A confiança do consumidor na economia e na queda da inflação fez com que 66% deles revelassem a intenção de manter ou mesmo de elevar suas compras nos próximos três meses. Esta é a principal conclusão do Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgado esta semana.
Calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador tem como principal objetivo mostrar para onde está caminhando o consumo das famílias, que representa 60% do Produto Interno Bruto (PIB) e move a atividade industrial, junto às exportações.
O resultado é elaborado a partir de pesquisa encomendada ao Ibope, que entrevistou 2 mil pessoas, entre 19 e 23 de junho. É exatamente a mesma base do levantamento que apontou queda de oito pontos percentuais (de 51% para 43%) na popularidade do governo Lula entre março e junho.
Do ponto de vista do consumidor, porém, a pesquisa mostrou um aumento do otimismo e da confiança em relação ao País. O Inec cresceu 8,4% no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro, e 9,4% em relação ao segundo trimestre de 2002. Foi o melhor indicador de expectativas desde 1997, quando a série foi iniciada.
Do total de entrevistados na amostragem, 34% acham que a inflação vai baixar nos próximos seis meses e 27% acreditam que a taxa permanecerá estável. Um resultado surpreendente, na opinião da economista Simone Saisse Lopes, coordenadora-adjunta da sondagem de opinião. “Desde 1997, quando começou a ser calculado o índice, não havia uma taxa tão elevada de perspectiva de queda da inflação. O mais perto que se chegou disso foi em julho de 98, quando 19% dos entrevistados disseram ter esta expectativa”, afirmou.
Confiança em Lula - Ela atribui este saldo ao fato de os consumidores já estarem percebendo uma queda nos preços e também ao convencimento do discurso do governo junto à população. “Por trás dessa confiança pode haver também alguma coisa de desejo. Mas não podemos esquecer que, mesmo com a pequena queda na aprovação popular, o governo e, em particular, o presidente Lula, ainda têm muito crédito junto à população e a confiança no Lula influencia o humor e as respostas dos entrevistados”, comentou Simone.
O resultado da pesquisa se reflete em uma rápida constatação nas ruas. Vendedor de uma concessionária de automóveis, Alex Alves Pereira, de 33 anos, viu o movimento minguar nos últimos meses e afirma que a situação piorou muito nos últimos três meses. “As taxas de juros estão muito altas e está tudo muito caro”, resume.
Mas, quando perguntado sobre a tendência para os juros e a inflação nos próximos meses, responde de imediato: “Vão baixar, com certeza”. De onde vem a garantia? “O novo presidente prometeu que vai mudar e a gente tem de dar um tempo para isso”, diz, sem pensar muito.
Ex-bancário, o aposentado Quitério Araújo, de 48 anos, só não se encaixa no perfil das respostas no item de expectativa de aumento de consumo. “Comprar? Com que dinheiro?”, responde, com nova pergunta. Mas, quando o assunto é o rumo da economia, Araújo não esconde o otimismo.
“O governo está fazendo a coisa certa. Não há condições de liberar os juros agora. As pessoas não têm dinheiro, mas, com crédito, elas acham que têm”, comenta, falando sobre o risco de aumento excessivo de demanda.
Medo do desemprego ainda é alto
O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou estabilidade quanto à satisfação dos entrevistados com a vida que estão levando. O medo do desemprego no segundo trimestre também foi equivalente ao dos primeiros três meses do ano, mas teve um aumento considerável em relação ao mesmo período do ano passado. “Essa é uma pesquisa de opinião, não é um indicador quantitativo. Temos de ter muito cuidado com as interpretações, as inferências desse levantamento”, pondera Simone Saisse, coordenadora-adjunta da sondagem de opinião.
De qualquer forma, 40% dos entrevistados disseram ter muito medo do desemprego; 26% revelaram “um pouco de medo”, e 10% disseram já estarem desempregados. Somente 23% responderam que não têm medo e 1% não respondeu.
Também a expectativa de aumento de desemprego é grande: 44% acham que a taxa vai aumentar, mas mesmo assim o índice é menor do que o registrado no primeiro trimestre, quando 59% disseram que a tendência do desemprego nos próximos seis meses tende a aumentar.
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