O ex-ministro iraquiano da Defesa, visto ao lado de Saddam Hussein na sua última aparição pública, se rendeu na sexta-feira às tropas norte-americanas, segundo um mediador iraquiano.
Hashim Ahmed era o número 27 na lista dos iraquianos mais procurados pelos EUA. Ele se entregou em uma casa de Mosul, no norte do país, segundo o ativista de direitos humanos Dawood Bagistani.
A notícia foi um alento para as tropas dos EUA no Iraque, depois de uma noite em que três soldados foram mortos e dois ficaram feridos por ataques de guerrilheiros perto de Tikrit, a cidade-natal de Saddam. Foi a ação mais letal em várias semanas contra a ocupação.
Um comandante norte-americano disse que seus homens capturaram 40 iraquianos suspeitos durante o confronto, que durou toda a noite.
Com a rendição de Ahmed, os EUA já prenderam ou mataram 40 das 55 pessoas mais procuradas do antigo regime. O ex-chefe do Exército aparece em um vídeo em que Saddam acena para a multidão em um subúrbio de Bagdá em 9 de abril, o dia em que as tropas norte-americanas ocuparam a cidade.
Passado todo esse tempo, o paradeiro de Saddam continua desconhecido. Há rumores de que os militares em Mosul estariam próximos de capturar Izzat Ibrahim, o sexto na lista, que era vice-presidente do Conselho do Comando Revolucionário e, portanto, estava no centro da estrutura de poder.
Bagistani disse que Ahmed se rendeu após negociações nas quais os EUA concordaram que ele era inocente de "crimes". Os norte-americanos não comentaram o assunto.
'É um compromisso moral do governo dos EUA. Nosso papel foi só entregá-lo pacificamente", disse Bagistani. "É verdade que ele serviu ao governo iraquiano, mas ele é inocente e nós queremos que vocês (os EUA) o tratem honestamente."
Em 1991, na Guerra do Golfo, Saddam escolheu Ahmed para comandar a delegação iraquiana que foi à fronteira com o Kuweit negociar um cessar-fogo. Ele era o oito de copas no baralho distribuído às tropas para ajudar na captura.
GUERRILHA E DIPLOMACIA
Durante a batalha de Tikrit, os soldados dos EUA tentavam localizar uma granada-foguete quando foram atacados.
Com as novas baixas, já são 76 soldados mortos em ação no Iraque desde 1o. de maio, quando o presidente George W. Bush declarou encerrada a fase dos principais combates. Os ataques diários e o custo elevado da ocupação levaram os EUA a buscar na Organização das Nações Unidas (ONU) uma resolução que encoraje mais países a enviarem tropas e dinheiro para estabilizar o Iraque.
Mas Bush disse a jornalistas na residência de Camp David que não espera um acordo a respeito disso no Conselho de Segurança antes da próxima semana, quando ele discursa na Assembléia Geral da ONU.
Em Nova York, diplomatas disseram que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, está exigindo que a entidade tenha um mandado claro e independente no Iraque antes de enviar de volta para lá os seus funcionários civis.
Muitos deles deixaram o país depois do atentado de 19 de agosto contra a sede local da ONU, que matou 22 pessoas, inclusive o chefe da missão, Sérgio Vieira de Mello.
Dois dos países que mais se opuseram à guerra, França e Alemanha, disseram temer pela piora da situação e propuseram que o poder político seja entregue aos iraquianos. Os dois governos afirmaram que podem ajudar a treinar policiais e militares iraquianos, mas a França ainda insistiu para que Washington entregue o poder a um governo local "em meses, não anos".
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