Às vésperas de a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Seria desafiou a ex-servidora a apresentar a agenda que comprovaria uma reunião em que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria pedido que fosse encerrada uma investigação contra as empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
"Seria tão mais simples e tão mais fácil que a secretária mandasse a agenda que ela encontrou com a Dilma. Não faria nem gastar dinheiro, pagar passagem ou ir para o Congresso. É só pegar as duas agendas e ver o que aconteceu", disse Lula, que classificou a atenção dada ao episódio como "um carnaval em coisa que não dá samba".
Lina Vieira afirma que no encontro Dilma Rousseff pediu que fossem agilizadas as investigações contra empresas da família do presidente José Sarney, controladas pelo filho do parlamentar, Fernando Sarney. De acordo com Lina, ela interpretou a ordem como um apelo para que fossem "encerradas" as apurações que o Fisco fazia nas empresas. "Acho que eles não queriam problema com o Sarney", chegou a afirmar a ex-secretária da Receita.
Na avaliação do presidente, que respondeu aos questionados diante da ministra Dilma, o assunto não merece o destaque que vem tendo na imprensa. "Toda a vez que se começa carnaval em coisa que não dá samba, as coisas vão ficando mais desacreditadas", disse Lula.
"Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda? A Dilma já disse que não tem agenda com ela. Como eu não sei da vida das duas e não tenho propensão a ser mexeriqueiro, como dizem no Nordeste brasileiro, se as duas se encontraram é só ver a agenda. Se elas não se encontraram é só ver a agenda. E não precisa fazer um cenário de crise entre duas pessoas que conversaram desnecessariamente", observou Lula, em Brasília, durante encontro com o presidente do México, Felipe Calderón.
"Mais dia menos dias vocês não me perguntarão mais sobre isso. Mais dia menos dia o povo vai ficar ouvindo ela dizer que conversou e a Dilma dizer que não conversou. Só tem um jeito: abrir a mala que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo. Sinceramente acho que o País tem coisa mais séria para discutir. O Brasil tem conversas mais sérias que gostaria de fazer, tem coisas tão mais importantes que acho uma pobreza muito grande um assunto como esse estar na pauta da política brasileira", salientou o governante brasileiro.
Questionado se a acareação resolveria as declarações contraditórias, Lula disse haver um "processo de manipulação na política brasileira", e não opinou sobre um possível encontro público entre Dilma e Lina para se saber se houve o pedido para favorecer as empresas de José Sarney. "A secretária prestou um grande serviço quando foi secretária. Sinceramente acho que esse processo de manipulação na política brasileira até agora tem mostrado que quem perde com isso é o Brasil. De qualquer forma, vocês amanhã terão a oportunidade de ver a agenda, a data, o horário, se elas se encontraram ou não. Ou poderão não ver nada", disse.
Há uma semana, o presidente Lula havia classificado as afirmações de Lina como "fantasia". "Quem construiu essa fantasia, essa história, em algum momento vai ter de dizer que foi um ledo engano. Eu duvido que a Dilma tenha mandado recado ou conversado com qualquer pessoa a esse respeito. Não faz parte da formação política da Dilma", afirmara o presidente na última semana, em Quito (Equador).
O atual chefe do Fisco, Otacílio Cartaxo, efetivado no cargo na última semana, sustenta a tese de que Lina Vieira nunca comentou com ele a suposta conversa que teria tido com a ministra Dilma e afirma que Iraneth Weiler, chefe de gabinete do secretário da Receita, continuará no cargo. Iraneth confirmou que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, foi pessoalmente à Receita Federal, no prédio do Ministério da Fazenda, para agendar o encontro de Lina com Dilma Rousseff. Tanto Dilma quanto Erenice Guerra negam ter estado com a ex-secretária da Receita para fazer o pedido pró-Sarney.