O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não surpreendeu os candidatos e professores quanto à estratégia de usar temas atuais para abordar conceitos das diferentes disciplinas. Assuntos como a crise dos refugiados na Europa, a manutenção de comportamentos machistas na sociedade atual e as recentes discussões sobre a democratização de espaços urbanos, por exemplo, poderiam ser mais facilmente respondidos por quem dedicou parte do estudo ao noticiário recente.
Questões de filosofia sobre Platão e as ditaduras em países da América Latina no século 20 voltaram a ser objeto de avaliação do exame. Na história, a abordagem de questões sociais como a discriminação racial e a política brasileira foi elogiada por quem fez ou teve acesso ao caderno após as provas.
O professor de história Tiago Diana, coordenador pedagógico do Colégio Projeção, considera importante trazer à tona questões relativas ao ensino de africanidades, muitas vezes deixado de lado pelas escolas.
“O Enem sempre tem mostrado a importância desses temas. A prova, até pela quantidade de informações, é a chance de o candidato ter um pouco mais de conhecimento. Com certeza ele sai da prova melhor do que chegou, em termos de informação. É [a oportunidade de o estudante] olhar para o país, refletir, pensar no presente e no passado, ver que esses resquícios da história continuam presentes”, afirma.
Considerada a mais difícil por muitos estudantes, a prova de química chamou a atenção do professor Jônatas Gonçalves, que dá aulas nos colégios Pódion e Sigma, por trazer expressões de difícil compreensão e aprofundar-se em tópicos distantes do aprendizado médio dos estudantes. De acordo com ele, o conteúdo repassado ao longo dos três anos de ensino médio é "muito amplo" e "pouco explorado no Enem".
Jônatas reconhece a importância de lidar com temas espinhosos por meio de fatos do cotidiano, mas alerta para a possibilidade de o texto “assustar” o estudante e impedi-lo de resolver com tranquilidade a questão. “Acredito que o exame aprofundou este ano na característica conteudista. A prova de química está fora da realidade da população brasileira. Certamente está muito acima do nível para qualquer aluno responder. Seja de escola pública ou privada, sem duvida os estudantes tiveram dificuldade”, critica.
Candidatos avaliam as provas do primeiro dia: maioria achou difícil
Os primeiros candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que deixavam um dos locais de prova mais movimentados da capital paulista, a Universidade Paulista (Unip) Vergueiro, consideraram o primeiro dia de exames difícil.
Hoje, os estudantes responderam a questões de ciências humanas e da natureza e suas tecnologias. Parte dos candidatos ouvidos pela Agência Brasil elegeu química como a disciplina mais difícil.
“A prova estava mais complicada do que no ano passado. Química e biologia estavam mais difíceis. Todas as questões eram possíveis de responder, mas estavam complicadas”, disse Andressa da Silva Ferreira, 18 anos. A estudante disse que já cursa ciências contábeis em uma faculdade particular, mas faz o Enem com objetivo tentar uma bolsa integral.
Beatriz Nemes, de 17 anos, quer estudar licenciatura em música na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ela considerou química e física as disciplinas mais difíceis. “Mas era só ler com atenção, para quem estava preparado, ficou fácil”, disse.
Alexandre Melo, de 17 anos, pretende cursar economia na Fundação Getulio Vargas. Para ele, parte da prova tinha grau maior de dificuldade. “Achei a parte de ciências humanas fácil, mas ciências da natureza estava bem difícil. Tinha uma questão sobre o significado do símbolo da Organização das Nações Unidas (ONU), achei nada a ver”, afirmou.
São Paulo é estado com maior número de inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com 1,4 milhão de pessoas, equivalente a 16,3% do total no país. A capital paulista tem 364,7 mil inscritos.
Os gabaritos das provas objetivas serão divulgados na página do Inep, no endereço eletrônico http://portal.inep.gov.br/enem e no aplicativo do Enem, até o terceiro dia útil seguinte ao de realização da prova.
Salvador
Os candidatos que fizeram o primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) avaliaram, de modo geral, como “difícil” e “complexa” a prova de hoje (4). Os estudantes tiveram quatro horas e 30 minutos para responderem às questões objetivas de ciências humanas e de ciências da natureza.
“Achei boa a prova, mas ciências naturais foi a parte mais difícil. Eu estudava cinco horas por dia, além do tempo no cursinho. Outra coisa que me deixou meio desestabilizada emocionalmente foi a incerteza sobre a minha prova, se seria adiada ou não”, conta a estudante Nathália Garcia, de 18 anos; Ela participa do Enem pela terceira vez e agora quer entrar no curso de medicina em alguma universidade pública.
O estado da Bahia é o terceiro com o maior número de inscritos para o exame (664.697), atrás de São Paulo (1.404.276) e Minas Gerais (948.558). Mais de 30 mil candidatos baianos, em 30 cidades, tiveram as provas adiadas para 3 e 4 de dezembro, por causa das ocupações estudantis contra a reforma da educação e a proposta de emenda à Constituição que limita os gastos públicos.
Em Salvador, a aplicação do Enem em quatro departamentos da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) foi adiada. Apesar disso, os estudantes contestam a decisão, já que ocuparam apenas a reitoria.
Dificuldades
Aos 55 anos, Eloísa Menezes tem vontade de cursar uma universidade e resolveu fazer o Enem. Ela, no entanto, conta que considerou a prova com nível muito alto, sobretudo para quem trabalha ou não tem acesso a uma educação de qualidade.
“Estudei muito pouco, por falta de empenho e porque não tenho muito tempo. Houve questões muito longas, que desgastam a cabeça e levam muito tempo de prova. Amanhã é a redação e estou animada, porque passei a gostar de escrever”, destacou a candidata. Ela acredita a redação de amanhã (6) terá como tema corrupção na política.
Outro candidato que alegou falta de tempo para preparar-se foi o vigilante Edvan Vieira, 28 anos. Mesmo achando a prova “um pouco difícil”, ele acredita que teve rendimento melhor que na edição anterior do Enem.
“Espero conseguir nota suficiente para entrar na faculdade de Engenharia Elétrica. A parte mais difícil foi de humanas, mas gostei um pouco de química e física. Amanhã tem matemática, que gosto, e também tem redação, que não é o meu forte”, diz Edvan. Ele espera uma redação sobre o vírus Zika e os casos de microcefalia no país.
Para a prova de amanhã (5), os portões dos locais de prova na Bahia ficarão abertos entre 11h e 12h (12h e 13h, no horário de Brasília), por causa do horário de verão. Os estudantes terão cinco horas e 30 minutos para responderem às questões objetivas de linguagens e códigos, matemática e redação.
Rio de Janeiro
A prova do Enem aplicada neste sábado (5) foi considerada fácil por alunos que fizeram o teste no Rio. Entre as matérias mais difíceis, os estudantes citaram química em primeiro lugar, bem como as demais da área de exatas.
“Foi tranquilo, acho que fui bem. O exame foi um pouco mais difícil em algumas questões, mas no geral foi bom. Química deu uma puxada de matérias do primeiro ano. Fui melhor em história, acho que a maioria acertei”, disse o estudante Elber Costa, que busca uma vaga em arquitetura e fez o exame do campus da Universidade Veiga de Almeida, no bairro da Tijuca. “Vamos ver o tema da redação, mas estou bem preparado”, completou ele, que deseja atingir pelo menos 700 pontos.
“Eu não achei muito difícil. A prova foi bem tranquila. Tinha várias coisas que já aprendi. Achei física mais difícil. Estou fazendo apenas como teste, pois ainda estou no segundo ano”, disse Giulia Alcântara. Ela caminhava pela calçada, tentando se proteger do alagamento durante um temporal que caiu na zona norte do Rio na hora do fim da prova.
“Foi tranquilo. Achei mais difícil as partes de química e de exatas. Eu fui melhor em exatas, apesar de serem as mais difíceis. Para a redação estou bem preparado, pois leio bastante”, disse Irineu Paradela, que deseja uma vaga em psicologia.