Especial Eleições 2010
O tema "privatização" dominou o confronto entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) nos blocos iniciais do debate da Rede TV!, na noite do domingo (17). O tema foi explorado com sucesso pela campanha petista na disputa pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, mas no debate deste domingo o candidato do PSDB, José Serra, encontrou uma forma de abordar o tema mais palatável para o eleitor: ressaltou os benefícios da desestatização da telefonia, que permitiu a rápida disseminação dos telefones celulares.
Dilma indagou Serra sobre a venda da empresa italiana Gas Brasiliano para a Petrobras, que, segundo ela, o governo de São Paulo teria tentado impedir. A resposta de Serra veio envolta de críticas. Ele disse à oposição que a transação partiu de uma agência reguladora estadual, e que o governo do Estado de São Paulo respeita as agências reguladoras, "diferentemente do governo federal". O candidato garantiu que lutou pela estatal do petróleo desde seu tempo de estudante, e admira e comemora os avanços do Petrobras. Serra salientou ainda que as ações da Petrobras subiram à medida em que seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto também melhorou.
"Em todo o caso, a campanha da candidata na televisão mente o tempo inteiro em relação às minhas posições quanto à Petrobras", afirmou. Serra acrescentou ainda que o governo Lula fez mais concessões de exploração do petróleo a empresas privadas que o governo de Fernando Henrique Cardoso. "Finalmente, ele soube responder que eles fizeram mais concessões nesse setor do que nós. E sob a mesma lei!", comemorou o governador Alberto Goldman, em conversa reservada com um dos estrategistas da campanha tucana, Felipe Soutelo.
Em meio à discussão sobre a Gas Brasiliano, Serra trouxe o assunto "drogas" ao embate. Para petistas presentes ao debate, isso provou que o tema privatização ainda é incômodo para o candidato tucano. Pretendem, portanto, explorá-lo ainda mais.
A propaganda eleitoral da petista tem tentado colar em Serra o rótulo de "privatizante". O tucano rechaça a rotulação em todas as oportunidades e aproveita para criticar a partidarização de órgãos públicos que, segundo ele, é também um tipo de privatização feita pelo PT.
Para alguns integrantes de sua campanha, Serra deveria evitar o próprio termo "privatização" ao falar sobre o tema, pela conotação negativa que ele carregaria para o PSDB. Mas o candidato não seguiu essa orientação neste debate. Swaegundo as pesquisas internas do partido, enquanto o assunto esteve presente Serra ficou empatado com a candidata petista na avaliação dos grupos de espectadores. Nos outros momentos, esteve sempre à frente.
São Paulo
Outra estratégia levada para o estúdio pela candidata do PT foi a de trazer questões do Estado de São Paulo para o centro do debate político, para tentar minar Serra, ex-governador de São Paulo, em seu próprio território. Temas como educação, segurança pública e o tratamento para viciados em drogas entraram na pauta. A palavra de ordem entre os petistas é a "desconstrução" da imagem de bom administrador de Serra.
Um exemplo: quando Serra foi para a ofensiva e questionou a adversária sobre a política para o combate ao tráfico de drogas pelas fronteiras brasileiras, particularmente da Bolívia, Dilma respondeu afirmando que o tratamento aos dependentes químicos em São Paulo não era satistafório.
Mais adiante, Dilma foi incisiva em relação à segurança pública em São Paulo. "Nós sabemos o que representou o abandono da política de segurança pública, com o PCC dominando o tráfico a partir das prisões", disse. "Meu compromisso é livrar São Paulo do PCC".
Conjunto da obra
"O desempenho melhor foi na parte da educação. Gostei do conjunto da obra", opinou o coordenador político da campanha petista, Antonio Palocci, referindo-se à crítica da candidata à "aprovação automática" dos estudantes das escolas públicas. Mas a cúpula do partido não demonstrou o mesmo entusiasmo do confronto anterior, quando Dilma assumiu uma postura mais agressiva. "Os debates já estão ficando congelados", admitiu o coordenador de comunição, Rui Falcão.
Segundo a equipe de marketing do PT, os grupos de pesquisas qualitativas perspegaram: "Dilma foi firme", "ela demonstra mais conhecimento sobre o Brasil" e "Serra fugiu de respostas". Não se divulgou o lado negativo das avaliações. Mas, segundo relato dos petistas - e ao contrário do diagnóstico dos adversários tucanos - deu-se neste domingo o maior grau de aprovação de Dilma em pesquisas qualitativas realizadas durante debates.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, explicou que o tom mais ameno deste segundo debate se justifica porque, no primeiro, Dilma "precisava reagir às baixarias dos adversários, dar um tranco".
Serra teve seu melhor desempenho nos blocos finais, quando aparentou tranquilidade nas respostas a Dilma e defendeu, com ênfase, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Num bate-e-rebate, Serra lembrou que a seu lado estão FHC e Itamar Franco, responsáveis pela estabilização da moeda nacional; do outro lado do balcão, Fernando Collor e José Sarney, aliados de Dilma. Para revidar, a petista abordou o alastramento do crack em São Paulo e a deficiência do tratamento dos dependentes. Essa foi uma das linhas do debate na Band, o confronto de projetos e de governos - em síntese, PT x PSDB, o tal plebiscito atacado por Marina Silva (PV).