Durante sua vida política, nas quatro campanhas eleitorais como candidato à Presidência da República, inclusive a última, e desde a inauguração de seu Governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o social como prioridade absoluta e imediata.
Ouvimos seus discursos emocionados e acreditamos que todos os brasileiros bateram palmas quando, logo após sua posse, ele criou o programa Fome Zero, pois a todos incomoda a pesada dívida social que temos para com os excluídos.
É uma vergonha nacional e internacional um país com as potencialidades do Brasil ainda ter milhões de desnutridos, miseráveis, analfabetos, sem teto, sem escola, sem assistência médica. Assim, sem pretendermos fazer nenhuma crítica apressada, constatamos com estranheza que o Governo gastou muito pouco com o social nestes primeiros meses de administração. Recente levantamento tendo como fonte o Siafi, que é o sistema governamental informatizado que acompanha a execução do orçamento da União, mostra que, nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril, o Governo empregou, no social, R$ 6,9 bilhões a menos do que gastou no mesmo período do ano passado (em valores de 2003). Só foi gasto na área social o equivalente a 10,4% do PIB.
O levantamento considerou como aplicados na área social os gastos em previdência, saúde, assistência social, educação, direitos da cidadania, habitação, saneamento e organização agrária. Essa queda, paradoxal quando consideramos o discurso do PT e o do presidente Lula, traduz cruamente o impacto da política econômica copiada do Governo anterior, com agravamento da pouca atenção, não só ao social, mas a outras áreas também, com a prioridade dada à redução da dívida pública através de rígido controle de despesas.
O enrijecimento de uma política econômica dogmática, ditada pelo FMI, interrompe o início de uma tendência de crescimento dos gastos sociais esboçada no final do Governo de FHC.
Continuamos acreditando que, como o presidente promete quase diariamente, melhores dias virão depois que seu Governo conseguir arrumar a casa, com reformas na legislação, com uma situação de débitos e buracos mais folgada, com maior autonomia diante das instituições internacionais que impõem uma política que leva à estagnação, à recessão, ao desemprego, a mais empobrecimento.
Lula garante que o desenvolvimento, o bem-estar, o otimismo, o prestígio internacional do nosso País, tudo isso vai voltar. No campo internacional, isso já está acontecendo, com a participação de Lula em reuniões de cúpula até do G-8; com suas visitas oficiais aos Estados Unidos, a países desenvolvidos e menos ricos; com um posicionamento claro e de acordo com os interesses nacionais em temas como a Alca e o Mercosul; com êxitos já contabilizados na tentativa de diversificar as parcerias comerciais internacionais, como na criação do G-3 (Brasil, Índia e África do Sul) e negociações com a China e a Rússia. É uma área em que o País tem mais liberdade de ação, pois não depende da aprovação de organismos internacionais, embora esses achem que o Brasil deve aceitar a Alca da maneira como o Governo dos Estados Unidos a desenha.
Não condenamos a austeridade abraçada pelo Governo atual. Apenas constatamos fatos. A dívida externa do Brasil está muito acima da sua capacidade de endividamento e requer tempo para reduzir-se a níveis aceitáveis. A dívida interna é astronômica e só faz crescer com as altas taxas de juros. Com tudo isso, achamos que o Governo de Lula não pode adiar o pagamento da dívida social. Trata-se de gente, de brasileiros. É muito mais antiga do que as outras dívidas. Sua quitação também faz parte de nosso processo de ascensão ao status de país moderno, desenvolvido.
Na última terça-feira, 24, o programa humorístico “Casseta e Planeta” disparou uma crítica bem humorada com relação à política empreendida por Lula. No quadro, caricaturados, Lula e Palocci conversam e o ministro pergunta a Lula o que deveria fazer em diversas situações. Lula abre um arquivo entitulado “Governo FHC” e de lá retira planos e ações e diz a Palocci para copiar tudo igualzinho. Palocci caminha para uma máquina copiadora e passa e fazer cópias dos planos. O quadro então fecha com o título “O Homem que Copiava”, referindo-se ao filme nacional e, simultâneamente, emitindo uma alfinetada aos atos do atual presidente petista.
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