O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, apresentaram nesta terça-feira ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, uma proposta de mediação no conflito com o Irã que evitaria a aplicação de novas sanções. "Nós achamos que ainda há tempo para uma solução negociada", disse em entrevista coletiva em Washington o chanceler Celso Amorim.
Lula e Erdogan pediram a reunião com Obama durante o jantar de abertura da cúpula nuclear de Washington, na segunda-feira. O premiê turco e o presidente americano também tiveram um encontro bilateral já marcado anteriormente. Os Governos brasileiro e turco propõem que o Irã envie parte de seu urânio levemente enriquecido à Turquia que, após intercambiá-lo por combustível nuclear que receberia de países ocidentais, o mandaria de volta a Teerã.
Na reunião a três partes, que durou só 15 minutos, o presidente americano não se comprometeu a adiar as sanções que os EUA impulsionam no Conselho de Segurança da ONU, como reconheceu Amorim. O chanceler destacou, porém, que ao mesmo tempo Obama "não vê nenhum problema em que se tente uma solução negociada".
Mesmo assim, na entrevista coletiva que encerrou a cúpula, Obama insistiu que é necessário "avançar com ambição e rapidamente" com a resolução que estabelecerá as sanções e destacou que Rússia e China se incorporaram às negociações "sérias" a respeito. Os EUA precisam do apoio dos dois países, que já se mostraram reticentes a sancionar o Irã, por contarem com o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil também é membro do conselho atualmente, mas como não tem o poder de veto não pode bloquear a resolução. "Vou pressionar com toda minha energia para garantir que obtenhamos sanções fortes", disse Obama.
Antes da entrevista coletiva de Amorim, o porta-voz do Departamento de Estado americano, P.J. Crowley, insistiu que o Conselho de Segurança da ONU deve aprovar agora sanções contra o Irã, apesar da oposição de Brasil e Turquia. "Achamos que é a hora de agir", disse Crowley, que acrescentou que "pode haver um debate sobre as sanções específicas que deveriam ser adotadas".
O chanceler brasileiro assinalou que por sua boa relação, Brasil e Irã "talvez possam ajudar a encontrar uma solução que evite um círculo vicioso, como o que já ocorreu em outros casos, o mais grave o do Iraque". Amorim destacou que as sanções normalmente tendem a ter um efeito contrário ao desejado, tornando "mais rígidos os regimes e os levando a adotar medidas mais radicais".
O chanceler disse que Lula discutirá o tema em suas próximas reuniões com os outros Bric (Rússia, Índia e China) e que ele mesmo falará com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, sábado, no Brasil. Além disso, Lula visitará o Irã em 16 de maio, numa viagem já criticada por congressistas nos EUA, republicanos e democratas.
Amorim tinha previsto para hoje um encontro com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, para tratar o tema do Irã, mas a reunião acabou cancelada depois que os três líderes conversaram diretamente sobre o assunto.