sua família e desviar dinheiro público por uma fundação que leva o seu nome. Onze pedidos para investigar as denúncias contra ele foram apresentados no Conselho de Ética do Senado, mas todos foram arquivados pelo presidente do órgão e aliado de Sarney, Paulo Duque (PMDB-RJ).