Enquanto os candidatos ao governo de São Paulo se preocupavam em aparecer bem na tela da TV, no primeiro debate entre os concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes, a plateia tinha um clima bem mais descontraído. Sem o peso de aparecer publicamente, os diálogos fluíam com muito mais naturalidade. Na chegada, lentamente os convidados foram se acomodando. Apesar de as principais lideranças terem o nome marcado nas cadeiras, alguns se fizeram de desentendidos.
O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues (PR), se acomodou confortavelmente entre os petistas. Antigo aliado de Kassab, Rodrigues foi alertado que tinha uma cadeira reservada próxima à do prefeito. Sem fazer qualquer menção em se levantar, ele contra-argumentou. "É mais fácil o Kassab vir para cá do que eu ir para lá..." Rodrigues disputa a eleição de outubro como 1º suplente de Marta Suplicy.
Logo depois, com um sorriso de orelha a orelha, o candidato ao Senado, Ciro Moura (PTC) passou a circular com desenvoltura entre os membros de todas as legendas. Falava para quem quisesse ouvir que tem grandes chances de se eleger ao Senado. Animado com as pesquisas que o colocam entre os quatro primeiros colocados na disputa, fazia planos de abocanhar uma das duas vagas.
"Tenho pouco tempo na TV, mas vou aproveitá-lo da melhor maneira." Moura, que é acusado pelos seus oponentes de tentar confundir os eleitores por se registrar no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apenas como Ciro - para deliberadamente ser confundido com o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Ele jura que vai colocar a cara na TV.
"Claro que eu vou aparecer. Vou mostrar que sou o novo, o candidato da virada. Meu slogan será 'Ciro 360'", disse. Quando foi lembrado que uma virada de 360 graus o deixaria no mesmo lugar, Ciro afirmou, sem qualquer modéstia. "Este lugar será o Senado". Assim que ele virou as costas, um vereador paulistano disse que se estivesse no lugar dele não apareceria e usaria de fundo as praias cearenses como cenário para uma inscrição com o seu nome.
Mais adiante, Ciro ainda parou para falar rapidamente com a candidata do PT ao Senado, Marta Suplicy. "Tenho uma pesquisa que mostra que tenho uma boa penetração entre o seu eleitorado. Descobri que tenho um alto índice de segundo voto entre os seus eleitores", disse ele. Assim que se retirou, a petista, um tanto surpresa, emendou. "Cada um fala o que quer".
Enquanto isso, a cadeira reservada ao candidato a presidêncida da República, José Serra, na quarta fila do estúdio, permanecia vazia e poucos acreditavam que ele aparecesse. Porém, quando ele chegou, faltando 10 minutos antes do início do debate, houve uma rápida troca de cadeiras. Os candidatos ao Senado Orestes Quércia (PMDB) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) deixaram a primeira fila e rapidamente pularam para quarta, próximos a Serra. Aniversariante da noite, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que completou 50 anos, tinha duas cadeiras com o seu nome à disposição.
Todos acomodados, Serra ficou entre a mulher de Geraldo Alkmin, Lu Alckmin, e de seu ex-chefe da Casa Civil no governo de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, com quem trocou várias informações durante os dois blocos que assistiu do debate.
No segundo bloco, quando começaram as perguntas entre os candidatos, o clima da fileira, que era ameno, passou a ficar mais tenso. Enquanto Alckmin se explicava em temas áridos a seu partido, como o alto preço dos pedágios e os problemas na pasta de Educação, Serra pedia um pedaço de papel a Lu Alckmin. Passou boa parte do bloco escrevendo. Ao término, colocou o papel no bolso e disse que tinha de ir embora para realizar umas gravações para o horário eleitoral gratuito de seus aliados. Antes de deixar o estúdio, sorrateiramente tirou a mão do bolso e entregou as anotações a um membro da campanha de Alckmin. O que escreveu? "Apenas algumas observações", disse ele, enquanto se retirava rapidamente.
Antes de o debate começar, o candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin, Guilherme Afif Domingos, deu os parabéns a Kassab. Lembrou da época que completou 50 anos - hoje tem 66 - e fez um alerta. "Quando completei 50 anos, percebi que havia menos tempo pela frente do que o que já havia vivido". Kassab sorriu amarelo e mudou de assunto, puxando papo com o governador Alberto Goldman (PSDB).
Quando trocavam as primeiras palavras, chegou o deputado federal Paulo Maluf. Antes de se sentar ao lado de Goldman, estendeu a mão para cumprimentar José Serra e já foi logo dizendo. "Eu achei a ideia de trocar os R$ 50 bilhões do tem bala por 400 km de Metrô no País ótima". Serra esboçou um sorriso e rapidamente Maluf se retirou, para se instalar atrás de Goldman.
Na sequência, o governador do Estado deu o seu parecer. "Eu acho que o Serra exagerou ao falar em 400 km de metrô". Na saída do estúdio, Maluf puxou conversa com Goldman. "Estou com saudade do Palácio dos Bandeirantes. Desde que saí de lá, só voltei duas vezes. Qualquer dia vou tomar um café com você". Questionado se faria o convite, o governador saiu pela tangente. "O palácio é do povo".
Perto dali, um ex-secretário de José Serra e de Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo provoca os adversários. "O Mercadante é um bigode à procura de escrúpulos e o Skaf é um nariz à procura de coerência".
Seu interlocutor, o vereador Floriano Pesaro (PSDB), tira o smarthphone do bolso e twitta: "Mercadante é um bigode à procura de um caráter. Não é?!?"
Logo depois, Pesaro classifica a proposta de Celso Russomanno, de várias paradas do trem bala na região do Vale do Paraíba, como estapafúrdia. "O que ele quer? Um trem parador?"
Quando Aloizio Mercadante começa a despejar dados sobre o saneamento básico do Estado, é a vez de Goldman atacar. "É o maior chutador da história". O secretário da Cultura, Andrea Matarazzo complementa. "Chuta de tudo o que é jeito".
Ao fim do debate, Marta Suplicy faz a sua avaliação: "com muita gente assim, o debate fica longo e cansativo". Depois ela tenta melhorar: "mas o Mercadante foi melhor".
Geraldo Alckmin, que acusou os seus oponentes de complô contra ele, se disse satisfeito com o seu desempenho. "Eu vim aqui para apresentar propostas e deixei isso claro para o eleitor".
Ao final, Mercadante se dizia feliz com o primeiro debate e afirmou que não há desprestígio pela não presença de Dilma Rousseff na plateia.
"Se ela tivesse vindo, ficaria até o fim", disse. Tudo porque Serra, Afif, Aloysio e Quércia deixaram o debate no segundo bloco. Um vereador contemporizou. "São todos candidatos que tem agenda amanhã cedo".
Veja as melhores frases de quem acompanhou o debate em SP
Se na frente das câmeras os políticos medem cada palavra, sob o risco de perder eleitores, o mesmo não pode se dizer daqueles que estão apenas no entorno do pleito. Na plateia de um debate político estão aliados, além de antigos e atuais desafetos, que, em comum, têm a língua afiada. Veja o que se disse nos bastidores do debate entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo, na Band.
"Sou candidato. Meu número é ..."
Do deputado federal Paulo Maluf (PP), ao ser questionado se poderia concorrer nas eleições de outubro por causa da Lei Ficha Limpa.
"Estou com saudade do Palácio dos Bandeirantes. Desde que saí de lá, só voltei duas vezes. Qualquer dia vou tomar um café com você."
Idem, ao se convidar para um bate-papo com o governador Alberto Goldman (PSDB) na sede do governo paulista.
"O palácio é do povo."
Alberto Goldman, ao responder se convidaria Maluf.
"Eu achei a ideia de trocar os R$ 50 bilhões do trem bala por 400 km de Metrô ótima."
Paulo Maluf, ao cumprimentar o presidenciável José Serra (PSDB).
"Eu acho que o Serra exagerou ao falar em 400 km de metrô."
Alberto Goldman.
"É mais fácil o Kassab vir para cá do que eu ir para lá."
Antonio Carlos Rodrigues (PR), presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Sentado junto a petistas, ele foi alertado que tinha uma cadeira marcada próxima à do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
"O Mercadante é um bigode a procura de escrúpulos. O Skaf é um nariz à procura de coerência."
De um ex-secretário de José Serra e Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo.
"Mercadante é um bigode à procura de um caráter. Não é?!?"
Do vereador Floriano Pesaro (PSDB), em uma twittada diretamente dos estúdios do debate, após ouvir o comentário do colega.
"Os candidatos estão no bagaço. A campanha começa cedo."
Floriano Pesaro, ao explicar a debandada de candidatos do PSDB, encabeçada por José Serra, ao fim do segundo bloco do debate.
"Tudo mentira. Esse é o maior mentiroso. É o maior chutador da história."
De Alberto Goldman, enquanto o candidato Aloizio Mercadante (PT) falava sobre dados do saneamento básico em São Paulo.
"E chuta mal."
Andrea Matarazzo, secretário da Cultura de São Paulo.
"Cada um fala o que quer."
Da candidata ao Senado Marta Suplicy (PT), depois de o também candidato ao senado, Ciro Moura (PTC), dizer que tem a preferência de boa parte do eleitorado dela como segunda opção.
"Com muita gente assim, o debate fica longo e cansativo."
Marta Suplicy.
"O que ele quer? Um trem parador?"
Floriano Pesaro, se referindo a Celso Russomanno, que pretende incluir várias paradas no Vale do Paraíba para a futura linha do trem-bala.
"O Alckmin passou por maus bocados."
De Antônio Clóvis Pinto Ferraz, o Coca Ferraz (PDT), candidato a vice-governador na chapa de Aloizio Mercadante (PT).
"Que pesquisa você lê? Nas que eu vejo, estou em segundo."
Do candidato ao senado Orestes Quércia (PMDB), ao ser questionado por aparecer em terceiro lugar nas pesquisas.
"O bom desempenho dele não depende só dele."
Do deputado federal Ivan Valente (Psol), em resposta pouco elucidativa ao ser questionado se o candidato Paulo Bufalo (Psol) poderia repetir o bom desempenho de Plínio de Arruda Sampaio no debate entre os presidenciáveis.
"Claro que eu vou aparecer. Vou mostrar que sou o novo, o candidato da virada. Meu slogan será 'Ciro 360'."
Do candidato ao Senado Ciro Moura (PTC), que se registrou no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) como Ciro e é acusado por adversários de querer se passar pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE).
"Este lugar será o Senado."
Ciro Moura, ao ser lembrado que uma virada de 360 graus o deixaria no mesmo lugar.
"No lugar dele, eu não apareceria e usaria de fundo as praias cearenses como cenário."
De um vereador paulista, perguntado como agiria no caso de Ciro Moura.