O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado, disse nesse domingo que o órgão vai analisar a hipótese de convocar os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Celso Amorim, das Relações Exteriores, para explicar o choque entre o governo brasileiro e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) por causa da pesquisa sobre explosivos nucleares feita pelo físico Dalton Girão Ellery Barroso.
A tese de doutorado de Barroso, defendida no Instituto Militar de Engenharia (IME) do Exército, aponta que o Brasil já domina o conhecimento e a tecnologia para, se quisesse, devolver o bomba atômica. Revelada com exclusividade pelo Jornal do Brasil, a pesquisa Simulação numérica de detonações termonucleares em meios híbridos de fissão-fusão implodidos pela radiação foi publicada por Barroso no livro Física dos explosivos nucleares, que despertou a reação da AIEA e provocou um choque dentro do governo. O físico desvendou a figura atômica de uma das ogivas nucleares americanas, a W-87.
"É um assunto da maior relevância e nós precisamos debater com clareza e transparências", afirmou o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), vice-presidente da comissão.
Ele disse que vai conversar com Azeredo e deverá propor, depois do feriado de 7 de Setembro, uma convocação conjunta do físico Dalton Barroso pela CRE e pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. Ele acha que o Congresso deve ouvir também os ministros e representantes da AIEA. "Não deve haver tabu", disse Mesquita.
Segundo o senador, o Congresso deve conhecer em detalhes o que há de novo nas áreas de ciência e tecnologia envolvendo energia nuclear para e valorizar os cientistas. Ele acha que o Brasil deve estimular as pesquisas para fins pacíficos.
Azaredo afirmou que a posição do ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantindo a publicação da pesquisa e refutando a interferência da AIEA, satisfaz a expectativa do Congresso e reflete o amadurecimento democrático do Brasil para lidar com a questão nuclear. O senador acha que o Brasil não pode abrir mão do conhecimento e da tecnologia, mas deve direcionar os avanços científicos para fins pacíficos. Lembra que debate sobre energia nuclear torna-se necessário diante da possibilidade de investimentos do governo para conclusão da usina Angra III, cujo funcionamento deve permitir avanços na geração de energia elétrica, medicina e outras áreas estratégicas. As dúvidas da AIEA, segundo Azeredo, podem ser justificáveis mas não devem inibir o domínio brasileiro sobre o conhecimento.
"Eu chamaria os dois lados para ouvir as posições", diz o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), titular da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, um pacifista favorável a que o Brasil domine a energia nuclear para fins pacíficos.
Membro da mesma comissão, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) acha que o Congresso deveria dar o suporte político para que as Forças Armadas possam desenvolver os arsenais militares, como fazem países como o Paquistão.
Em carta encaminhada a Amorim, respondendo os questionamentos da entidade internacional, o ministro da Defesa afirma que a publicação do livro é uma prova eloqüente de que o Brasil não desenvolve programa nuclear não autorizado. Jobim considera descabidas as suspeitas levantadas pela AIEA, sustenta que o país não realiza experimentos e, no final, banca integralmente a pesquisa de Barroso como um trabalho de natureza acadêmica.
Na entrevista, Barroso diz que a conclusão de sua pesquisa ajuda o Brasil avançar no domínio dos explosivos nucleares.