Registram-se novos atos de violência extremista no campo. O pior ocorreu em Tracunhaém, a 65 quilômetros do Recife, onde cerca de 2 mil integrantes do MST invadiram a sede do Engenho Prado, portando além de foices e facões, coquetéis Molotov e bombas de pulverização, causando um prejuízo avaliado em R$ 1 milhão. Proibiram os bóias-frias de trabalharem, recusaram-se a falar com o superintendente regional do Incra, invadiram e incendiaram a moradia do administrador e perseguiram vigilantes e policiais que guardavam o local, ameaçando de os fazer reféns.
Como se isto não bastasse para demonstrar a crescente agressividade do MST, um dos membros de sua coordenação nacional, João Paulo Rodrigues, de 23 anos, mandou um recado ao governo - “paciência e fé têm limites” - e fez críticas à indefinição sobre os transgênicos e aos financiamentos aos pequenos produtores. E terminou com um repto à própria autoridade de Luiz Inácio Lula da Silva: “O presidente vai ter que dizer a que veio”.
Nada disso chega a ser novidade. Desde há anos, tanto em ações como em palavras, o MST há muito ultrapassou os limites da contestação e da reivindicação, praticando atos de terrorismo não só contra propriedades rurais, mas também contra próprios do governo e autoridades do setor. O presidente esperava, talvez, que, nomeando Miguel Rosseto - membro da esquerda petista que goza (ou gozava?) da confiança dos sem-terra -, pudesse aplacar a impaciência desse movimento rural para o qual tem prometido uma ampla e verdadeira reforma. Entidades representativas dos produtores rurais temiam que isso pudesse representar nitroglicerina na fogueira. E os fatos recentes justificam inteiramente seu temor.
As ações do MST têm acirrado a polarização e alimentado sua audácia e seu destempero, e o presidente vem, nas palavras de um quase-menino, a ser desafiado para dizer “a que veio”. Sem endossar sua petulância, parece, mesmo, chegada a hora de o presidente reafirmar, não apenas sua intenção e sua boa vontade, mas sua autoridade como defensor da ordem pública, sem a qual nenhum dos seus programas de mudança e de justiça social poderá ser cumprido. Nem mesmo, e principalmente, os que se referem à vida agrária e seus trabalhadores.
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