A maior inspiração de Elizabeth Jhin em Escrito nas Estrelas foi o longa Asas do Desejo, do alemão Win Wenders. Na história, que se passava em Berlim após a segunda guerra, os anjos tentam confortar os mortais até que um deles se apaixona por uma trapezista. Amante de histórias encantadas, com uma arrebatadora licença poética, como Eterna Magia, última trama da autora na Globo - que capengou na audiência -, Beth Jhin tentou adaptar o gélido cenário alemão para a paisagem carioca.
Com stock shots de cantos paradisíacos da cidade, entremeados por interessantes locações no Morro Dona Marta, na Zona Sul da cidade, a trama consegue mesclar com agilidade a boa fotografia, a edição caprichada do diretor Rogério Gomes com um texto que se sustenta no que se propõe: atingir o público das seis com um elenco consistente e uma história que não precisa ser levada a sério.
No lugar dos anjos de Win Wenders, entram em cena os desencarnados Daniel, de Jayme Matarazzo, Francisca, sua mãe na trama, vivida por Cássia Kiss, e o simpático Athael, de Carlos Vereza. Tudo é possível neste mundo da fantasia criado pela autora que estreou com razoáveis 26 pontos de média. Como seguir os vivos pela cidade, sussurrar em seus ouvidos ou mesmo manter uma relação invisível com a protagonista Viviane, de Nathália Dill. Em sua primeira protagonista urbana e pobretona, a atriz diz a que veio com uma forte atuação como a mocinha batalhadora. No entanto, diante dos fenômenos sobrenaturais abordados na história, o que mais impressionou foi a coincidência com a realidade. A trama, que no primeiro capítulo fala sobre uma catastrófica enchente no Rio, estreia exatamente uma semana após a cidade ter sido inundada por um trágico temporal.
Foram nessas cenas de desespero com efeitos especiais que deu para perceber a caprichosa direção de atores. Esse cuidado extra com a atuação do elenco de apoio e dos demais atores conseguiu até fazer com que o estreante Jayme Matarazzo quase convencesse na pele do médico Daniel. Morto no primeiro capítulo, o personagem continua pela trama afora como anjo pelos luxuosos cenários bem acabados pela direção de arte e cenografia da produção.
Apesar de escorregar constantemente em diálogos recheados de lugares-comuns ou diante de porta-retratos se espatifando no chão e premonições, a trama convence no que se propõe, que é apenas trazer entretenimento para o horário de forma leve e despretensiosa. A suavidade da história também se instala na promissora dupla de vilãs atrapalhadas: Beatriz e Sofia, de Débora Falabella e Zezé Polessa. A experiência e o entrosamento das atrizes em cena já mostra que a dupla promete comédia com muitos tons acima e um pouco distante da verossimilhança.
O horário das seis permite esses excessos fantasiosos. O que não convence mesmo é mostrar Viviane, por exemplo, de Nathália Dill, se desvencilhando de quatro policiais brutamontes e armados com tanta facilidade, ou mesmo mostrar Daniel, de Jayme Matarazzo, chegando ao Rio numa ponte-aérea em um aeroporto que certamente estaria fechado para pouso e decolagem no temporal. Fora isso, é só não ligar para a abertura de gosto duvidoso.