Para Furtado, Brasil tem que se preparar para renegociar dívida

 

Economia - 02/09/2003 - 19:50:15

 

Para Furtado, Brasil tem que se preparar para renegociar dívida

 

Da Redação com Reuters

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

O economista Celso Furtado defendeu nesta segunda-feira que o governo brasileiro prepare o caminho para uma renegociação de sua dívida externa e busque reduzir seu endividamento, um forte entrave ao crescimento econômico. Furtado, um dos mais influentes economistas latino-americanos e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a suspensão de pagamentos da dívida, como fez a Argentina, pode ser um instrumento de barganha importante dentro de um quadro de renegociação. "O Brasil vai ter que resolver e enfrentar o problema da dívida externa. Terá que negociar essa dívida, mas isso mais adiante e quando chegar o momento o Brasil terá que convocar os credores e partir para uma negociação séria, reciclar essa dívida para um período muito mais amplo e taxas mais moderadas", disse ele a repórteres, depois de participar da abertura de um ciclo de seminários sobre desenvolvimento. Perguntado se na mesa de negociações caberia falar em moratória, Furtado, que teve sua candidatura lançada no mês passado para o Prêmio Nobel de Economia de 2004, respondeu: "Poderia ser indispensável declarar moratória dentro de um quadro de negociação. Não é para roubar ninguém, nem enganar alguém". Furtado não comentou quando o Brasil deveria buscar a renegociação da dívida, mas disse que o país está hoje mais preparado para fazê-lo porque ganhou credibilidade junto à comunidade financeira internacional por ter mantido a austeridade fiscal e o compromisso com o combate à inflação. Essa credibilidade, acrescentou, custou muito caro ao país, que terminou o primeiro semestre em recessão e com altos níveis de desemprego. Segundo o economista, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre -- de 1,4 por cento em relação ao mesmo período de 2002 -- mostrou que a recessão ainda é pequena, mas há o risco de uma paralisia mais profunda. "Não se pode ignorar que esse 1 a 2,0 por cento de hoje em dia pode chegar a 5, 7, 8 por cento (de queda) que num país como o Brasil, que já tem muito desemprego, é gravíssimo", disse ele, acrescentando que a projeção do governo de um crescimento de 3,5 por cento em 2004 é um sonho. Numa renegociação da dívida, o Brasil teria que estar preparado para tempos difíceis, que provavelmente seriam marcados por uma forte queda no ingresso de capital estrangeiro, disse Furtado. Ele ponderou, no entanto, que o país enfrentaria menos dificuldades que no passado. "O mercado financeiro se fecha até certo ponto porque ninguém quer perder o Brasil. O Brasil é um bom cliente", disse ele. O economista também evitou comentar se o Brasil deve ou não renovar um acordo de empréstimos que disponibilizou 30 bilhões de dólares ao país junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e termina no final deste ano. "Para julgar, qualquer pessoa pode dizer isso ou aquilo, mas é preciso ter informação que o governo é quem tem. O risco que representa uma mudança brusca é muito grande. Portanto, o que o governo deve estar preocupado é evitar solavancos, evitar riscos maiores", afirmou.

Links

...Continue Lendo...

...Continue Lendo...

Vídeo