O vice-presidente em exercício, durante viagem do presidente Lula, José Alencar, voltou a defender a queda da taxa de juros. Após receber, no Palácio do Planalto, o senador Paulo Paim (PT-RS), que ocupa interinamente a presidência do Senado, Alencar disse que a decisão de baixar os juros deve ser política. “Isso não é decisão para economista, é decisão para político. Do ponto de vista da filosofia de taxa de juros, é uma decisão política, porque, tecnicamente, tem dado errado, basta fazer uma análise dos últimos oito anos”, afirmou.
Alencar disse que, nunca, na história do Brasil, houve uma transferência tão grande de renda oriunda do trabalho para o sistema financeiro. “Com a manutenção da atual taxa de juros, não será possível combater o desemprego e o subemprego”.
Segundo Alencar, a taxa de juros elevada é instrumento que inibe o consumo e os investimentos.
“Então, no Brasil, você não pode contar com esse instrumento, porque o país é de subconsumo. Você não pode achatar o consumo de quem não consome, porque o brasileiro, na sua esmagadora maioria, consome apenas o essencial e alguns nem isso. Isso não pode continuar”, afirmou o presidente em exercício, dizendo que o Brasil está correndo o risco de, neste ano, pagar de juros um terço da carga tributária. “É claro que temos que aplaudir o que foi feito pelo Ministério da Fazenda, porque, quando assumimos o governo, estávamos sob a ameaça de recrudescimento de aumento de preços no Brasil. Porém hoje, o mundo inteiro está vivendo outra ameaça: da recessão, da deflação, que qualquer economista sabe que é tão danosa quanto a inflação”.
Para ele, o problema maior do Brasil é que há um equívoco nas taxas básicas de juros praticadas para combater a inflação, “porque a inflação não é de demanda, mas de custos, um outro equívoco. Recebemos uma herança nefasta, que é o problema dos contratos que foram feitos nas privatizações, são os chamados preços de tarifas administrados que são responsáveis por essa inflação que está aí”.
“Como é que nós vamos gerar emprego sem crescer? Como vamos crescer, se a taxa básica de juros representa 26,5%, portanto, um retorno de aplicação em três anos? Nenhuma atividade produtiva dá retorno em três anos.
As consideradas boas dão retorno em seis anos. Taxas de juros incompatíveis com atividades produtivas desestimulam o desenvolvimento e fazem com que o país entre em uma fase recessiva, que é mais perigosa, do ponto de vista social, do que a própria fase inflacionária”, disse Alencar, completando que não concorda, de forma alguma, que se tenha que conviver com a inflação. “Inflação é um grande mal e ela não advirá pelo fato de nós voltarmos a crescer”.
Quando perguntado sobre o Copom (Comitê de Política Monetária), José Alencar disse que não fala mais nada, “porque dizem que as taxas de juros não baixaram no mês passado porque eu falei, então, de pirraça, não baixaram”. Ele contou ainda uma história: “São Pedro pediu a Deus que lhe permitisse fazer uma festa no céu. Deus permitiu, desde que não gastasse dinheiro com passagens para ninguém, então só poderiam ser convidados os animais que voassem. Mas o sapo quis ir também e, sabendo que o urubu iria com o seu violão, entrou no violão e foram para o céu. Na volta, descobriram o sapo e para castigá-lo, ameaçaram jogá-lo. Daí o sapo dizia: ‘Pelo amor de Deus, me joga na pedra, mas não na água”, brincou o presidente em exercício, dizendo então que, de agora em diante, falará: “Mantenham os juros. Aumentem os juros”.
José Alencar ressaltou, porém, que sua posição não representa uma divergência em relação ao governo. “O presidente Lula está tão preocupado quanto qualquer um de nós com a retomada do crescimento. Ele está mais preocupado que nós com o crescimento do desemprego e sabe que, com essas taxas de juros, não tem como o Brasil retomar o crescimento, porque não pode haver investimento com essas taxas, elas são proibitivas ao crescimento”, afirmou.
Perguntado se apoiaria uma espécie de cruzada contra os juros altos, José Alencar disse que, se o Brasil inteiro se unir e ajudar na formação de consciência em torno desse assunto, “estaremos fazendo um serviço ao país porque o Brasil paga taxas de juros despropositadas. As taxas básicas de juros são as reais 10 vezes superiores às dos países com os quais temos que competir. Então, isso está errado e não pode continuar”, observou Alencar.
Ele ressaltou que não está criticando, nem se opondo ao governo. “Somos todos irmão, todos da mesma família. Será que nenhum de nós podia falar nada, porque iria contrariar a família? Não.
Nós somos todos da mesma família e estamos no governo para fazer o Brasil crescer, como falou o presidente Lula: fazer o Brasil crescer, gerar empregos e distribuir a renda nacional”, concluiu o presidente em exercício.
Durante a visita, o senador Paulo Paim apresentou a Alencar três projetos de lei de sua autoria: Estatuto do Idoso, Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência Física e o Estatuto da Igualdade Racial. “Acredito que são três grandes contribuições para a sociedade brasileira”, disse Alencar.
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