Esquerda Democrática: antes e durante o poder

 

Opinião - 01/07/2003 - 17:03:47

 

Esquerda Democrática: antes e durante o poder

 

Orlando Morando (*) .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

A História tem mostrado que os movimentos políticos de esquerda são sempre mais democráticos, no sentido do respeito da multiplicidade de opiniões, na garantia dos direitos, sejam eles, na preservação de instituições, na liberdade de expressão, na liberdade de imprensa, no direito a individualidade, no respeito às minorias, quando comparamos com os movimentos de direita conhecidos. No Brasil, a história da esquerda brasileira não é diferente. Depois dos difíceis anos da ditadura militar, os movimentos políticos de  esquerda ganharam força, o respeito da população e  espaço através de eleições democráticas. Foi sempre uma esquerda pluripartidária, porém com objetivos bem  claros: busca da total transparência na condução do país e principalmente no direito do amplo debate dos mais diversos assuntos, em todas as esferas – federal, estadual e municipal -  e com os mais diversos segmentos da sociedade. Essa esquerda tornou-se protagonista de momentos históricos que culminaram na consolidação da democracia e na apuração ágil das mais diversas situações escusas e pouco ortodoxas. Foi um xeque-mate na direita brasileira. Além disso, essa esquerda sempre soube traduzir os pensamentos, as ideologias e os sentimentos da vontade popular, da massa trabalhadora, dos movimentos mais radicais como os Sem Terra, os Sem Teto, os funcionários públicos, os aposentados. FMI e Privatização eram os inimigos,  verdadeiros palavrões para a esquerda  e o instrumento mais utilizado no país foi a CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito. Muitas acabaram sem qualquer conclusão ou culpados, acabaram “em pizza” segundo expressão criada na época pela oposição (hoje situação) que acabou ficando bastante popular. Mas, muitas surtiram efeito e uma moralização tranquilizante passou a dominar no País, um sentimento de que a impunidade permitida pela direita estava chegando ao fim. Assim, triunfando nos braços do povo, da ética, da transparência e da mais absoluta democracia a esquerda chegou ao poder absoluto, ao Plano Central. O que se ouvia é que a esperança tinha vencido o medo. O que ouvimos hoje, praticamente seis meses depois, apesar de uma popularidade em alta, é que o Brasil mudou (ainda estamos esperando essa mudança) , que a esquerda mudou. Aliados tradicionais viraram potenciais inimigos. Os inimigos históricos, como o FMI,  são agora aliados incondicionais. E CPI virou palavrão. Segundo dados publicados na imprensa, dos onze pedidos de instalação de CPIs, quatro foram arquivadas, duas estão suspensas e quatro apenas foram instaladas. Uma quinta, por pressão absoluta da opinião pública e formadores de opinião, foi instalada no Congresso Nacional, a do Banestado, uma evasão de 30 bilhões de dólares, a maior que já se teve notícia.  Companheiros tradicionais que fizeram a esquerda nesse país são considerados radicais perigosos, a liberdade de expressão está  ameaçada! Quem se manifesta contra as propostas  que a esquerda está pregando agora corre o risco de  sanções que vão de advertências públicas, passando pelas suspensões e podem culminar em expulsões. Apesar da confiança na democracia de esquerda continuar em alta, o País passa por um momento de recessão, com o setor produtivo refém de juros altos, dificultado os investimentos e consequentemente o crescimento do país. Já a massa trabalhadora apresenta sensível perda salarial,  crédito caro e um dos mais altos níveis de desemprego, o mesmo de 1985. Este é um resumo de seis meses da esquerda democrática no poder. Resta saber como será a esquerda depois do poder. Como ficará a sensação de que a esquerda iria resgatar a identidade brasileira, a verdadeira vocação do Brasil, se os vilões de outrora são os parceiros de agora. Como ficará a ideologia que se perpetuou por várias décadas e que por conta de uma mudança, ainda imperceptível, se perde em nome dessa mudança. O pouco que mudou, como a autonomia do Banco Central é projeto do governo anterior, tido como um governo mais de direita do que de esquerda. Já, a necessária reforma da previdência, inclusive com a taxação dos inativos, foi sempre obstruída pela esquerda nos governos anteriores. Agora mostrou-se vital para sanear parte das contas do governo. De certa maneira, muito do que poderia ser feito no País nos últimos  anos, foram derrubados por uma esquerda ativa e participante que sempre soube ser oposição. Agora no poder, cabe refletir: “governar é a arte de encarar decisões e de administrar adversidades”. É importante ressaltar  também que a esquerda continua imbuída do mesmo objetivo, um país melhor para todos, e, portanto ônus e bônus são de todos, porém o governo não pode se furtar à responsabilidade de fazer, em nome da esquerda democrática brasileira, um grande governo. O que chamam hoje de remédio amargo, e diga-se é realmente bastante amargo e não tem curado nenhuma doença, não deve se perpetuar na esquerda democrática depois do poder, pois a sociedade ainda está esperando mudanças. Mudanças urgentes que resgatem a  identidade desse País e sua verdadeira vocação de grande Nação para o seu povo.

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