O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues disse ontem, em Rosana, no Pontal do Paranapanema (SP), que em sua luta contra o latifúndio, o MST segue o exemplo dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando era líder sindical na região do ABC, na Grande São Paulo, na organização das greves de metalúrgicos. Segundo ele, o presidente jamais se manifestou contra as invasões de fazendas porque também fazia a invasão de fábricas. “Temos Lula como nosso referencial de luta, pois aprendemos com ele a organizar o povo e lutar.”
Segundo Rodrigues, não há porque o presidente ser contra as invasões, pois é uma forma de enfrentar o latifúndio, que ele considera prejudicial ao País. “Seria o mesmo que ser contra a greve, mas foi Lula que nos ensinou a fazer greve no ABC. Ele é o nosso referencial”, disse Rodrigues, que participou da 7ª Romaria da Terra e das Águas do Estado de São Paulo, que reuniu cerca de 3,5 mil pessoas em Rosana.
Organizado pela Igreja Católica e pelo MST, o evento teve a presença de bispos d. Maurício Grotto, de Assis, e d. José Maria Libório Sarachio, de Presidente Prudente, e serviu de palco para manifestações contra o latifúndio e a favor da reforma agrária.
Considerado um dos principais líderes do MST no País, Rodrigues cobrou do presidente uma posição mais explícita em defesa das invasões como forma de luta contra a concentração de terras. “A ocupação não atinge o Governo, mas o latifúndio. Se Lula é contra a ocupação, é a favor do latifúndio.” Segundo ele, o movimento quer ser parceiro do Governo em todos os aspectos, mas com autonomia para invadir terras.
João Paulo Rodrigues, 23 anos, faz parte da jovem liderança do MST, oriunda principalmente dos assentamentos agrários. Ele integra o grupo de coordenação nacional do MST – organismo que fica logo abaixo do comitê de direção, o mais importante da organização e cujos integrantes são eleitos a cada dois anos (nele estão instalados dirigentes mais antigos, como João Pedro Stédile, Gilmar Mauro e Roberto Baggio).
STÉDILE – Rodrigues defendeu o líder nacional do MST João Pedro Stédile, acusado de incentivar a guerra dos sem-terra contra os fazendeiros. “Stédile sempre falou daquela maneira e está sendo o bode expiatório das elites que querem atacar o Governo.” Segundo ele, o líder não quis incentivar a violência. “A natureza da reforma agrária é o conflito, mas não a violência.” Rodrigues repetiu Stédile ao considerar o latifúndio uma maldade contra o povo brasileiro. “Vamos continuar infernizando a vida deles.”
Durante as celebrações, o bispo de Assis, d. Maurício Grotto, disse que a ocupação das terras devolutas e improdutivas não fere o estado de direito democrático, nem constitui violência.
“Ocupação organizada e cruelmente violenta é o roubo do dinheiro público, feita por políticos inescrupulosos.”
Ontem o MST realizou invasões em Minas Gerais e no Paraná. Os sem-terra também retomaram a marcha no Rio Grande do Sul.
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