O professor Hélio Jaguaribe é um velho e contumaz “catastrofista” brasileiro. Há décadas repete o anúncio do mesmo apocalipse: “Se o Brasil não fizer as reformas já, estará condenado a uma irremediável catástrofe”. Não é que, talvez ele não tenha razão, a questão é que esgotam-se os prazos estabelecidos pelo professor sem que tenhamos conhecido a catástrofe. Pelo menos como definida no dicionário do Houaiss, ou seja, “acontecimento desastroso de grandes proporções que provoca morte e destruição. Calamidade, tragédia, flagelo, hecatombe”.
Diz o antigo ideólogo do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o flendário ISEB, que “quem não conseguir se liberar neste período (20 anos) vai virar província dos Estados Unidos”. O professor Hélio Jaguaribe tem um currículo longo, rico e invejável e é autor de dezenas de trabalhos que gravitam entre a filosofia, a história, a sociologia e a ciência política. Mas apesar de suas respeitáveis titulações há sempre um “quê” de ingenuidade em suas observações. Na entrevista concedida ao jornal “O Globo”, na última semana, propõe que seja adotada uma política de controle de capitais puramente especulativos, de modo que no curso do tempo o volume de capital estrangeiro continue o mesmo e o nacional tenha aumentos, numa proporção de 30% para o primeiro e 70% para o segundo.
Está aí uma proposta com a qual ninguém discorda, nem a direita, nem o centro e muito menos a esquerda. A questão é encontrar mecanismos eficazes de controle de capital especulativo, façanha que só será possível através de um amplo e penoso acordo internacional, um arranjo consensual em que a posição do Brasil, infelizmente, não pesará muito. Seguem-se na entrevista outras acacianices e truísmos repetidos ad nauseam.
Pois bem.
Há, porém, um tema em que as opiniões do professor Jaguaribe são oportunas e valiosas. É quando trata da reforma política, que, no Brasil, é sempre transferida para a legislatura seguinte. Diz ele que o povo brasileiro está mal representado porque os partidos políticos (abre exceção ao PT e em pequena escala ao PFL e PSDB) não têm nenhuma significação pública. Sustenta que a reforma política tem a mesma importância e a mesma urgência que as demais. Sem ela, o Brasil não conseguirá ser uma democracia representativa moderna e continuará sendo o que é: uma democracia clientelística. Sem representatividade e sem representabilidade.
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