Especial Eleições 2010
Confira na íntegra o discurso de Marina Silva
Companheiros, companheiras, podem se sentar. Muito obrigada. Obrigada às minhas crianças e aos idosos. Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus por estarmos aqui, e agradecer, de antemão, a todos os que estão aqui e os que nos acompanham pela internet - são milhares, neste momento, no Brasil e em vários lugares do mundo. Cumprimento, de um modo especial, meu querido amigo, companheiro que aceitou o desafio de junto comigo estar nessa jornada rumo à presidência da República Federativa do Brasil, Guilherme Leal. Muito obrigada, Guilherme. Essa sua falta de jeito com a política só aumenta o nosso respeito por quem és e pelo que vai fazer como político, junto comigo, lá na Presidência da República.
Quando se vê um empresário muito tinhoso, muito acostumado à linguagem da política, é porque está nela há muito, mas, talvez, de forma repetida. Quem faz política com "P" maiúsculo não treina como falar, apenas faz como gostaria de ver os políticos fazendo. Foi isso o que você fez. Obrigada, Guilherme. O Guilherme fez uma fala muito bonita dizendo que, na lógica do século 20, nós não teríamos nos encontrado. De fato ele tem razão. Mas eu queria aqui fazer uma revelação: o empresário Guilherme Leal, que achamos sempre que ele é paulista, é filho de paraenses, comedor de açaí. Então, o nosso encontro também está nas origens, também está nas raízes que alimentam esse nosso coração. Quero cumprimentar o presidente do meu partido, o nosso companheiro Luiz França Penna. Muito obrigada Penna. Vocês, do Partido Verde, que construíram esse partido, durante esses 24 anos, para que hoje pudéssemos ser recebidos, partidários e não-partidários, nesta festa que é de todos os brasileiros.
Cumprimento, de modo especial, uma pessoa que, para mim, é muito significativa, altamente significativa: meu pai, o velho Pedro Agostinho. Fique de pé, papai. Fique de pé um pouquinho, papai, Sr. Pedro Augusto da Silva. Obrigada papai, muito obrigada por você estar aqui. Quero cumprimentar esse homem, ele é responsável, na origem, por tudo o que está acontecendo. Ele deve se lembrar: no dia em que, com 16 anos, ainda com saúde frágil, não é para aumentar a pressão, tem 82 anos, com carinha de 81 - ele não vai gostar disso. Lembra papai? Pai, vou estudar porque o meu sonho é de ser freira. Você quer ir agora ou na semana que vem? Se você não tivesse essa visão, essa cabeça, esse coração, eu, hoje, não estaria ocupando este lugar. Então, você, na origem, junto com todos aqueles que me ajudaram e a força do nosso Deus, também é responsável por isso. Agradeço à minha querida família, o meu sogro, sr. Paulo, que está aqui junto com a minha sogra, dona Neide, que virou uma quase mãe ¿ perdi minha mãe aos 14 anos. Daí ser tão difícil esse homem ter deixado a sua segunda filha, a mais velha já havia se casado, deixar seus seis irmãos e ir para essa abençoada aventura que nos faz estar aqui.
Agradeço ao meu marido Fábio, à minha filha Shalon, ao meu filho Danilo, à minha filha Moara, à minha filha Maiara. Vocês são a principal assistência e sustentação de tudo o que sou, de tudo que faço. Obrigada por esse amor, por esse cuidado e, podem ter certeza, por essa doação - essa é uma família que se doa para que esse "palitinho", em plena forma, esteja se colocando neste lugar de mantenedora de utopias. Agradeço às minhas irmãs Lúcia e Dóia que estão aqui representando as outras seis irmãs, somos sete irmãs. Ao meu irmão Arleir, o único homem da família e, por isso, um sofredor no meio de mulheres tão fortes. É um sobrevivente. Agradeço aos meus sobrinhos presentes, o Eudes, o Tiago, o André, a Andréia, enfim, a todos eles. Eles vieram representar uma família que é enorme - família de nordestinos não para de crescer nunca, é pior do que preá.
Enfim, saúdo meus companheiros de partido, meus companheiros do Partido Verde. Cumprimento Alfredo Sirkis, que fez esse lindo discurso. Sirkis, muito obrigada, você até agora trouxe essa pré-campanha, como coordenador, e me disse que quando esse período chegasse você iria assumir essa tarefa no Rio de Janeiro, como coordenador e candidato a deputado federal que, se Deus quiser, será eleito. Cumprimento meu companheiro, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro, sempre digo: meu professor Fernando Gabeira. Obrigada, Gabeira, por você ser quem é. Cumprimento um dos idealizadores persistente, do convite para que eu entrasse no PV, quase inconveniente, meu companheiro candidato ao governo de Pernambuco, Xavier. Cumprimento as mulheres do Partido Verde na pessoa de minha companheira, Micarla, que fez esse lindo discurso. Obrigada, Micarla. Você é a primeira mulher do Partido Verde de capital da América Latina e Caribe. Você não é pouca coisa. Marcos Antônio Mroz, meu companheiro Fábio Feldman que representam, junto com o Gabeira, todos os candidatos a governador.
Cumprimento aqueles que entraram no PV junto comigo, simbolicamente representados nas pessoas de Luciano Zica, Adriana Ramos e Pedro Ivo. Agradeço e cumprimento as pessoas que pertencem a outros partidos, que sei temos muitos aqui. Cumprimento o coordenador desta campanha a partir de agora, meu companheiro do Ministério do Meio Ambiente que, com trajetórias igualmente diferentes, mas com o mesmo DNA do socioambientalismo. Ele me ajudou no Ministério do Meio Ambiente: João Paulo Capobianco. Obrigada, Capô. Cumprimento todas as mulheres na pessoa de minha recém-amiga, essa descoberta maravilhosa que cuida do programa de educação, Neca Setúbal, Agradeço a você, Neca, por tudo isso. Ricardo Young agradeço a você juntamente com o Álvaro, um grupo de empresários que assumiram a sustentabilidade como parte do seu envolvimento de vida empresarial com responsabilidade ambiental, social, colocando a ética como parte do seu fazer empresarial. Cumprimento meus companheiros da sociedade civil, associações, sindicatos, associações não-governamentais. Cumprimento também aqueles que representam o mundo acadêmico; os gestores públicos na pessoa do Eduardo Jorge. Agradeço a presença de todos os trabalhadores e trabalhadoras, profissionais liberais, à juventude tão bem representada aqui pelo idealizador do Movimento Marina Silva, Eduardo Rombauer. Obrigada, Dudu. Você, como todo jovem, tem a ousadia de antecipar o futuro. Agradeço aos intelectuais na pessoa do doutor Paulo Sandroni, Eduardo Viola, José Eli da Veiga, Beto Ricardo e tantos outros que não tenho como mencionar.
Agradeço e cumprimento todas as crianças que me homenagearam - inclusive aquele jovem, que sentou na cadeira do vice-presidente, já colocando a que ele veio, na pessoa do Daniel, filho do Carlos Vicente, do Ives e da Iara. Quero cumprimentar todas as crianças. Uma saudação especial às pessoas que não estão presentes, mas que, igualmente, são importantes na minha vida: o bispo Dom Moacir Grecchi, alguém que foi responsável não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida. Quero agradecer meus pastores, o pastor Sóstenes Apolo e a Pastora Valnice, a pastora Eliana, na pessoa deles, os que me dão sustentação, apoio espiritual e que me ensinaram que neste País laico a grande bênção é sermos um Estado laico para que possamos respeitar todos os que têm crença, todos os que têm crença diferente e todos aqueles que não têm. Isto é, de fato, uma grande conquista da nossa democracia. Por último, saúdo os 190 milhões de brasileiras e brasileiros, de todos os lugares, de todas as cores, de todas as raças, de todas as formas e de todas as graças deste Brasil diverso que temos, e que nos dá orgulho de sermos brasileiros.
Meus irmãos e irmãs estamos aqui para um desafio, um desafio que deve, em primeiro lugar, colocar quais são as referências que me trazem e que nos fazem chegar até aqui. Não quero, Gabeira, Sirkis, Guilherme, meus companheiros e companheiras, fazer um discurso em que vocês não estejam incluídos, os que estão aqui, os que estão nos assistindo e os que ainda vão nos assistir. Baseio-me em alguns referenciais. O primeiro deles - aprendi com o bispo Dom Mauro Morelli - lutar pelos que não são, pelos que não sabem, pelos que não podem, pelos que não têm, para que um dia saibam, possam e tenham. Outro referencial, penso no da juventude. Sempre digo que os jovens não se envolvem em projeto de poder pelo poder, Shalon, você que é a minha filha mais velha. Os jovens, as crianças se envolvem onde há o cheiro da mudança, da transformação; que é a transformação responsável baseada em engenharia, processos e estruturas concretas, mas não abrem mão de sonhar para ver mudar o futuro que a gente quer cada vez melhor para nossos filhos e netos. Eu quero agradecer a essa juventude que me trouxe até aqui, como sendo os primeiros a terem sonhado com essa ideia, Guilherme, de termos, hoje, uma candidatura. Este projeto está em cima de alguns pontos - não posso deixar de fazer, como professora de ensino médio, sempre como faço, primeiro, uma contextualização.
Por isso, vou partir do Brasil que hoje temos, um Brasil que não precisa olvidar suas conquistas, mas também não precisa fazer uma apologia cega delas, esquecendo que ainda temos muitos desafios e de que ainda temos muitos erros a serem corrigidos. Temos que reconhecer que o Brasil dos últimos anos foi capaz de grandes conquistas, a começar pela conquista da democracia, vinte anos de democracia reconquistada e estabilizada na realidade do Brasil, dezesseis anos em que este País tem lutado por estabilidade econômica e conseguiu fazer com que tivéssemos uma situação em que há controle de inflação, em que a crise que atravessamos, ainda que tenha nos afetado, não nos abalou. E estamos de pé, crescendo cerca de 9% em relação ao ano passado, e com uma perspectiva boa de crescimento, ainda que ele precise ser ressignificado para que não continuemos no mesmo diapasão do desenvolvimento pelo desenvolvimento, do crescimento pelo crescimento.
Essa é uma conquista que não podemos esquecer. Temos que lembrar que temos uma sociedade civil que foi capaz de se tornar rigorosa, capaz de cobrar, capaz de apresentar propostas, de ajudar a implementá-las e de corrigi-las quando não estão no rumo certo.
Essa sociedade civil, eu diria, cresceu juntamente com os formadores de opinião e foi capaz de construir algo nesses últimos 30 anos que irá surpreender a si mesma e surpreender o Brasil, surpreenderá, principalmente, aqueles que ficaram com a velha política, com uma única forma de tentar dar resposta para a vida das pessoas e para o Brasil.
Temos ainda outra conquista: a redução da pobreza. Vinte e cinco milhões de pessoas saíram da linha da pobreza nesses últimos oito anos. Isso não é muita coisa, não é pouca coisa. Não preciso, em hipótese alguma, porque sou candidata, agora, por outro partido, numa outra articulação, negar esse feito e essa grande conquista do operário Luiz Inácio Lula da Silva, que quebrou o paradigma. Antigamente se dizia: é preciso crescer para depois distribuir o bolo. O Lula mostrou que foi distribuindo que continuamos e que crescemos. Então, essa conquista não pode ser olvidada.
Eu não poderia deixar de falar do que eu disse, os desafios, os problemas, os erros ainda a serem corrigidos. Quais são eles? O erro da desigualdade e de oportunidades. Esse país gigante ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Sei o que é ser analfabeto, o que é ver pela metade, escutar pela metade, sei o que é ter chegado em Rio Branco, com 16 anos, Guilherme, e ficar mais de vinte minutos olhando para um lado, olhando para o outro, para perguntar qual era o ônibus que ia para a Estação Experimental. Por que eu estava perguntando e por que eu tinha vergonha de fazer essa pergunta? A placa dizia Estação Experimental, mas para quem não sabia ler, a placa e nada era a mesma coisa. Tomei coragem e perguntei para um vendedor de rua: qual é o ônibus que se pega para ir à Estação Experimental? Obviamente, ele me olhou, sabendo que pela minha indumentária, pelas minhas mãozinhas sujas da fumaça de fazer o látex que fica preta como um carvão, ele sabia que eu era uma menina analfabeta do seringal.
Este país ainda tem desigualdade de oportunidades e ainda tem 18% dos seus jovens analfabetos. Este país ainda está com estagnação da qualidade do ensino. Quarenta por cento das crianças que entram no ensino fundamental não conseguem chegar até a oitava série. Precisamos superar este desafio. Justiça seja feita. Hoje, temos a sensibilidade de 100% das nossas crianças irem para a escola, mas a escola precisa ser criativa, produtiva, precisa valorizar os professores, precisa dar formação continuada, precisa valorizá-los econômica e simbolicamente para que sintamos orgulho de dar aulas. Este desafio ainda não foi superado no Brasil. Ainda temos um país que dilapida o seu imenso patrimônio natural. São milhões e milhões de hectares de florestas destruídas, são cem milhões de hectares de terras de áreas degradadas. Isto precisa ser corrigido, além de outras mazelas que precisamos cuidar. Neste momento que, ao invés de olhar para a floresta, para a biodiversidade, para os recursos hídricos, para as áreas que já foram degradadas, assumimos o compromisso de, com os empresários, com os trabalhadores, com o cidadão, com os cientistas, com os servidores públicos deste país, com os jovens e com todos ao que se dispõem em recuperarmos esse prejuízo.
As pessoas estão discutindo no Congresso como flexibilizar o Código Florestal para perdoar 40 milhões hectares de áreas devastadas ilegalmente. Não queremos isso para o Brasil. Não podemos esquecer de dar uma resposta para isso. Quando estamos aqui para reconhecer os acertos, temos que estar também para reconhecer os erros e os grandes desafios que temos pela frente.
Por último, em termos de desequilíbrio, temos um mundo em que as grandes cidades vivem um verdadeiro caos urbano. É só pensar em como mora a maioria dos pobres, sujeitos a todo o tipo de sofrimento, de falta de segurança e, ainda, vendo sua vidas serem ceifadas nos momentos das chuvas e das enchentes, pelos desastres ambientais; das pessoas que, como foi dito, para chegar ao trabalho levam horas, para voltar para casa, para o repouso, para o local de estudar, levam o mesmo tanto ou mais de tempo. Temos um desafio com as cidades: o da mobilidade, o de termos um ambiente saudável, onde uma política séria de cuidado e de combate aos graves problemas da insegurança ambiental façam com que olhemos para os problemas que estão acontecendo, hoje, no Brasil, não como sendo naturais, porque, em 2007, cerca de dois milhões e meio de pessoas foram afetadas pelas chuvas e pelos desabamentos. Em 2009, foram cinco milhões e meio. Dá para continuar tratando isso como um problema natural? Não dá. É falta de prevenção, é falta de estratégia, é falta de ética e de visão para proteger essas pessoas que vivem em condições tão frágeis.
Feito o diagnóstico, eu gostaria de falar mais algumas questões. Reiteramos várias vezes que estamos juntos pelo Brasil que queremos. Gostei muito desse nosso slogan, dessa nossa frase convocatória. Por que gostei? "Juntos pelo Brasil que queremos": as pessoas têm cobrado a mim e ao Guilherme, dos nossos apoiadores de campanha, enfim, dos nossos simpatizantes, que não temos política de aliança - pensando as políticas de aliança apenas como o velho cálculo pragmático: quem tem mais palanque, quem tem mais recursos, quem acha que tem mais votos porque se sente dono dos votos, então, diz a si mesmo, façamos um acordo, uma aliança e vamos dizer para o povo: fique em casa que, agora, vamos debater o que interessa a nós e, no dia 3 de outubro, vocês votem naqueles que decidirmos serem os melhores para vocês. Não temos esse tipo de aliança. Queremos sim fazer alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os empresários, com os jovens, com as mulheres, com os idosos, com os índios, com os negros, com todos os brasileiros e brasileiras.
Este palanque está dividido em duas partes e, no meio, há um sanduíche. Isso é um símbolo. Não adianta achar que vai olhar só para trás, não tem como olhar só para frente. É preciso olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Para trás, para aprender com os erros do passado e para consolidar as conquistas desse passado; para a frente, para não repetir os erros e para conquistar aquilo que ainda não foi conquistado. Por isso que, simbolicamente, estamos assim. Não há como olhar só para o passado ou só para o futuro, tem que ser para as duas coisas, e isso é perfeitamente possível. Por que estamos aqui, homens, mulheres, jovens, todos? Gostei muito de ter aqui o meu amigo Leonardo Boff. Obrigada, Leonardo, sei o sacrifício que fez para vir aqui, veio de aviãozinho. O Tiago ¿ esses dois homens de barba branca, de cabelos brancos, vieram nos prestar um pouco de suas sabedorias e alegrias, com a espiritualidade, a filosofia e a poesia.
Temos aqui todas as coisas. Temos aqueles que põem a mão na mó e sabem dela tirar o pó do mais fino trigo para alimentar este país, como é o empresário Guilherme Leal. Estamos ricos dessa diversidade. Nossa aliança é de novo tipo. Por isso, estarmos ¿juntos pelo Brasil que queremos¿ é muito importante. O Brasil da economia de baixo carbono. Um dia desses um jornalista brincou comigo: tem-se que fazer um dicionário, o ¿marinês¿, fizeram até uma matéria muito engraçada sobre essa estória do ¿marinês¿, mas se não criarmos o novo na linguagem, na cultura, nos processos e nas estruturas, vamos ficar no mesmo lugar. É por isso que o mundo inteiro fala de economia de baixo carbono. O que é isso? É uma economia que não tem que ter tanta emissão de CO2 para poder produzir a energia, o arroz, o feijão, para poder fazer com que o ônibus chegue até seu trabalho. A economia de baixo carbono é aquela que é capaz de produzir mais utilizando e destruindo cada vez menos os nossos recursos naturais.
Este é o Brasil que queremos. Um Brasil que tenha uma educação de qualidade, que seja colocada como a prioridade das prioridades. Como já falei anteriormente: isso é para mim um compromisso visceral de vida ¿ hoje estou aqui graças a Deus, aos que me ajudaram e à educação. Ela precisa ser mais do que um direito, precisa ser uma força alavancadora da economia, alavancadora do conhecimento, da inovação, da tecnologia, do que faz melhorar o presente e sonhar que o futuro pode ser cada vez melhor. Isso a gente consegue com a educação. Sei que precisamos continuar enfrentando as desigualdades. Os 25 milhões que saíram da linha da pobreza já é um grande feito. Sei disso porque fui vice-presidente da Comissão de Combate à Pobreza e conheci os lugares mais pobres deste país. Foi, ali, que começou a surgir o Bolsa Família. Hoje, tenho a felicidade de ter o economista Ricardo Paes de Barros, que não está presente, porque é quinta-feira, está trabalhando no Ipea, liderando um programa social que chamamos Programa Social de Terceira Geração, que cria oportunidades para que todos possam desenvolver suas potencialidades. Todos nós as temos, o que nos faltam são as oportunidades.
Foi graças às frestas da educação que minha vida mudou, foi graças à educação de qualidade que um filho de classe média paulista, vindo de uma boa universidade federal, a USP, tornou-se um dos empresários mais prósperos do Brasil. Isso não se constitui ainda uma regra, foi uma exceção. Não estamos aqui exibindo nossas trajetórias para dizer como dizem os conservadores, os reacionários: "Olha como nós vencemos? Se for trabalhador, se for interessado, se não for preguiçoso, vai vencer". Isso não é verdade, é uma agulha no palheiro que passa por essa fresta. Ele, com o FGTS dele, lá, na garagem da casa dele ¿ olha, gente, cuidado, não vão todos saírem sacando todo o FGTS e botando uma empresa de cosméticos na garagem para não acabar com o cabelo dos outros por aí, tem uma ciência por trás disso, é só uma brincadeira. É isso que fez nossas trajetórias se encontrarem agora: igualdade de oportunidades para as pessoas, política social de terceira geração, saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda e, agora, vamos para um bom programa que mobiliza a sociedade brasileira, porque, junto com essa política, terá que vir um outro tipo de Estado, sair da ideia de Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres; é com os pobres que temos que fazer.
O Bolsa Família está nos ensinando isso, vamos aprofundar aquilo que chamamos de programa de terceira geração. Queremos ser um Brasil próspero, um Brasil sustentável em todas as suas dimensões, na sua dimensão econômica, social, cultural, política, na sua dimensão ética e na sua dimensão estética - porque não dizer? Quero homenagear na pessoa do Hélio e do André Danilo, a diversidade cultural deste país. Não temos que ter medo da diversidade, da liberdade de ideias, da liberdade de expressão, mas a expressão de todas as idéias para que não incorramos no erro de que o que pode se expressar são apenas algumas ideias. Todas as ideias devem ser respeitadas, debatidas democraticamente.
As diretrizes do programa de governo que temos - não vou cansar vocês, há uma publicação que todos receberão -, ainda não é o programa, são apenas as diretrizes. A partir daqui vamos abrir um grande debate. Os meios modernos de comunicação permitem que possamos, mais do que em nossas reuniões partidárias, do grupo técnico, onde os economistas, os educadores, onde as pessoas que estão ajudando a fazer o Programa de Governo, como o Tarso, Sandroni, Neca e tantos outros, além desses, vocês também vão poder participar sugerindo ideias, inclusive como fez o Presidente Obama, não é? Temos uma inspiração nessa aprendizagem.
Vou citar apenas as diretrizes: política cidadã, baseada em princípios e valores é o primeiro ponto; educação para a qualidade de vida, para formar os cidadãos e cidadãs de uma sociedade que cada vez mais se organiza em rede; economia sustentável, fazendo com que juntemos o melhor da tradição ao melhor da modernidade para dar as respostas, para produzir o emprego, a habitação, a energia, a infraestrutura, a arte e a cultura do Brasil que a gente quer; terceira geração de programas sociais. Qualidade de vida e bem-estar para todos os brasileiros.
Meus companheiros e companheiras, estou fazendo uma mistura desse roteiro para fugir da tentação de ler, porque as diretrizes estão muito bem organizadas, muito bem feitas - Sirkis e Capô lideraram esse processo, juntamente com o Tasso, Pedro Leitão e tantos outros, mas, para honrar o compromisso de vocês, fiz uma negociação com o roteiro, atendendo a um apelo do Sirkis que diz o tempo todo: "Pelo amor de Deus, não leia, faça um discurso de improviso". Confesso que se eu fosse ler seria mil vez pior do que aconteceu com o meu amigo Guilherme Leal, que, muito corretamente, disse para vocês que está se iniciando. Quero mais é agradecer.
Quem vem de onde vim, quem tem registrado na alma, no corpo, na memória, tantas coisas, tantas estórias e estórias, já fica agradecida só por estar aqui olhando para vocês. Enquanto falavam os nossos apoiadores, simbolizando nossa aliança, fiquei pensando: que convenção comportada! Parece que estamos em uma sala de conferência, vem o Hélio e faz a conferência dele, vem o Leonardo, o André Danilo, o Álvaro, o Dudu, a Neca, todos que falaram aqui. Depois vem uma segunda bateria, aqueles que fazem uma espécie de conferência política, e aí entra o Gabeira, o Sirkis, a Micarla, o Guilherme e agora eu. Por que será?
Que coisa maravilhosa, geralmente nas convenções é um barulho danado, as pessoas nem querem ouvir o que os candidatos estão dizendo, basta levantar a bandeira, basta aplaudir. Vocês estão prestando atenção, vocês estão mais do que vendo, vocês estão percebendo, estão mais do que escutando, estão compreendendo a urgência e a emergência de que este Brasil não pode mais ser adiado para amanhã. Ele começa agora. É por isso que não vamos aceitar o veredito do plebiscito. Não há veredito. Ele vai ser revogado pelo povo brasileiro, vai se entregar por inteiro ao Brasil que a gente quer. Muito obrigada. Para esta cabocla, já é muita coisa.
Companheiros, vou concluir. Eu havia perguntado para os meus assessores: o que é um discurso razoável? Eles disseram: 30 minutos. Eu disse: 40 minutos. Eles disseram: 50. E eu já estou com medo de ter passado, não quero aqui descumprir o trato, porque esse auditório é alugado e tem horário para acabar. Obrigada por estarem aqui.
Fico olhando, Xavier, aquela Marina gordinha que foi para o carnaval com samba no pé, não sei como conseguiu rebolar, não tenho tantas reservas cambiais como ela, mas espero que todos vocês me emprestem suas reservas - alguns até têm demais, cuidado - sua força, sua energia. O pessoal diz: vocês não têm muito dinheiro. Eu disse: não custa caro um palanque no coração. Um palanque no coração faz com que o palhaço suba aqui e faça seu improviso, criando uma situação, Zequinha. Eu queria aqui dizer, na tua pessoa e do nosso líder, o Edson Duarte, que vocês têm feito uma luta de gigantes na defesa na defesa do Código Florestal. Obrigada, Zequinha, obrigada Fábio Feldmann, por você terem colocado o artigo 225 que protege os rios, as florestas, a terra, o ar, e tudo o que nela há.
O Brasil, nos últimos 16 anos, teve a oportunidade de ter como presidente da República duas pessoas profundamente marcadas por suas vidas e trajetórias públicas. O primeiro, um sociólogo bem sucedido, um homem filho da cátedra brasileira que se dispôs a servir o País num trincado e difícil terreno da política, onde poucos sobrevivem à velha lógica da "dita" e da "desdita", mas com o Plano Real pôde dizer muita coisa, além do que precisamos corrigir, aquilo que precisa ser de fato desdito.
O segundo, um operário. Sobrevivente das mazelas do Brasil e de si mesmo, que se dispôs, a partir de suas próprias raízes, a alimentar e sustentar, por mais de duas décadas, o Brasil, com esperanças e sonhos, até ver a mesa posta das realidades mais expostas em dúvidas acertos e erros. Esses foram os presidentes Lula e Fernando Henrique, que não tenho problema de reconhecer e de criticar.
Fiquei no governo durante cinco anos, nunca fiz um discurso fácil para o presidente dizendo: sim senhor, sim senhor, quando eu achava que o prejudicava e prejudicava o Brasil e prejudicava aquilo que são os interesses estratégicos da gestão pública, mas nunca me neguei a construir as melhores soluções para ajudá-los a fazer com que o Brasil saísse de 27 mil quilômetros quadrados de floresta devastada para sete mil no ano passado. Agradeço por ter feito parte desse governo.
Não posso deixar de dizer para vocês que estou aqui sem uma dorzinha no coração. É claro que estou. Sei que neste momento está tendo a convenção do Jorge, do Tião, dos meus companheiros de luta. Peço a Deus que eles continuem vitoriosos. Estamos separados momentaneamente, mas vamos nos encontrar no segundo turno, se Deus quiser. Eu disse que este país foi marcado pela trajetória de dois homens, um da cátedra e o outro da luta operária, que simbolizam a democracia brasileira. Quero agora falar para vocês uma coisa que fiz, para terminar aqui. Que marcas o povo brasileiro quer que tenha o próximo presidente ou a futura presidenta do Brasil? Que marcas dever ter? Essa resposta, por inteiro, só o povo brasileiro poderá dizer quando terminarem as eleições.
Não podemos ser ansiosos, não temos como entrar no coração do povo, deixemos que ele encante, se aquebrante, faça de novo tudo novo e dê a resposta no final das eleições. Enquanto o povo debate, dialoga, converge, diverge, se afasta, se junta e coliga, permitam só que, no afã de ajudarem suas decisões, lhes diga: Que marcas trago no peito? Que marcas trago nas mãos? Que marcas trago da condição feminina? Que marcas trago do chão? Que marcas trago das matas? Que marcas trago das atas, dos registros, dos porões? Que marcas trago em meus olhos e em meus sonhos, vontade, medo e paixões? Que marcas trago das cidades de encontro e separação? Que marcas trago da fé de quem crê para ver o quão este Brasil será gigante também pelas nossas mãos?
Por fim, que o coração que povo brasileiro quer ver dirigindo a República Federativa do Brasil, a partir do dia 1º de janeiro de 2011, seja o coração dos 190 milhões de brasileiros guiados por suas próprias decisões. Essas marcas, esses registros, é o quero que levem desta convenção.
Eu te agradeço, Guilherme, porque você está aqui. Concluo dando um testemunho: tenho um amigo muito importante, é quase um irmão, meio filho, meio irmão, o Binho, o governador do Acre. O Binho o Fábio, meu marido, conhece muito bem, trabalha com ele, é seu secretário. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida. Era um menino de classe média alta e eu uma menina igrejeira da comunidade de base que me vestia mal. Achavam que eu me vestia mal, eu me achava a maior charmosa, nos meus vestidinhos de chita que minha mãe fazia e achava que eu era tão bonita, mas o pessoal achava que eu era feia.
O Binho me pegou pela mão e me ensinou a transitar em lugares que eu não conseguia entrar sozinha, me ajudou a comprar os livros, me trazia para os congressos de juventude, essas coisas que o Eduardo e o pessoal aqui continuam fazendo. Agradeço imensamente a tudo o que o Binho me ensinou.
Estou aqui, agora, com 52 anos. A exemplo do que o Binho fez, lá no passado, quando me ensinou o que era música popular brasileira, sentou no chão comigo, botou o disco e foi me ensinar os vários gêneros de música do Brasil, porque eu só conhecia o forró e a música caipira. Foi o mediador cultural para mim.
Agora estou aqui com um novo mediador cultural, aos 52 anos, o empresário Guilherme Leal. Estamos fazendo esse par político. Ele está me ensinando muitas coisas, diz que está aprendendo muito comigo, mas a maior aprendizagem que temos é a aprendizagem com o Brasil. Estou muito feliz de estarmos aqui.
Que cada um de vocês possa levar o compromisso de estarmos juntos pelo Brasil que queremos. Que cada um que está nos assistindo pela internet possa assumir o compromisso pelo Brasil que queremos. Que cada homem, que cada mulher, que têm fé, possam rezar, os que não têm, que possam torcer para que a gente possa fazer com que, no dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil. Um grande abraço, um beijo no coração de vocês.
Confira na íntegra do discurso de José Serra
Caro presidente Sérgio Guerra, presidentes de partidos aliados, convencionais do PSDB de todo o Brasil.
Começo meu discurso dizendo sim. Sim, aceito sua indicação para ser candidato a presidente da República.
Aceito a responsabilidade de liderar nosso partido e nossa aliança até a vitória na eleição deste ano.
Meu muito obrigado a todos vocês, que vieram de todo o Brasil para me fortalecer com seu apoio e seu carinho. Obrigado, do fundo do coração.
Fizemos esta convenção na Bahia porque ela é um dos grandes retratos do que somos como povo. Da nossa diversidade, da mistura de raças, origens e etnias que fizeram do brasileiro um ser humano único. Na tolerância, na união, na alegria, na criatividade, na coragem, na obstinação, na vontade, na generosidade com o próximo.
Na esperança no futuro. Assim são os brasileiros.
Hoje, estamos na véspera de um dia especial. É véspera de Santo Antônio, patrono do Farol da Barra, nome de um dos meus netos. Santo Antonio é Ogum, guerreiro valente e Orixá da Lei, intransigente no cumprimento dos princípios e das verdades eternas.
Vamos falar disso. Falar de nossos valores, dos meus valores.
Acredito na democracia ¿ e isso não é uma crença de ocasião. Muitos políticos ou partidos que se apresentam como democratas, desdenham a democracia nas suas ações diárias. Mas, ao contrário de adversários políticos, para mim o compromisso com a democracia não é tático, não é instrumental. É um valor permanente. Inegociável.
Acredito que a democracia é o único caminho para que as pessoas em geral, e os trabalhadores em particular, possam lutar para melhorar de vida. Não é com o menosprezo ao Estado de Direito e às liberdades que vamos obter mais justiça social duradoura. Não há justiça sem democracia, assim como não há democracia sem justiça.
Acredito na liberdade de imprensa, que não deve ser intimidada, pressionada pelo governo, ou patrulhada por partidos e movimentos organizados que só representam a si próprios, financiados pelo aparelho estatal. Não aceito patrulha de idéias ¿ nem azul, nem vermelha. A sociedade é multicolorida, multifacetada, plural. E assim deve ser.
Acredito na liberdade de organização social ¿ que trabalhadores e setores da sociedade se agrupem para defender interesses legítimos, não para que suas entidades sirvam como correia de transmissão de esquemas de poder. Organizações pelegas e sustentadas com dinheiro público devem ser vistas como de fato são: anomalias.
Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou pra trás há mais de 300 anos. Luis XIV achava que o estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim.
Acredito que a oposição deve ser considerada como competidora, adversária, e não como inimiga da pátria. E, num regime democrático, jamais deve ser intimidada e sofrer tentativa de aniquilação pelo uso maciço do aparelho e das finanças do Estado.
Acredito que a disputa partidária e eleitoral não deve sobrepor-se aos interesses do Brasil e dos brasileiros. Somos irmãos na pátria e, juntos, temos obrigação de construir um País melhor. Eu sempre agi assim. Sempre acreditei no patriotismo democrático e adotei a colaboração de quem tinha o que somar, independente da carteirinha partidária.
Acredito nos direitos humanos, dentro do Brasil e no mundo. Não devemos elogiar continuamente ditadores em todos os cantos do planeta, só porque são aliados eventuais do partido de governo. Não concordo com a repressão violenta das idéias, a tortura, o encarceramento por ideologia, o esmagamento de quem pensa diferente.
Acredito no Congresso Nacional como a principal arena do debate e do entendimento político, da negociação responsável sobre as novas leis, e não como arena de mensalões, compra de votos e de silêncios.
Acredito no valor da Justiça independente, que obedece, mas não faz as leis e é guardiã do nosso Estado de Direito. E prezo as instituições que controlam o Poder Executivo, como os Tribunais de Contas e o Ministério Público, que nunca vão ser aprimoradas por ataques sistemáticos de governos que, na verdade, não querem ser controlados.
Eu acredito nos servidores públicos e nos técnicos e trabalhadores de empresas estatais, que são vítimas do loteamento político, de chefias nomeadas por partidos ou frações de partidos, por motivos pouco confessáveis, males esses que chegaram até as agências reguladoras.
Acredito que são os homens que corrompem o poder e não o poder aos homens. Quem justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que outros fizeram, ou que foi levado a isso pelas circunstâncias, deve merecer o repúdio da sociedade. São os neo-corruptos.
Para mim está claro que honestidade não é programa de governo, mas sim uma obrigação de quem está na vida pública e lida com o dinheiro dos contribuintes. Sem contar as receitas das empresas públicas, os governos no Brasil arrecadaram 500 bilhões de reais até o início de junho. No mesmo momento, o governo federal anunciava cortes nos gastos de Saúde e Educação e desacelerava as obras da transposição do São Francisco em Pernambuco e na Paraíba, gerando desemprego.Isso mostra simplesmente que o dinheiro público está sendo mal gasto.
Meus amigos e minhas amigas, gente de todo o Brasil que nos acompanha neste momento. Vamos falar claro: Não tenho esquemas, não tenho máquinas oficiais, não tenho patotas corporativas, não tenho padrinhos, não tenho esquadrões de militantes pagos com dinheiro público. Tenho apenas a minha história de vida, minha biografia e minhas idéias. E o apoio de vocês que me conhecem e compartilham minhas crenças.
Venho de uma família pobre. Vim de baixo. Sempre falei pouco disso, e nunca com o objetivo de legitimar meus atos ou de inflar o mérito eventual dos meus progressos pessoais ou de minhas ações como político.
Eu sou o que sou. Sem disfarces e sem truques. Tenho uma cara só e uma só biografia. E é assim que eu sou, é assim que eu vou me expor ao Brasil.
O que eu vivi na minha infância, na minha adolescência, no movimento estudantil, no exílio, nas perseguições que sofri, nas universidades, no Congresso, nos governos de que participei ou chefiei, carrego comigo cotidianamente. Não tenho mal entendidos com meu passado. Nada me subiu à cabeça, nada tenho a disfarçar.
Minha moral, minha índole, minhas convicções, minha capacidade de indignar-me diante das injustiças e da estupidez e até meu bom humor -acreditem - se formaram em meio ao povo pobre de um bairro operário.
Meu pai foi um camponês, analfabeto até os 20 anos de idade. Depois, foi vendedor de frutas. Acordava de madrugada para uma jornada de 12 horas diárias de trabalho, todos os dias do ano. Só folgava no dia primeiro de janeiro.
Ainda criança, na minha vizinhança, vi gente morrer sem assistência médica, vi brasileiros com deficiência jogados ao Deus dará. Passei a andar sozinho de bonde e de ônibus lotados, como sardinha em lata, desde oito ou nove anos de idade.
Ganhei dinheiro, quando criança, vendendo laranja. Quando jovem, dando aula de matemática. Eu sei onde o calo aperta. Eu sei como é a vida real das famílias pobres deste país, pois sou filho de uma delas.
Estudei em escola pública e, graças ao meu esforço, entrei numa das melhores faculdades de engenharia do Brasil. No terceiro ano fui eleito presidente da União Estadual dos Estudantes. No quarto, aos 21 anos, presidente da UNE, presidente dos estudantes do Brasil. Condição de que muito me orgulho.
Meus sonhos da época são meus sonhos de hoje: um Brasil mais justo, mais forte e igualitário, na renda e nas oportunidades. Meus sonhos continuam vivos no desejo de uma boa educação para os filhos dos pobres para que, como eu, cada brasileirinho, cada brasileirinha possa seguir seu caminho e suas esperanças.
Quando o Brasil sofreu o golpe militar, em 1964, fui perseguido, caçado, acusado de subversivo. Rapaz ainda, deixei o Brasil e busquei asilo, primeiro na Bolívia, depois na França e finalmente no Chile. Estudei como nunca, tornei-me professor, casei, tive filhos, fui perseguido novamente por outro golpe militar, desta vez no Chile, devido às minhas ações contra a repressão e a tortura no Brasil. De lá, fui viver nos Estados Unidos.
De volta à nossa terra, voltei também à política e fui quase tudo: secretário de estado, deputado constituinte, deputado federal, senador, ministro duas vezes, prefeito, governador. Tenho a honra e o orgulho de ter recebido, em minha vida, mais de 80 milhões de votos. Meu orgulho vem de uma certeza: não é possível querer ser representante do povo sem submeter-se ao julgamento do povo. Não há democracia sem eleição, assim como não deve haver governante sem voto.
Não comecei ontem e não caí de pára-quedas. Apresentei-me ao povo brasileiro, fui votado, exerci cargos, me submeti ao julgamento da população, fui aprovado e votado de novo. Assim foi em cada degrau, em cada etapa da minha vida. Isso demonstra meu respeito pela vontade popular. 80 milhões de votos ao longo da vida pública - 80 milhões de vezes brasileiros me disseram sim, siga em frente que nós te apoiamos.
É graças a eles e a tantos outros que estou aqui hoje, aceitando esta imensa responsabilidade, falando às pessoas e às famílias. Comigo, o povo brasileiro não terá surpresas. Além das minhas convicções e da minha biografia, além das minhas realizações e dos princípios que defendo, me apresento perante a nação com uma idéia clara de governo e com prioridades anunciadas. Pra mim, governo tem de apoiar quem produz e quem trabalha. São as pessoas comuns, as pessoas simples. E tem que proteger os desamparados. Governo, como as pessoas, tem que ser honesto. Verdadeiro. Tem que ser solidário e generoso. Tem que garantir as oportunidades e buscar a igualdade. Governo tem que ser justo.
As necessidades e esperanças que, à frente do governo, queremos preencher, são as da maioria dos brasileiros. A maioria dos brasileiros quer uma escola decente para cada criança e para cada jovem, até o limite de sua capacidade. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer deter o retrocesso na saúde pública e dar a cada pessoa doente a possibilidade de uma consulta médica digna, de um leito hospitalar próximo e do acesso a uma ampla cesta de medicamentos básicos gratuitos. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer proporcionar às pessoas com deficiência física a condição de cidadania, com acessibilidade, educação, reabilitação e oportunidades profissionais. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer investimentos que qualifiquem e ofereçam empregos a cada pessoa que deseje trabalhar. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer segurança para suas famílias, quer que o governo federal assuma de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nessa área, ou o Brasil não terá como ganhar a guerra contra o crime. Eu também quero isso.
A maioria dos brasileiros quer se ver livre do tráfico de drogas, que fomenta o crime, destrói o futuro de jovens e de suas famílias. Quer a recuperação dos dependentes químicos. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer que todos tenham uma casa decente para morar, com água e esgoto, luz e transporte coletivo. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer um meio ambiente saudável, cada vez mais limpo, onde o ar que respiramos e a beleza de nossas terras e florestas sejam protegidos. Eu também quero.
A maioria dos brasileiros quer ter mais rendimentos, que a prosperidade econômica se expanda no tempo, de forma sustentada. Eu também quero.
Para que esses desejos e vontades sejam materializados, temos de tirar as idéias do papel, planejar as ações do governo, mobilizar os meios e perseguir à ferro e fogo as prioridades fundamentais. Estas prioridades precisam ser claras e é preciso governar desde o primeiro dia. É necessário dar hierarquia aos problemas, porque não se resolve tudo de uma vez só. É indispensável formar uma equipe coesa, com gente competente. E não com critério partidário ou de apadrinhamento, esse mesmo critério que está destruindo a eficácia da ação governamental no Brasil.
Temos de afastar-nos de três recordes internacionais que em nada nos ajudam a satisfazer nossas necessidades e preencher nossas esperanças: o Brasil hoje tem uma taxa de investimento governamental das menores do mundo, a maior taxa de juros reais do mundo e a maior carga tributária de todo o mundo em desenvolvimento.
Minha atuação na vida pública atesta a minha coerência. Fui o relator do dispositivo constitucional que criou o Fundo de Financiamento ao Norte, Nordeste e Centro Oeste. Fui também o autor da emenda à Constituição brasileira que instituiu o que veio a ser o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT. O Fundo, hoje, é o maior do Brasil. É patrimônio dos trabalhadores brasileiros e financia o BNDES, a expansão das empresas, as grandes obras, os cursos de qualificação profissional, o salário dos pescadores na época do defeso. Tudo isso vem do FAT. E tenho orgulho de ter iniciado esse processo.
Graças ao FAT, também, tiramos o seguro-desemprego do papel e demos a ele a amplitude que tem hoje. O seguro-desemprego dormia há mais de 40 anos nas gavetas. Existia na lei, mas pouco na prática. Conseguimos viabilizá-lo e ele já pagou mais de 50 milhões de benefícios na hora mais difícil de qualquer família e de qualquer trabalhador.
Sou um brasileiro sonhador e obstinado, que usa o senso prático e capacidade de trabalho para fazer acontecer, para tirar do papel e transformar em realidade benefícios que só existem na teoria. Ofereço ao Brasil minha capacidade de transformar idéias em realidade. Em boa realidade.
Na economia, meu compromisso é fazer o Brasil crescer mais e mais rapidamente. Vamos abrir um grande canteiro de obras pelo Brasil inteiro, como fizemos em São Paulo. Estradas, portos, aeroportos, trens urbanos, metrôs, as mais variadas carências na infra-estrutura serão enfrentadas sem os empecilhos das ideologias que nos impedem de dotar o Brasil do capital social básico necessário. É a falta de infra-estrutura que cria gargalos para o crescimento futuro e ameaça acelerar a inflação no presente.
Vamos gerar mais empregos. Atividades produtivas e obras públicas que priorizam nossa gente e materiais feitos aqui significam postos de trabalho e renovação do ciclo de criação de riqueza, em vez de facilitarmos a solução problemas sociais no estrangeiro. Vamos estimular a produção e o trabalho. Vamos tirar os obstáculos para a geração de riqueza e sua distribuição. Há muito por fazer. O Brasil pode muito mais.
Não vou exaurir aqui as propostas para as diferentes áreas. Já as tenho feito pelo Brasil afora. Mas faço questão de explicitar três compromissos com a educação. O primeiro é dar prioridade à qualidade do ensino, que exige reforçar o aprendizado na sala de aula, começando por colocar dois professores por sala da primeira série do Ensino Fundamental.
O segundo, é criar mais de 1 milhão de novas vagas em novas escolas técnicas, com cursos de um ano e meio de duração, de nível médio, por todo o Brasil. O terceiro é multiplicar os cursos de qualificação, mais curtos, para trabalhadores desempregados.
Vejam o que fizemos em São Paulo. Vamos fazer muito mais em todos os estados do Brasil. E reforçaremos o Bolsa Família, dando uma ajuda de custo para os jovens cujas famílias dependem desse programa, para que possam se manter enquanto fazem os cursos profissionalizantes.
Dou outro exemplo de projeto, este para a saúde: vamos ter, ao final de dois anos, em todos os Estados, 150 AMEs, Ambulatórios Médicos de Especialidades, policlínicas com capacidade realizar 27 milhões de consultas e fazer 63 milhões de exames por ano.
Nunca chegaremos ao Brasil justo que desejamos enquanto tantos brasileiros tiverem menos do que precisam para sobreviver com dignidade. Meu objetivo é ambicioso, mas tenho certeza de que podemos sonhar e realizar. Vamos acabar com a miséria absoluta no nosso País.
Quando ministro da Saúde, fiz o Bolsa Alimentação e meu colega de ministério, Paulo Renato, fez o Bolsa Escola. Eles foram reunidos pelo Bolsa Família, estiveram na origem deste programa. Nós vamos ampliar e melhorar o Bolsa Família. Mas vamos além. Vamos ampliar a rede de proteção social para cerca de 27 milhões de brasileiros que estão na base da pirâmide.
Em português claro: vamos trabalhar com todas as nossas forças para acabar com a miséria absoluta no nosso País. Vamos lutar por isso. É possível fazer. O Brasil pode mais.
Meus amigos, minhas amigas: Esta caminhada, que começamos no dia 10 de abril, em Brasília, tem sido prazerosa. Sinto-me bem. Nunca tive tanta energia física e mental como nestas semanas. Nunca me senti mais preparado para enfrentar um desafio como o que temos pela frente.
Nunca estive tão seguro a respeito do quê e de como fazer para que o nosso Brasil vença seus problemas. Sei o que fazer para que o nosso Brasil aumente a prosperidade econômica dos brasileiros de forma sustentada. E, importante, para que se obtenha mais progresso social para todos os que trabalham, para os desamparados e para que o nosso país assegure oportunidades aos nossos jovens.
Nestes meses tenho revisto o meu Brasil no seu conjunto e nos seus detalhes, o que renova minha forma de viver, que é a do aprendizado permanente. E é também reconfortante encontrar e descobrir, por toda parte, lembranças e efeitos de coisas que fiz ou que ajudei a fazer, nas obras, nos transportes, na Saúde, na Seguridade Social, na industrialização, nos investimentos. Reconheço um pouco de mim em alguns pedaços do Brasil que avançou e progrediu.
Tem sido bom nas cidades grandes e pequenas encontrar gente de bem, inteligente, gente que quer melhorar, gente disposta, confiante, exigente, às vezes crítica, muitas vezes com razão em suas reclamações, mas sempre brasileiros e brasileiras batalhadores. Encontros que levam alegria e esperança à minha alma, porque mostram o que o Brasil tem de melhor: nossa gente.
Ao longo da vida, tenho aprendido que as gerações se deparam com realidades distintas. E as respostas de cada uma delas, boas ou ruins, tornam-se questões da geração seguinte. Muito cedo, consolidei a crença de que seria possível imprimir um rumo positivo na seqüência de gerações que nos levasse do círculo vicioso da desigualdade e da pobreza para o círculo virtuoso da prosperidade, da maior igualdade e do desenvolvimento.
Guiado por essa inspiração, parto para a disputa. Vamos, juntos, com alegria, confiança e patriotismo. Nós sabemos o caminho. Já provamos nosso valor. Já fomos testados e aprovados. Vamos, juntos, porque o Brasil pode mais. Vamos juntos à vitória!
Confira na íntegra o discurso de Dilma
Queridas companheiras e queridos companheiros, minha emoção é muito grande. Minha alegria também. Por esta festa tão cheia de energia, de confiança e esperança. Sei que esta festa não é para homenagear uma candidata. Aqui se celebra, em primeiro lugar, a mulher brasileira! Aqui se consagra e se afirma a capacidade de ser - e de fazer - da mulher.
É em nome de todas as mulheres do Brasil - em especial de minha mãe e de minha filha - que recebo esta homenagem. É também em nome delas que abraço esta missão conferida por meu querido partido, o PT, e pelos importantes partidos da nossa coligação.
A energia que move esta grande festa brasileira é a força do trabalho - e do sonho - de um povo que nunca se dobrou, sempre lutou e jamais perdeu a esperança. E que levou à Presidência um trabalhador, que provou que um novo Brasil é possível.
Um Brasil justo, forte, democrático e independente. Cheio de oportunidades para todas as brasileiras e todos os brasileiros. Não é por acaso que depois deste grande homem, o nosso Brasil possa ser governado por uma mulher.
Por uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula - mas que fará um Brasil de Lula com alma e coração de mulher.Lula mudou o Brasil e o Brasil quer seguir mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança.
É seguir mudando, para melhor, o emprego, a saúde, a segurança, a educação. É seguir mudando com mais crescimento e inclusão social para que outros milhões de brasileiros saiam da pobreza e entrem na classe média. É seguir mudando para diminuir ainda mais a desigualdade entre pessoas, regiões, gêneros e etnias.
Queridas companheiras e queridos companheiros, a distância entre o sonhar e o fazer pode ser bem mais curta do que se imagina, desde que a gente tenha coragem, competência e determinação. Foi o que ocorreu neste governo, quando alcançamos conquistas que tantos julgavam impossíveis. Vimos se confirmar o que o presidente Lula dissera no início do primeiro governo.
"Vamos começar fazendo apenas o necessário. Depois, vamos fazer o possível e, quando menos se esperar, nós estaremos realizando o impossível". Quando me perguntam como isso aconteceu, respondo: foi porque trabalhamos com a cabeça e com o coração.
Foi porque trabalhamos primeiro, para as pessoas. E ao trabalharmos primeiro para as pessoas, produzimos resultados surpreendentes. Quando perguntam como isto aconteceu, eu também respondo: foi porque soubemos abrir novos caminhos, quebrando antigos tabus. O tabu mais importante que derrubamos foi o de que era impossível governar para todos os brasileiros.
Historicamente, quase todos governantes brasileiros governaram para um terço da população. Para muitos deles, o resto era peso, estorvo e carga. Falavam que tinham que arrumar a casa primeiro. Falavam e nunca arrumavam. Porque é impossível arrumar uma casa deixando dois terços dos filhos ao relento, à margem do progresso e da civilização.
Resultado: o Brasil era uma casa dividida, marcada pela injustiça e pelo ressentimento, que desperdiçava suas melhores energias. Nós, do governo do presidente Lula, fizemos o contrário. Chegamos à conclusão de que só fazia sentido governar se fosse para todos. E provamos que aquilo que era considerado estorvo era, na verdade, força e impulso para crescer.
Quebramos o tabu e provamos que incluir os mais fracos e os mais necessitados ao processo de desenvolvimento do país é um caminho socialmente correto, politicamente indispensável e economicamente estimulador.
Companheiras e companheiros, nós queremos e podemos fazer mais e melhor. Para realizar esta grande tarefa não basta apenas querer. Ou dizer que vai fazer. É preciso conhecer bem o Brasil, o governo e ter projetos que ampliem e acelerem o que está sendo feito. É preciso, ainda, estar do lado certo e com a postura correta.
Dar prioridade e apoio aos que mais precisam, porém governando para todos os brasileiros e brasileiras. É preciso acreditar no Brasil. Acreditar que podemos erradicar a miséria e nos tornar um país com uma das maiores e mais vigorosas classes médias do mundo.
Podemos alcançar isso porque somos um povo criativo e empreendedor; temos uma democracia sólida; um vibrante mercado interno; a maior reserva florestal e a mais limpa matriz energética do planeta; um parque industrial diversificado; uma agricultura forte; e desfrutamos de estabilidade econômica, agora com grandes reservas internacionais superiores a nossos compromissos externos.
Mas para ampliar o que conquistamos, precisamos reforçar o planejamento e a integração entre Estado e setor produtivo; governo e sociedade; União, estados e municípios. Este trabalho conjunto terá como prioridades: Educação de qualidade, dando seqüência à transformação educacional em curso - da creche a pós-graduação.
Isso significa: dar especial atenção à formação continuada de professores para o ensino fundamental e médio; fazer com que os professores tenham, pelo menos, o curso universitário e uma remuneração condizente com a sua importância; avaliar o aluno e as nossas escolas para garantir a qualidade do ensino fundamental e médio; espalhar a educação profissionalizante por todo o país, interiorizando o ensino técnico; garantir a qualificação do ensino universitário, com ênfase na pós-graduação; equipar as escolas com banda larga gratuita e assegurar bolsas de estudo e apoio aos alunos; enfim, formar jovens preparados para nos conduzir à sociedade da tecnologia e do conhecimento.
Se eleita presidente, vou liderar, sem descanso, este processo. para o Brasil seguir mudando, para melhor, é fundamental promover um salto de qualidade na assistência universal promovida pelo SUS.
Nossas prioridades na saúde estarão baseadas em três pilares: financiamento adequado e estável para o Sistema; valorização das práticas preventivas; e organização dos vários níveis de atendimento, garantindo atendimento básico, ambulatorial e hospitalar de alta resolutividade em todos os estados brasileiros.
Também daremos prioridade ao desenvolvimento de fármacos, mobilizando para isso institutos de pesquisa, universidades e empresas do setor. Para o Brasil seguir mudando para melhor, precisamos investir, ainda mais, em pesquisa, inovação e política industrial.
O governo Lula foi o que mais investiu em pesquisa e inovação na história recente. Nossa meta é ampliar este esforço, focando os setores portadores de futuro - biotecnologia, nanotecnologia, agroenergia e fármacos, entre outros - e fortalecendo o tripé empresas privadas, institutos tecnológicos e redes universitárias de pesquisas.
Isso vai favorecer nosso parque industrial, nossa competitividade agrícola e nossas exportações. Tudo que pode ser produzido de forma competitiva no Brasil,vai ser produzido no Brasil, gerando mais emprego e renda. Para o Brasil seguir mudando, é preciso continuar investindo em inclusão digital.
A economia e a cultura contemporâneas exigem que toda a sociedade tenha acesso aos bens digitais. Isso é fundamental para a construção de uma sociedade baseada no conhecimento.Como Lula, quero continuar sendo a presidente da inclusão social, mas quero ser, também, a presidente da inclusão digital.
Para o Brasil seguir mudando, e a vida de seu povo ficar cada vez melhor, é preciso investir em segurança pública. Isso exige uma ação planejada e concentrada de segurança nas áreas urbanas, a exemplo do que vem acontecendo com o Pronasci, e maior capacitação federal nas áreas de fronteira e de inteligência.
É preciso lutar contra o crime organizado. Contra o roubo de cargas. Contra o tráfico de armas e de drogas. Contra a praga destruidora do crack. O crack avança sobre a população de forma devastadora. É um crime contra a juventude, contra a família, contra a sociedade e contra a nação. Mas vamos vencer essa guerra. E vamos vencer, como venho dizendo, com apoio, carinho e autoridade.
Para o Brasil seguir mudando, é preciso priorizar o planejamento urbano, revigorando a meta de prover acesso universal aos serviços básicos e aumentar a paz social.
Melhorar o ambiente das cidades é uma ação urgente e necessária, já iniciada com o PAC. É hora de avançar ainda mais, ampliando o acesso ao esporte, ao lazer e a cultura; ao saneamento básico; a serviços de saúde de qualidade e a um transporte eficiente.
Para o Brasil seguir mudando, é preciso continuar investindo, maciçamente, em infraestrutura. Vamos seguir estimulando, por meio do PAC, a parceria entre os setores públicos e privados e, assim, garantir investimentos que ampliem a competitividade de nossa economia.
Vamos construir e melhorar os portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e hidrovias. Ampliar e garantir maior eficiência ao nosso sistema elétrico e aos nossos meios de transporte, incluindo o trem de alta velocidade e o transporte de carga.
Quero ser a presidente da consolidação da infraestrutura brasileira, completando o grande trabalho do presidente Lula. Para o Brasil seguir mudando, precisamos vencer o déficit habitacional já na década que se inicia.
Com o Minha Casa, Minha Vida abrimos um vigoroso caminho nesta direção. Garantimos subsídios que evitam o peso de financiamentos insuportáveis para os mais pobres. Mobilizamos o setor privado e simplificamos a burocracia do sistema.
Concebi e coordenei, a pedido do presidente Lula, este programa - portanto sei como avançar mais. E já temos pronto o projeto para mais 2 milhões de moradias.
Para o Brasil seguir mudando, temos que priorizar a economia de baixo carbono, consolidando o modelo de energia renovável que conquistamos. É preciso incentivar projetos de reflorestamento em áreas degradadas e cumprir as metas que levamos à COP 15, em especial a de redução do desmatamento.
Ao mesmo tempo, incentivaremos a pesquisa e inovação de materiais e produtos de baixo carbono e de baixo consumo de energia. Para o Brasil seguir mudando, temos que continuar modernizando a política de desenvolvimento regional, reconhecendo as particularidades de cada região.
Quero ser, depois de Lula, a presidente da moderna integração regional do país, porque vejo em nossas regiões imensos celeiros de oportunidades. Para o Brasil seguir mudando é preciso assegurar a estabilidade e continuar as reformas que melhoram o ambiente econômico, em particular a reforma tributária.
A nossa estrutura tributária é caótica, apesar de áreas de excelência na administração - e se não tivermos coragem de reconhecer isso, jamais faremos esta reforma tão urgente e necessária. Entre outras coisas, investir na informatização de todo sistema de tributos para alargar a base da arrecadação e diminuir a alíquota dos impostos.
Outra grande meta é completar a desoneração do investimento, por seu forte efeito sobre as taxas de crescimento. Para o Brasil seguir mudando, precisamos valorizar cada vez mais a nossa cultura.
Vamos ampliar a produção e o consumo de bens culturais com base em nossa diversidade e dar meios e oportunidades à criatividade popular. Assim, alargaremos caminhos para que aflore a diversidade cultural brasileira, cuja riqueza e significado podem ser comparados ao da nossa biodiversidade.
A cultura é o espaço por excelência da alma e da identidade de um povo. É essencial para a construção de um sentido de nação. Para o Brasil seguir mudando, precisamos aproveitar em benefício de todo o país as extraordinárias riquezas do pré-sal, descobertas pela nossa querida Petrobrás.
Não podemos nos transformar num exportador de óleo cru. Ao contrário, devemos agregar valor ao petróleo aqui dentro, construindo refinarias e exportando derivados de maior valor. O pré sal, como já disse o presidente Lula, é o nosso passaporte para o futuro. Seus recursos não devem ser gastos apenas para a geração presente. Devem formar uma robusta poupança para servir, a todas brasileiras e brasileiros, com investimentos em educação, cultura, meio ambiente, ciência e tecnologia e combate à pobreza.
Para o Brasil seguir mudando, precisamos aprofundar a democracia, aperfeiçoando e valorizando nossas instituições. Unir o melhor das nossas energias para fazer a reforma política.
Quero dizer com todas as letras aos partidos políticos e ao país: não dá mais para adiar esta reforma. Ela é uma necessidade vital para corrigir equívocos, vícios e distorções. Para dar eficácia ao voto do eleitor e credibilidade à representação parlamentar. Para dar transparência às instituições e garantir mecanismos reais de controle ao cidadão. Para fortalecer os partidos, estimular o debate público e a participação popular.
A consolidação do Estado democrático de direito passa, igualmente, pela garantia e manutenção de ampla liberdade de imprensa e da livre circulação e difusão de ideias. Exige, cada vez mais, a ampliação do direito à informação da população, com a multiplicação dos meios de comunicação. E que sejamos capazes de dar respostas abrangentes e inclusivas aos imensos desafios e às fantásticas possibilidades abertas pelo mundo digital, pela internet e pelo processo de convergência de mídias.
Para o Brasil seguir mudando, devemos ampliar nossa presença internacional, oferecendo ao mundo contribuições valiosas nas áreas econômica, de mudanças climáticas e da paz mundial. Seguiremos defendendo, de forma intransigente, a paz mundial, a convivência harmônica dos povos, a redução de armamentos e a valorização dos espaços multilaterais.
Em especial, precisamos seguir estreitando as relações com os nossos vizinhos e promovendo a integração da América do Sul e da América Latina, sem hegemonismos, sem querer abafar ninguém, mas com ênfase na solidariedade e no desenvolvimento de todos. Além disso, precisamos manter nosso olhar especial para a África, continente que tanto contribuiu para a nossa formação.
Companheiras e companheiros, para o Brasil seguir mudando é preciso, acima de tudo, manter e aprofundar o olhar social do governo do nosso grande presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É mais que simbólico que, nesse momento, o PT e os partidos aliados estejam dizendo: chegou a hora de uma mulher comandar o país. Estejam dizendo: para ampliar e aprofundar o olhar de Lula, ninguém melhor que uma mulher na presidência da República. Creio que eles têm toda razão.
Nós, mulheres, nascemos com o sentimento de cuidar, amparar e proteger. Somos imbatíveis na defesa de nossos filhos e de nossa família.
Milhões e milhões de heroínas que homenageio nas figuras maravilhosas de Ilza de Nazaré, dona Raimunda dos Cocos, Giovana Abramovicz, Maria da Penha, Ivanete Pereira, Hildelene Lobato Bahia, Janaina Oliveira, Rose Marie Muraro e Maria da Conceição Tavares, que não pode comparecer, nossas convidadas especiais, exemplos vivos de luta e sensibilidade social.
E quando falamos de cuidado e amparo, estamos falando de saúde, educação, segurança e emprego. De cuidar melhor dos mais velhos e dos mais jovens. Estamos falando de construir, no mínimo, mais 500 unidades de pronto atendimento - as UPAs 24 horas. E mais 8.600 novas unidades básicas de saúde - as UBSs, em todo o país.
Estamos falando de construir seis mil creches e pré-escolas. De expandir e consolidar a rede de escolas técnicas, de centros de excelência do ensino médio e de nível superior, de centros de inovação científica e tecnológica. E de ampliar o ProUni.
Estamos falando de fortalecer todos os programas sociais, com carinho especial para o Bolsa Família. Estamos falando de ampliar o emprego e melhorar o salário.
De continuar o grande trabalho que o presidente Lula está fazendo. Estou convencida, minhas companheiras e meus companheiros, que os próximos anos serão decisivos.
Se seguirmos mudando, se seguirmos incluindo, se seguirmos crescendo ¿ e temos tudo para atingir esses objetivos -, o Brasil vai mudar definitivamente de patamar. Vamos erradicar a miséria nos próximos anos. Vamos transitar de país emergente para país desenvolvido no qual a população desfruta de serviços públicos adequados, educação de qualidade e bons empregos.
Creio que, se trabalharmos direito e fizermos as opções acertadas, podemos construir e legar para nossos filhos e netos o melhor lugar do mundo para se viver.
Companheiras e companheiros, durante o governo do presidente Lula, começamos a construir um novo Brasil. Esta é a obra que quero continuar. Com a clara consciência de que continuar não é repetir. É avançar.
Esta é a missão que o PT e os partidos aliados colocam em minhas mãos. É este compromisso de fazer o Brasil seguir mudando que assumo, no fundo de minha alma e do meu coração.
Este é o compromisso que vamos cumprir, com coragem e determinação, eu e meu companheiro de chapa, Michel Temer, futuro vice-presidente da república. Temer: vamos fazer uma bela caminhada juntos, com nossos partidos e todos os partidos da coalizão - a coalizão dos que sabem que, da mesma forma que foi preciso somar forças para conquistar a democracia no passado, é preciso somar forças hoje para alargar ainda mais o caminho aberto pelo presidente Lula. Estamos juntos para seguir mudando. Não há e não haverá retornos.
Nesta campanha nós vamos debater em alto nível, vamos confrontar projetos e programas. Vamos esclarecer ao povo que somos diferentes dos outros candidatos. Mas depois de eleitos, governaremos para todos, como fez Lula, o presidente que mais uniu os brasileiros.
Sei como buscar a união de forças e não a divisão estéril. Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento que não serve a ninguém.
Para concluir, quero lembrar uma cena que vivi há poucos dias e me comoveu fortemente. Eu estava num aeroporto, quando um jovem casal, com uma filhinha linda, se aproximou. E a mãe falou assim: "eu trouxe minha filha aqui pra que você diga a ela que mulher pode".
Eu perguntei para a guria: "mulher pode o quê?". E ela: "ser presidente". Eu disse: "pode sim, não tenha dúvida que pode". Sabem como é o nome desta menininha? Vitória!
Pois é para ela, e para as milhões e milhões de pequenas Vitórias e Marias, meninas deste Brasil que não sabem ainda que uma mulher pode ser presidente, é para elas que eu quero dedicar a minha luta.
E a nossa vitória. Para que, assim como depois de Lula, um operário brasileiro sabe que ele, seu filho, seu neto, podem ser presidente do Brasil, estas pequenas Vitórias e Marias também possam responder, quando perguntadas o que vão ser quando crescer; que elas possam responder, como fazem os meninos : "eu quero ser presidente do Brasil!"
E que o Brasil seja cada vez mais feliz por causa desta resposta.
Muito Obrigada. Viva o povo brasileiro! E rumo à vitória para o Brasil seguir mudando!