Especial Eleições 2010
Após o resultado expressivo que sua candidata obteve nas eleições, a direção do PV manda um recado para petistas e tucanos que virão atrás de seu apoio no segundo turno: não adianta bajular, nenhuma decisão será tomada antes de profunda discussão interna e da plenária convocada na noite do domingo (3) - e que deve acontecer ainda nesta semana - por Marina Silva.
Os verdes entendem que o patrimônio de 20 milhões de votos que acumularam lhes garante uma posição amplamente favorável para dialogar com as candidaturas restantes e fazer valer a adoção de sua plataforma política, seja no programa do PT ou do PSDB. Sobre participar da distribuição de cargos no próximo governo, os membros da executiva do PV preferem não se manifestar. O coordenador da campanha de Marina e um dos líderes do partido, João Paulo Capobianco, explica que sua legenda pretende manter a independência em relação ao processo, avaliando com cuidado a possibilidade de apoio. "A evolução do quadro é que vai dizer o que vai acontecer".
"O lado para o qual Marina caminhar indica quem será o presidente da República. Então, é uma decisão de muita responsabilidade. Não dá pra fazer isso sem ouvir quem apoiou. Temos que baixar a bola e discutir para tentar chegar a um consenso. Qualquer coisa diferente que saia não é algo que foi debatido. O partido não fará declarações sem fazer essa combinação que Marina pediu, vamos ouvir aqueles que nos ajudaram, vamos ouvir a classe política, a sociedade. Durante a semana faremos disso um processo, e o partido vai respeitar essa posição dela", disse o presidente do PV no Estado de São Paulo, Maurício Brusadin.
A senadora sai da eleição como uma nova força política no País. Assim que se deram conta de que o segundo turno era inevitável, membros da campanha petista se apressaram em telefonar para colegas verdes sondando a possibilidade de apoio. Do lado do PSDB, o recém-eleito senador por Minas Gerais, Aécio Neves defende que seu partido adote algumas propostas do PV na tentativa de atrair os votos de Marina, mesmo que ela opte por não anunciar apoio a nenhum dos dois candidatos. Aécio também se predispôs a tratar pessoalmente com Marina sobre ao apoio ao candidato José Serra.
Pessoas próximas da candidata derrotada revelam que a pressão para apoiar o tucano é grande por conta das alianças e que estes mantêm com os verdes em estados como o Rio de Janeiro. Mesmo assim, acreditam que Marina optará pela neutralidade, já que fez críticas ao longo da campanha que tornariam injustificável um apoio a um ou outro candidato.
"Faço votos de que haja uma enorme disputa entre os dois, espero que disputem entre eles a questão da sustentabilidade. Para dialogar com esses 20 milhões de eleitores que decidiram apoiar a plataforma. A decisão é deles. Temos que ver como as candidaturas que restaram vão decidir sobre isso", explica Capobianco.
"O ponto número um para qualquer possibilidade de apoio é saber se qualquer um dos candidatos topa a plataforma política que nós construímos. E, neste sentido, precisamos ver qual o entendimento deles, porque ambos têm um modelo de desenvolvimento que é diferente do que a gente prega. Tem que ver qual deles vai topar isso, se é que algum vai. Se não topar, minha posição, meu voto, será para que não apoiemos", completa Brusadin.
Os dois políticos reconhecem que há diferentes posições dentro do partido a respeito do assunto, mas afirmam que quando uma decisão for tomada, ela virá amparada pela unidade partidária que pretendem conseguir, primeiro através desta plenária convocada, e depois num processo maior de reorganização interna que buscará adaptar o partido a esta nova posição que galgou graças ao desempenho de Marina.