Após oito meses vendo a vida passar - quase em câmara lenta - nas pacatas e luxuosas ruas de Búzios e do Leblon, o horário nobre da Globo finalmente ganhou fôlego. Passione, nova novela das 21h da emissora, estreou na última segunda apostando em ingredientes básicos do bom e velho folhetim. E disse ao que veio já em seu primeiro capítulo, com direito a morte, casamento, segredos revelados e promessas de grandes armações em pouco mais de uma hora de exibição. Com uma edição ágil, trama interessante e elenco impecável, o único resquício que a novela de Silvio de Abreu guarda de Viver a Vida, sua antecessora, são os insatisfatórios índices de audiência, com média de 37 pontos e picos de 40 no capítulo de estreia.
A história em si não traz grandes novidades. Fernanda Montenegro interpreta uma milionária que descobre que seu filho, dado como morto há décadas, está vivo. Na Toscana, o filho desconhecido leva uma vida tranquila ao lado de uma caricata família italiana, que esbanja uma alegria gratuita e gesticula tanto quanto ergue a voz. De olho na fortuna do novo herdeiro, um casal de belos vilões faz planos para dar um golpe na família. A utilização de clichês e personagens maniqueístas, no entanto, vira um mero detalhe frente à atuação de um elenco afinado, encabeçado pelos sempre comoventes Fernanda Montenegro, Tony Ramos e Aracy Balabanian. Já entre os atores mais novos, o destaque fica por conta de Mariana Ximenes, que interpreta com segurança a ambiciosa Clara.
Mas o elenco cheio de estrelas não é o único atrativo. Com fotografia e direção cuidadosas, a produção não economiza nos caprichosos cenários e belas paisagens, mescladas entre tomadas aéreas de São Paulo e Itália. Ao forte apelo visual soma-se uma edição dinâmica, que costura os dramas da família Gouveia, a adrenalina de uma competição de ciclismo, o caloroso núcleo italiano e alguns romances ainda incipientes. A novela também acerta na abertura, que chama a atenção pelas obras do artista plástico Vik Muniz, que utilizou 4,5 toneladas de lixo para criar imagens relacionadas aos personagens. E o empreendedor Olavo, personagem de Francisco Cuoco, enriqueceu exatamente com coleta e processamento de lixo.
Com uma história bem escrita, diálogos consistentes e uma trama com a promessa de muitos acontecimentos por capítulo, Passione tem tudo para ser um novelão à moda antiga, repleta de armações maquiavélicas, romances água com açúcar e muito drama. Tudo isso com boas doses de comédia, característica sempre presente nos trabalhos do autor Silvio de Abreu. Entre competições esportivas para cá e sotaques italianos para lá, a novela pode vir a se tornar, de fato, uma passione.
Passione - Globo - De segunda a sábado, às 21h.