Para vender caças, lobista prometeu investimento em São Bernardo, berço político de Lula
Da Redação .
Foto(s): Montagem
Lula, Marcondes e Luiz Marinho
Mauro Marcondes, 79, preso na Operação Zelotes, teria utilizado como argumento, em seu trabalho de lobby para a venda dos 36 caças Gripen da Saab para o governo brasileiro, a promessa de que a Saab investiria em São Bernardo do Campo, no Grande ABC, berço do PT e residência do ex-presidente Lula, US$ 200 milhões em contrapartida ao contrato.
A promessa chegou a ser minutada em carta apreendida pela PF e teria o ex-presidente Lula como destinatário. Em depoimento à PF, Lula teria negado conhecimento do fato e de tal comunicação.
Alguns dos requisitos para a escolha da empresa fornecedora dos caças feitas pelo governo brasileiro eram:
A transferência de tecnologia;
investimentos em território brasileiro.
Além dos suecos, disputaram a fase final do processo uma empresa norte-americana, a Boeing, e a francesa Dassault.
No final de janeiro de 2014, Luiz Marinho, PT, chegou a dizer que "Eu sou bom pra caralho", durante entrevista sobre a instalação da fábrica de caças suecos em São Bernardo.
Em outro documento apreendido pela PF, existe o registro de uma tentativa de reunião com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, PT, para tratar do "centro de desenvolvimento de tecnologia da Saab".
Na minuta de carta que teria Lula como destinatário, Marcondes diz esperar que o ex-presidente compartilhe "nosso entusiasmo com o projeto Gripen NG". Marcondes pede que Lula estipule uma data para "conversar pessoalmente, caso considere viável" e solicita que, como "não tem a mesma liberdade com a presidente Dilma Rousseff", que a carta seja encaminhada "a quem considerar melhor".
A declaração, gravada pelo GLOBO, foi feita durante entrevista concedida pelo prefeito e por dirigentes da Saab na prefeitura de São Bernardo, no ABC paulista.
Em outubro passado, a empresa formada da união da Saab com uma brasileira confirmou que deverá abrir em São Bernardo, ainda no primeiro semestre de 2016, uma unidade ligada à produção dos caças, com uma estimativa de abertura de 1.300 postos de trabalho.
Em outro minuta apreendida pela PF, esta dirigida ao ex-presidente da Scania na América Latina, Sven Antonsson, Marcondes afirma ter "ligação" com Lula.
"(...)Tenho convicção que eu posso ajudar muito a empresa e o setor, em função da minha ligação com o Presidente da República, vários ministros de Estados e as instituições ligadas à indústria", escreveu Marcondes. Não há qualquer confirmação de que a carta teria sido encaminhada ou mesmo recebida pelo executivo da Scania.
Indagado pela PF no último dia 7 sobre a minuta da carta, o lobista Mauro Marcondes exerceu o direito de permanecer em silêncio.
Em coletiva de imprensa em 2014, o prefeito Luiz Marinho confirmou ter atuado em benefício da Saab para obter investimentos no município.
Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e investigado na Operação Zelotes, é suspeito, também, de ter recebido dinheiro do suposto negócio que selou a compra de 36 aviões-caça da empresa sueca Saab para a FAB (Força Aérea Brasileira).
A suspeita é da PF (Polícia Federal), para quem Lula prestou depoimento, no qual classificou a suspeita como "um absurdo".
Em depoimento à PF e aos investigadores da Zelotes, o ex-presidente negou que os repasses a Luís Cláudio eram "alguma contraprestação por serviços prestados" por Lula "à Saab para que essa viesse a vencer a concorrência para a compra dos caças".
Em nota neste domingo (31), a assessoria do Instituto Lula informou que o ex-presidente "já respondeu tais questões", em depoimento à PF, acerca da minuta de carta elaborada pelo lobista Mauro Marcondes. Segundo o instituto, "não há porque [por que] comentar notícias requentadas".
Saab e Scania não foram localizadas para comentarem a questão.
Com informações da Folha de São Paulo, Estadão Conteúdo, o Globo, Instituto Lula e MPF / Polícia Federal.