As manifestações e o dilema do PT

 

Opinião - 20/03/2014 - 13:49:14

 

As manifestações e o dilema do PT

 

Renato Simões * .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Renato Simões é deputado federal (PT/SP)

Renato Simões é deputado federal (PT/SP)

Agora que passou o Carnaval, o PT e o Governo Federal precisam enfrentar um desafio, antes que as manifestações populares pelas mais variadas reivindicações avancem.

Uma furiosa reação conservadora contra as manifestações populares do começo do ano coloca a esquerda contra a parede com duas iniciativas legislativas (as que propõem tipificar os crimes de terrorismo e de desordem pública) e uma ofensiva midiática fascista contra a esquerda (nossas teses, nossos movimentos, nossos partidos, nossos governos).

O quadro deste primeiro trimestre aponta para a disputa das ruas, neste primeiro momento, por bandeiras ideológicas muito distintas daquelas que inspiraram as grandes manifestações de junho de 2013. Do direitismo da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que se pretende reeditar no cinquentenário do Golpe Militar – de triste memória – ao esquerdismo das manifestações com o eixo "Não Vai Ter Copa", as ruas vão sendo ocupadas por militantes, sem maior repercussão na massa d@s trabalhador@s e do povo, e salpicadas de episódios de violência que foram utilizados pela repressão policial e pela ofensiva midiática para isolar e estigmatizar vários de seus sujeitos políticos.

O PT e a esquerda democrática e popular, seus partidos e movimentos sociais organizados, não podem ficar refém desta bipolarização fadada ao isolamento. O aprendizado de 2013 nos indica que um projeto de transformação social passa pela mobilização popular, não apenas pela luta institucional. Novas gerações fizeram, no ano passado, seu primeiro aprendizado de ação política de massas, com suas limitações e virtudes.

O estranhamento do PT, demais partidos de esquerda (de situação e de oposição), das centrais sindicais e movimentos sociais tradicionais levou, já naquele momento, a que figuras expressivas de nosso campo tenha se colocado na trincheira contrária das manifestações, como se estas fossem contra nossos objetivos de transformação social.

O PT e os outros partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos sociais não podem deixar as ruas. Ali nascemos, crescemos, nos fortalecemos e ali devemos construir novas relações e correlações de força que façam avançar nosso programa. Essa foi a posição que acabou prevalecendo e que permitiu à Presidenta Dilma apresentar sua plataforma de pactos para o enfrentamento das reivindicações sociais e políticas das ruas.

As manifestações possibilitaram ao PT e aos movimentos sociais recuperarem as condições de diálogo e trouxeram conquistas para toda a população (barateamento das passagens de ônibus, 10% do PIB e royalties do petróleo para a educação, Mais Médicos, investimentos na infraestrutura de transporte urbano, criminalização dos corruptores e tantas outras).

Essa concepção está novamente na berlinda. Acuado pelo conservadorismo da crítica, dentro do PT e do governo se buscam mediações que nada mais são do que concessão às pressões da direita e a criação de instrumentos que serão, possivelmente, usadas contra nós mesmos no presente e no futuro. O uso das Forças Armadas nas ruas contra movimentos sociais, a legitimação da violência institucional das polícias, a criação de tipos penais que aprofundam a criminalização dos movimentos sociais não são iniciativas que devam ser respaldadas pelo PT.

Abrir essa “caixa de Pandora” numa conjuntura teoricamente favorável – afinal, somos Governo e estamos na frente – é um perigoso precedente para conjunturas adversas, ainda mais em uma conjuntura na qual temos muitas razões para ir às ruas, como fizeram recentemente milhares de manifestantes do MST em Brasília, por reivindicações sociais e políticas de amplo respaldo popular. Temos pela frente os 50 anos do Golpe Militar de 1964, momento de encontro da sociedade brasileira com seu passado, seu presente e seu futuro. Temos as campanhas de mobilização, no campo e na cidade, que movimentam no primeiro semestre as centrais sindicais, o movimento indígena, os movimentos agrários, os movimentos de moradia, os movimentos estudantis. Temos a mobilização permanente da Campanha do Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva e Soberana para a Reforma do Sistema Político, que com certeza irá num crescente até setembro. Todas essas lutas serão reforçadas ou enfraquecidas pela escalada da repressão aos movimentos sociais? Quem se beneficiará e se fortalecerá em cada um desses cenários?

2013 foi o ano da retomada das grandes manifestações de massa por bandeiras sociais e progressistas. Seu reflexo foi extremamente positivo e o aprendizado muito importante para o PT e para todo o campo democrático e popular. Seus dilemas estão aí para serem enfrentados. É da natureza plural das ruas que esse espaço seja disputado. A direita tenta, mas não consegue, emplacar uma presença neste terreno que sempre foi nosso. O esquerdismo não sensibiliza multidões. Cabe ao campo democrático e popular ocupar as ruas com suas plataformas e bandeiras, dialogando com a juventude e os setores não organizados em nossas tradicionais instituições e movimentos. E não será associando nossa imagem à repressão e ao conservadorismo que chegaremos lá.

* Renato Simões é deputado federal (PT/SP)



Links

...Continue Lendo...

...Continue Lendo...

Vídeo