Dizem algumas pesquisas que os níveis de confiança nas pessoas são substancialmente menores do que, por exemplo, nos Estados Unidos e no Norte da Europa. Pelas bandas de cá ninguém mais acredita em ninguém, sobretudo se os políticos estiverem em causa. Estereótipos à parte, pode-se dizer que estas pesquisas que conferem baixa confiabilidade ao próximo abaixo do sul do Rio Grande, divisor dos EUA com o México, têm lá sua verdade. Por quê? Possivelmente porque sejamos mais tolerantes com a mentira. Como quase não se paga um alto preço social por mentir, a desconfiança passa a ser generalizada é uma resposta razoável.
Acontece que o bom funcionamento da ordem política, econômica e social depende em grande parte da confiança, da verdade e do respeito entre os cidadãos. Pois deste e de outras temas relativos ao nosso atraso e à baixa taxa de moralidade nas coisas públicas trata um livro que faz merecido sucesso nos Estados Unidos, cujo título é A Cultura Importa. A obra é o resultado de um seminário realizado na Universidade de Harvard sobre a responsabilidade das classes dirigentes latino-americanas em nosso contínuo desastre econômico e institucional. São vários os autores, mas todos perfilham com mais, ou menos, intensidade as lições de Max Weber, o grande sociólogo alemão.
A tese de Weber, com desculpas pela inevitável simplificação, sustenta que a cultura pesa, determina, inclina, predispõe e acaba por decidir porque algumas nações prosperam e outras parecem condenadas à pobreza e à licenciosidade, enquanto seus povos não mudarem de hábitos, crenças e valores. Não seria correto, segundo seus autores, atribuir nossas misérias à sádica exploração de outros países ou à geografia e à distribuição de recursos naturais.
A Suíça continua sendo um dos países mais ricos do mundo e sua população desfruta de uma formidável qualidade de vida, sendo gelada, montanhosa, sem saída para o mar e dividido em três etnias. É claro que nem todas as nossas deficiências têm causas culturais, mas elas, ao fim e ao cabo, são as que conduzem os destinos de um povo.
Os nossos escândalos que são municipais, estaduais e federais, estão se sucedendo em velocidade cruzeiro e têm deixado os brasileiros em estado de pasmosa perplexidade. Não se pode aspirar a viver numa democracia se não prevalecerem minimamente os valores éticos e que eles sejam não apenas respeitados, mas também valorizados. O sistema democrático não se impõe aos cidadãos. É o contrário. Chegou o momento de os brasileiros começarem a examinar esta premissa: a cultural. Aqui a esperteza vale mais que inteligência, e enquanto ela valer mais não se pode esperar grandes mudanças. É lamentável.
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