Todo mês é o mesmo ritual. Dias antes do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom)do Banco Central, políticos, empresários e até pessoas sem conhecimento técnico sobre a taxa básica de juros opinam sobre o patamar em que a Selic deve ficar e seus resultados na economia. Esse quadro foi intitulado recentemente, pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como Tensão Pré-Copom (TPC). O diferencial, deste mês, é que muitos especialistas acreditam que a redução poderá atingir até dois pontos percentuais. Atualmente as taxas estão fixadas em 26% ao ano.
Mesmo se confirmada a previsão do mercado, na quarta-feira, as expectativas sobre o efeito ou impacto imediato na economia são conservadoras. Crê-se que a principal conseqüência será psicológica. Só depois, então, prática. É o caso do economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Ele aposta que a queda na taxa básica de juros só se refletirá no nível de emprego, na atividade industrial e na renda do trabalhador num período entre seis e nove meses. Salientou, inclusive, que a primeira baixa nos juros, efetuada pelo governo Lula, de 0,5 ponto percentual, no mês passado, nem foi sentida ainda.
Castelo Branco estima que o Copom deverá reduzir a Selic em, no mínimo, 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira. Segundo ele, com uma inflação em 7% ao ano e taxa básica de juros em 26%, o juro real, que a indústria paga, hoje chega aos 18%. Lembra, ainda, a dificuldade que a indústria tem em criar postos de trabalho nessa conjuntura. “O emprego começa a acender uma luz amarela” o que pode significar mais desemprego no segundo semestre deste ano. “Com a tecnologia, sempre é possível trabalhar com menos gente”, disse.
Com inflação, o impacto médio da redução na taxa básica de juros da economia é avaliado em nove meses pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). “A queda dos juros trará mais investimentos e mais crédito para a economia. O mercado já antecipou a decisão do Copom, só falta homologar, e com isso, os preços dos produtos já começaram a cair”, disse o economista-chefe da Febraban, Roberto Luiz Troster.
A redução de dois pontos percentuais na Selic é esperada também pelo chefe do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), José Matias Pereira, que avalia a decisão como uma demonstração de que o governo tem o intuito de fechar o ano com a taxa “bem mais baixa”, mesmo se a queda for considerada modesta, ou de “apenas” um ponto percentual.
Pereira defende que o componente juro é fator vital para retomar o processo de crescimento da economia. Acredita, inclusive, que o sucesso nas reformas previdenciária e tributária funcionaria como catalisador da reativação econômica. Isto é, em conjunto com a política monetária.
A lentidão para que o efeito na ponta atinja o trabalhador é apontado, por Pereira, como uma demonstração de que o sistema bancário brasileiro trabalha com uma margem de lucro elevada demais. “O sistema financeiro está oligopolizado e precisa refletir sobre a ganância excessiva que acaba prejudicando a população”, disse o especialista.
De acordo com dados do BC, a margem de lucro dos bancos responde por 40% do spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e a cobrada aos clientes).
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, os bancos teriam, realmente, que diminuir os seus ganhos para que o spread caísse. Tributos e compulsórios (depósitos que os bancos são obrigados a fazer junto ao BC) representam 29% na composição do spread bancário, inadimplência, 17%, e as despesas administrativas, 14%.
Importância da Selic
A taxa baliza os juros cobrados no crediário e em todas as modalidades de crédito disponíveis no mercado, pois é utilizada pelos bancos na hora de tomar recursos emprestados em operações feitas entre as instituições. O governo também sente os efeitos de alterações na taxa básica de juros da economia porque a cada ponto percentual de redução na Selic, há uma economia de 0,26 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) - volume de riqueza gerado pelo país no período de um ano.
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