Uma nova forma de violência, talvez uma das mais hediondas, começa a prosperar no Brasil: a violência nas escolas. Como sempre, nas periferias das grandes cidades brasileiras que se tornam cada vez mais guetos impenetráveis e fora do alcance do Estado. As periferias viraram entes autárquicos.
A verdade é que a escola pública no Brasil está abandonada pelas autoridades e o pior, está sendo abandonada também pelos alunos cujos pais temem pela segurança de seus filhos. A coisa chegou a tal ponto que é comum na região metropolitana de São Paulo, alunos delinqüentes cobrarem “pedágio” dos outros alunos até para ir ao banheiro. No Grande ABC já não são mais tão raros os casos de violência nas escolas, embora seja conhecido que tal acontece com maior frequência nas regiôes periféricas da região. Mas seria ingenuidade imaginar que nas regiões mais centrais eles não irão ocorrer porque vivemos em uma área urbana diferenciada por sua localização ou estratificação social e econômica diferente.
Os inchaços urbanos têm conseqüências absolutamente fatais e previsíveis, e a delinqüência nas escolas públicas das periferias é uma delas. Nova York também teve problemas graves nesta área, mas não tanto como aqui e lá são cada vez em menor número. Para combatê-los, organizou-se um corpo de 4.500 agentes de segurança, recrutados principalmente nas vizinhanças de bairros pobres que ganham empregos e contribuem para a estabilidade institucional e participação da comunidade nas escolas. A experiência tem sido um sucesso.
A história da educação pública brasileira tem sido de luta permanente contra o legado de seu atraso e de seus equívocos. Mas desde a catequese dos jesuítas no Brasil colonial até os dias de hoje ela sempre foi problemática, mas pelo menos não representava riscos à incolumidade física e a segurança dos alunos, professores e funcionários. Os progressos registrados são mais quantitativos, o que não é desprezível, afinal, é melhor um ensino deficiente do que ensino nenhum.
De 1932, início das estatísticas mais ou menos confiáveis até 2001, as matrículas no ensino primário aumentaram 16 vezes, de 2,2 milhões para 35,4 milhões de alunos, proporção muito superior ao aumento da população. Mas a qualidade continua medíocre e para isso concorrem vários fatores. Um deles começa a ter agora mais notoriedade: a falta de supervisão. A Inglaterra, por exemplo, o sucesso do ensino público se deve em grande parte ao sistema de supervisão. No Brasil a supervisão, quando mesmo quando sistêmico, funciona de forma aleatória.
Temos ainda um longo percurso a fazer em matéria de ensino público, o problema é que ele há de ser feito cada vez com maior velocidade. Por enquanto ainda estamos a passos de quelônios.
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