Trabalho infantil

 

Opinião - 30/05/2003 - 11:48:38

 

Trabalho infantil

 

Vicente Barone .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Os números expressam a hipocrisia de uma sociedade que se engana para adoçar a consciência. O País continua a oferecer um crescente exército de reserva para o narcotráfico

Os números expressam a hipocrisia de uma sociedade que se engana para adoçar a consciência. O País continua a oferecer um crescente exército de reserva para o narcotráfico

A mais recente pesquisa Pnad/OIT mostrou que há no Brasil 1,9 milhão de crianças de 10 a 14 anos que trabalham, o mesmo ocorrendo com adolescentes entre 15 e 17 anos. Ou seja, eles, em conjunto, representam cerca de 7% do mercado de trabalho no Brasil. A legislação brasileira atual tornou-se progressivamente mais rigorosa definindo como proibido o trabalho para menores de 16 anos, exceto para aprendiz (acima de 14). Esses números são estranhos, pois expressam com clareza perplexidades e hipocrisias de uma sociedade que se engana ao aceitar tratamento oportunista de questões tão graves que comprometem irremediavelmente o futuro de várias gerações. Afinal, como podemos restringir cada vez mais o trabalho infantil - o que é teoricamente corretíssimo - se a demanda progressivamente maior de emprego por parte de crianças só evidencia que as famílias não têm outra alternativa a não ser pô-las a trabalhar para que não se destruam física e moralmente? Por outro lado, se a escolaridade aumenta e o desemprego entre adolescentes e jovens também aumenta, como aceitar a consagrada receita de que “com educação tudo se resolve?”. A verdade é que a educação é cada vez menos garantia de inserção social, pois, sendo necessária, é cada vez menos suficiente. A razão é simples: numa sociedade que não gera empregos, a escolaridade só aumenta o número de “habilitados” que disputam cada vez menos vagas disponíveis. Nossos jovens, mais atingidos que os adultos, vão ficando sem saída. Desestimulamos o estudo - oferecendo a eles uma escola pública de baixo padrão - e zelamos para aumentar as proibições ao seu trabalho precoce. As condições para o lazer e o esporte são cada vez mais raras para os filhos de famílias carentes. Enquanto isso, as redes do tráfico e do crime estão sempre prontas para o seu recrutamento com “bons empregos” e, de sobra, “emoções fortes”. Sem esquecer que, além do “ganho fácil”, portar uma arma significa rito de passagem glorioso para a adolescência. Para alguns jovens, o caos resultante do colapso do Estado e da família como estruturas supridoras de apoio social e afetivo propicia a oportunidade de entrar num paraíso de violência altamente erotizada, onde tudo é possível pelo uso da força. O quadro se complica ainda mais porque no mundo de hoje o valor “performance” define o lugar social de cada um. Enquanto não se der mais empregos e novas oportunidades de lazer e ascensão social aos jovens, continuaremos nos distraindo com campanhas e teses bem-intencionadas, que apenas adoçam as consciências.

Os números expressam a hipocrisia de uma sociedade que se engana para adoçar a consciência. O País continua a oferecer um crescente exército de reserva para o narcotráfico

Os números expressam a hipocrisia de uma sociedade que se engana para adoçar a consciência. O País continua a oferecer um crescente exército de reserva para o narcotráfico

Os números expressam a hipocrisia de uma sociedade que se engana para adoçar a consciência. O País continua a oferecer um crescente exército de reserva para o narcotráfico

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