O Brasil obteve em julho o maior superávit fiscal para o mês desde 1999, mas os juros altos e a retração da economia elevaram a relação dívida/PIB para o patamar mais alto desde outubro do ano passado, mostraram dados divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira.
Em julho, o superávit primário, que representa a diferença entre as receitas e despesas do setor público, excluindo os gastos com juros, foi de 4,319 bilhões de reais, ante um superávit de 3,982 bilhões de reais registrado no mesmo mês do ano passado.
Com o resultado, o país acumulou nos primeiros sete meses do ano um superávit primário de 44,329 bilhões de reais, ou 5,05 por cento do PIB.
Para cumprir a meta acertada com o Fundo Monetário Internacional para setembro --de 54,2 bilhões de reais ou 4,25 por cento do PIB --, o setor público terá de produzir superávits fiscais médios de 4,9 bilhões de reais nos próximos dois meses.
"Esperamos que a retomada da atividade tenha um impacto importante sobre a arrecadação", afirmou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Luiz Malan. "A meta é totalmente factível."
Em contrapartida, com os juros elevados --que em meados de julho foram reduzidos de 26 para 24,5 por cento ao ano-- a relação dívida/PIB, um dos indicadores acompanhados com mais atenção por analistas, subiu para 57 por cento no mês passado, contra 55,5 por cento em junho.
É o maior patamar desde outubro de 2002, quando a dívida na proporção do PIB estava em 58,47 por cento.
"Esse número não é bom, mostra que a gente ainda tem um problema fiscal e que tem que manter o (superávit) primário elevado", afirmou Adauto Lima, economista do WestLB Banco Europeu.
Malan, do BC, ressaltou que o aumento da relação dívida/PIB também foi influenciado pela retração da economia e pela deflação do Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), índice usado para corrigir os valores do PIB na série da autoridade monetária.
"A tendência é que nos próximos meses haja uma reversão dessas duas tendências", afirmou.
Economistas já prevêem, no entanto, que a relação dívida /PIB possa chegar ao final do ano a algo perto de 60 por cento. "Para o fechamento do ano, é daí para cima", afirmou Elson Aguiar Teles, economista-chefe do Banco Boreal.
DÉFICIT NOMINAL CRESCE
O governo central respondeu por 3,326 bilhões de reais do superávit primário do mês de julho. Já os governos regionais tiveram um déficit de 16 milhões de reais e as empresas estatais, um superávit de 1,009 bilhão de reais.
De janeiro a julho de 2002, o setor público consolidado registrou um superávit de 32,882 bilhões de reais, ou 4,48 por cento do PIB. Em junho deste ano, o superávit foi de 3,029 bilhões de reais.
Apesar da expressiva economia feita pelo setor público em julho, o superávit fiscal não foi suficiente para cobrir os vencimentos de juros, que somaram 14,992 bilhões de reais no mês. Como resultado, o déficit nominal subiu, atingindo o maior valor do ano em termos nominais --10,672 bilhões de reais, ante um déficit de 5,925 bilhões de reais em junho.
No acumulado dos 12 meses até julho, o déficit nominal subiu para 6,0 por cento, o maior valor desde outubro de 1999, quando o déficit acumulado estava em 6,15 por cento.
O BC informou ainda que o aumento de gastos com juros em julho foi decorrente de operações de swap, que deram um resultado desfavorável de 924 milhões de reais por causa da depreciação de 3,26 por cento do real no mês. Além disso, houve elevação da taxa Selic efetiva mensal por conta do maior número de dias úteis em julho.
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