Trinta e seis anos é muito tempo. Mesmo para um programa que, por todo esse período, se manteve líder de audiência, descontados alguns escorregões. Mas o Fantástico, da Globo, vive seus piores momentos, em queda livre no ibope.
No último domingo, o programa chegou ao fundo do poço, com 18 pontos de média. Foi a pior audiência de sua história.
A crise não é nova. Nos últimos 10 anos, o programa perdeu 30% de seus telespectadores e tem amargado quedas sucessivas, em confronto direto com outras emissoras. Em abril deste ano, o Fantástico caiu para 19 pontos e, nas últimas semanas, coxeia números similares.
O que prova que a baixa audiência não é apenas um problema interno da Globo. Pelo contrário, poucos programas procuram se reinventar tanto quanto o Fantástico, sempre com novidades, embora nem sempre de sucesso. Caso dos malogrados quadros de Daqui Pra Frente e Desafio do Alemão, entre muitos outros.
A Record exibe um pouco mais cedo seu Domingo Espetacular, uma revista desigual que "rouba" parte da audiência, muitas vezes com boas reportagens. A estreia do Programa do Gugu, no final de agosto passado, também provocou estragos e tem encostado na Globo nas últimas semanas.
Por fim, o Pânico na TV!, da Rede TV!, trouxe para a tela a agilidade do rádio e certo "non-sense" e humor "trash" que agrada os adolescentes. Com isso já chegou há tempos aos dois dígitos de ibope. Semana passada, no mesmo horário do Fantástico, a Record mordeu 15 pontos e a Rede TV!, 11.
Certamente por esses números a direção da Globo levou para sua revista dominical o Casseta & Planeta Urgente e criou o "Exagerados", numa tentativa de atrair um público mais jovem para o programa. O que, é bom lembrar, não conseguiram anteriormente com sua melancólica Central de Boatos. Segundo a direção geral de comercialização da Globo, em pesquisa de 2007, o público do Fantástico é prioritariamente adulto e das classes ABC.
Outras produções também devem ser apresentadas nas próximas semanas e, portanto, não devem resistir por mais tempo quadros como Reunião de Condomínio ¿ por definição, algo muito chato ¿, Liga das Mulheres ¿ um Casos de Família global ¿ e as reportagens sobre a vida de ex-BBBs que despontaram da merecida obscuridade para o completo anonimato.
Mais do que novas atrações, o problema de manter a audiência de um programa como o Fantástico esbarra na ideia de que é possível segurar toda a família frente à TV, o que parece só acontecer em classes sociais sem outras opções de entretenimento. Jovens podem preferir ver o Pânico, mas também estão conectados à internet. Crianças jogam "games" em plataformas variadas.
E adultos têm a opção de assistir um DVD alugado de locadoras ou mesmo um canal por assinatura, numa canibalização da TV aberta pelo cabo e pelo satélite. Com filmes, programas de auditório, revistas eletrônicas e resenhas de futebol, o domingo está paralisado há quatro décadas. É tempo de mudar.