O programa Brasil Alfabetizado terá uma conta bancária para receber doações em todo o país. Em entrevista exclusiva à Radiobrás, o secretário de Erradicação do Analfabetismo, João Luiz Homem de Carvalho, disse que a demanda de alfabetização tem sido maior do que o orçamento de R$ 276 milhões, previsto para o programa.
Para o secretário, o grande interesse da sociedade em participar é a motivação que o projeto do governo tem despertado. “Com a motivação, as pessoas estão aparecendo o tempo todo para se oferecer para alfabetizar”, contou Carvalho.
Até o momento, já estão em análise no Ministério da Educação propostas de convênio que permitirão alfabetizar 2,4 milhões de pessoas, este ano. Quase a meta do ministério, que é de três milhões de jovens e adultos até o final deste ano. E, até 2006, a proposta é acabar com o analfabetismo no país, atingindo os 20 milhões de brasileiros que não sabem ler, nem escrever.
Com a conta que está sendo aberta no Banco do Brasil, a doação ficará mais fácil para as pessoas que têm vontade de contribuir, mas não sabem como fazer ou onde. Sem essa estrutura, o Brasil Alfabetizado só vinha recebendo contribuições da iniciativa privada, como a de R$ 4,5 milhões que beneficiará o Acre, feita pela Pirelli. Além da conta bancária, o Brasil Alfabetizado está organizando uma estrutura de gestão e administração que controlará a destinação dos recursos.
Outra grande doação será feita amanhã pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no valor de US$ 200 mil. João Luiz afirmou que grande parte desse recurso será investido na informatização da gestão do programa, o que permitirá um controle da execução dos convênios.
“Será um controle rígido não só do número de alfabetizados, mas de como está sendo feito isso. De repente, pode aparecer alguém colocando até gente morta para ser alfabetizada”, disse. Segundo o secretário, o sistema é parecido com o que tem sido adotado pela Previdência, que faz, por exemplo, o cruzamento de dados com os cartórios.
Homem de Carvalho disse não abrir mão do objetivo de erradicar o analfabetismo até 2006. “A alfabetização é feita, no Brasil, há décadas, mas o problema é que nunca teve uma proposta de abolição do analfabetismo, teve sempre a de fazer um pouquinho mais”, explicou.
“O meu negócio é a abolição. Eu só trabalho com a abolição, senão estou fora”, disparou o secretário, quando questionado sobre o pedido de paciência feito pelo presidente Lula ao ministro da Educação, Cristovam Buarque, no final do mês passado. O “puxão-de-orelha” foi dado durante a assinatura de um convênio do Brasil Alfabetizado com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), quando Cristovam pediu mais recursos para a educação.
“Eu vou fazer tudo para arrumar dinheiro, mas eu não sou dono do cofre e a minha função é viabilizar o programa de alfabetização. Eu tenho que apresentar ao ministro que temos condições de alfabetizar mais de 3 milhões, e ele colocará isso para o presidente”, disse João Luiz. “Tenho certeza que a gente vai tentar arrumar dinheiro”, finalizou.
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