O atentado contra a sede da ONU em Bagdá, no início da semana, onde pelo
menos 23 pessoas morreram, entre eles o representante especial das Nações
Unidas no Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, é uma manifestação
clara e inequívoca, de indivíduos ou grupos extremistas contra cidadãos,
instalações, empresas e interesses. Uma guerra declarada contra a comunidade
internacional, em particular contra os norte-americanos.
Táticas terroristas já vêm sendo usadas há muitos séculos e, em muitos
países do mundo, em diversas épocas, mas vêm recrudescendo nos últimos
tempos. O objetivo principal é desestruturar o inimigo dentro de seu próprio
país ou área dominada. Dizem os especialistas que "essa prática, devido ao
seu baixo custo, torna-se a única forma de atingir um inimigo que é
numericamente superior ou mais forte, causando pesadas baixas e, mais do que
isso, instituindo o terror em seus habitantes, o que gera pressão política
para talvez forçar o inimigo a recuar".
Os atentados terroristas em Israel, Espanha ou África, entre outros, apesar
de seu alto preço, parece não ter fim. O brutal e devastador ataque
perpetrado contra os escritórios da ONU, em Bagdá, foi um sinalizador. Nunca
havia acontecido um atentado dessa magnitude contra as Nações Unidas e ele
pretendeu criar uma situação de confronto direto das forças dominadoras.
Buscar os culpados sem ferir interesses e posições radicalizadas, sem
provocar polêmica, é impossível, pois tanto cidadãos pacíficos quanto
terroristas se acham com a razão. Diante da gravidade deste mais novo
atentado, abre-se a oportunidade para os tradicionais balanços e
prognósticos setoriais. Estabelece-se um autêntico exercício de futurologia
com a intenção de prever o mundo daqui a algum tempo, principalmente por
aqueles que se credenciam como maiores conhecedores do assunto, dentre eles:
mães de santo, cartomantes, astrólogos, enfim, especialistas de vários
matizes. Serão feitas previsões para as tradicionalíssimas perguntas: O que
acontecerá? Quais são as perspectivas disso? Daquilo? Daquilo outro? O que
acontecerá com ele? etc, e daí por diante.
Assim sendo, cabe também se perguntar: e o turismo, o que acontecerá com o
ele, diante deste fato gravíssimo? Essa pergunta, já vinha sendo feita desde
os atentados terroristas sobre o World Trade Center, em New York, no dia 11
de setembro de 2001. Aqueles marcantes episódios que se sucederam sem dúvida
afetaram abrupta e profundamente a atividade turística mundial desde então e
vem deixando incrédulo e inseguro todo o setor.
Acredita-se serem passageiros os efeitos diretos e indiretos destes atos
terroristas sobre o turismo mundial, no longo prazo, quando espera-se que a
atividade retome o seu caminho e, com naturalidade, as transformações que se
prenunciam, tal qual vinha acontecendo, desde o final dos anos 90. E qual
será esta trajetória?
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo é "uma atividade
econômica representada pelo conjunto de transações -compras e vendas de
serviços turísticos- efetuadas entre os agentes econômicos do turismo e
gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos
limites da área em que têm residência fixa".
Aceita esta afirmativa como verdadeira, pode-se dizer que o futuro do
turismo mundial será promissor, uma vez que as pessoas não deixarão de se
deslocar por motivos rigorosamente turísticos. Elas deverão, mesmo diante do
temor de novos atentados terroristas, continuar se deslocando para fora de
seu entorno habitual, seja por motivo de ócio ou de negócio e continuarão
realizando transações de compras e vendas de bens e serviços turísticos.
Pode-se dizer, portanto, que o turismo será uma atividade expansiva no longo
prazo e, inexoravelmente, haverá de garantir emprego e renda para as
pessoas.
Quanto às modificações que se prenunciam, ao se conceber um cenário futuro
da atividade turística mundial, pode-se dizer que muita coisa vai mudar,
principalmente em razão da profunda e acirrada competição que se instalou no
âmbito da atividade turística, seja no nível local, nacional ou
internacional. Pode-se afirmar com certeza que os agentes do turismo
buscarão uma melhoria da qualidade na prestação dos serviços. Também,
pode-se dizer que o turismo passará por profundas e importantes mudanças em
direção a novas experiências. A atividade, antes condicionada a um público
de maior poder aquisitivo, menos consciente, exigente e dispendioso,
trabalha para atender um público com novo perfil: de cliente com poder
aquisitivo limitado, que deseja produtos e serviços de qualidade a custo
baixo, muito exigente e disposto a interagir com as atrações turísticas.
Aquele que com certeza sequer havia viajado antes, quanto mais, feito
viagens luxuosas, caras e prolongadas.
Em resumo, pode-se dizer que, neste mundo globalizado, mesmo não sendo
pitonisa ou profeta, mas com uma certa dose de acerto, que, à primeira
vista, diante da concorrência cada vez mais acirrada, de mercados cada vez
mais competitivos, de clientes cada vez mais exigentes e informados e
dispostos a se interagir a atração e a comunidade visitada, a atividade do
turismo vai passar por profundas e inovadoras transformações. Irá também se
consolidar enquanto atividade em expansão e com grandes perspectivas
desenvolvimentistas, mesmo que os terroristas assim não o desejem.
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