Além de Morro - o destino mais importante, que no ano passado recebeu mais de 160 mil turistas -, fazem parte dessa região Valença e seu distrito Guaibim, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu e Maraú.
Ao todo, são 115 quilômetros de litoral, onde o visitante ainda encontra praias praticamente intocadas, como a de Barra Grande, no povoado de mesmo nome. Cachoeiras existem aos montes. Depois de um percurso de 2,5 quilômetros, chega-se à da Pancada Grande, em Ituberá, com queda de 80 metros de altura e águas refrescantes. Em Valença e Camamu, casarões do século 19 lembram um passado de prósperas economias. Em qualquer lugar dessa costa, a natureza não decepciona o visitante.
De alguns pontos de Valença, cidade colonial do século 18 a 248 quilômetros de Salvador, a única coisa que se avista de Morro de São Paulo - o pedaço mais famoso do pólo turístico chamado Costa do Dendê - é seu farol. Mesmo mostrando certa imponência, ele não chega a dar a mais ligeira impressão dos encantos do lugar, que só começam a ser descobertos depois da travessia de uma hora e meia de barco e saveiro ou 30 minutos de lancha rápida a partir do Rio Una.
As surpresas começam já durante a viagem para Morro. As águas mornas da região atraíram ilustres visitantes: os golfinhos, que não se intimidam com o barulho dos motores dos barcos e exibem o seu balé. Enquanto os turistas são distraídos com as acrobacias dos primeiros anfitriões e brindados com o sol que brilha o ano todo, o que era um pequeno ponto avistado ao longe começa a descortinar-se. É a Ilha de Tinharé, que engloba os povoados de Morro de São Paulo, Gamboa, Garapuá e Galeão.
O povoado de Galeão e a igrejinha de São Francisco Xavier, construída no início do século 17, são os primeiros destaques da Ilha de Tinharé. Gamboa é o povoado seguinte e, finalmente, chega-se a Morro de São Paulo. A primeira imagem é digna de um cartão-postal: além do farol, também estão na beirinha da ilha as ruínas do velho forte e o Portaló, um antigo portal do século 17, de pedra, que dá as boas-vindas aos visitantes e foi transformado em um dos marcos do lugar.
Sem carros - Desembarcando no terminal marítimo, você verá que Morro de São Paulo tem boas subidas, o que é comum em muitos lugares da Bahia. Nem por isso vá pensando que uma van o conduzirá até sua pousada. No vilarejo de 1.800 habitantes e ruas cheias de areia da praia, não circulam carros. Malas, compras e tudo o que é trazido do continente é transportado em carrinhos de construção ou tratores. Ou seja: andar é obrigatório.
Se o sol estiver escaldante quando você completar a subida da rampa de acesso ao povoado, renda-se à água de coco vendida nos barzinhos das redondezas - custa entre R$ 1,00 e R$ 1,50. Aproveite para conhecer a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz, construída em 1845. Pintada de azul e branco, seu altar é uma cópia do existente na Igreja de São Francisco, em Salvador.
Muitas histórias e até um milagre rondam a igreja. Segundo conta o povo da cidade, um almirante holandês destacou um navio para saquear Morro. Do mar, os piratas tiveram a visão de que uma grande esquadra estava pronta para a defesa e resolveram recuar. Como essa defesa não existia, atribuíram o ocorrido a um milagre de Nossa Senhora da Luz.
Pôr-do-sol - Com o fôlego refeito, comece a explorar a ilha. A primeira visita pode ser à Fortaleza São Paulo. Erguida no século 17, o forte foi palco de várias batalhas. Da antiga construção, cercada por guaritas e canhões, sobraram ruínas e 678 metros de muralhas, hoje tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional e cenário de apresentações artísticas. Assistir ao entardecer no local, quando o sol adquire tons de laranja e vermelho, é um programão.
Por uma trilha pelo meio do mato, chega-se ao famoso farol do povoado, datado do século 19, que ainda orienta navios na Baía de Todos os Santos. De Guaibim, distrito de Valença, sua luz pode ser avistada todas as noites. Do mirante, mais um cartão-postal: a seqüência de praias e piscinas naturais em tons de azul e verde, separadas umas das outras por coqueiros e arrecifes de corais. A vista é linda e a vontade que se tem é de sair correndo para mergulhar naquelas águas. Esse, certamente, é o próximo programa imperdível de Morro.
Percurso revela cachoeiras e tradição cultural
A Costa do Dendê tem muitas outras atrações fora do eixo Valença-Morro de São Paulo. Seguindo pela BA-001 em direção à região do Baixo Sul da Bahia, a partir de Valença, passa-se por pequenos municípios em que as casas são delimitadas por cercas de arame onde ainda é possível colocar as roupas para secarem sem que haja o perigo de serem roubadas.
O primeiro desses lugares é Nilo Peçanha, que possui comunidades negras remanescentes de quilombos, que lutam para preservar as tradições de seus ancestrais. O Grupo Zambia-punga, por exemplo, se apresenta mascarado, ao som de búzios e tambores. Dessa forma, eles acreditam que Deus protegerá suas colheitas. O artesanato local é variado, incluindo peças de cerâmica, cestaria, madeira e piaçava, entre outros materiais.
Depois, surge Ituberá, a 46 quilômetros de Valença. Seu principal destaque é a quase escondida Área de Proteção Ambiental (APA) da Cachoeira da Pancada Grande, que ocupa uma área de 50 hectares. Chega-se à APA depois de um trajeto de 2,5 quilômetros por uma estrada de terra em bom estado de conservação. A cachoeira de mesmo nome possui uma queda de 80 metros, onde predomina vegetação da mata atlântica. Beber da água que cai quase gelada ou simplesmente molhar o rosto antes de seguir viagem é mais que recomendado nesse lugar que intercala saltos e piscinas. A próxima cidade é Igrapiúna, uma das mais antigas da região, resultante de uma aldeia de catequese jesuítica. Entre o artesanato, destacam-se as bijuterias, arranjos de flores, bordado, cerâmica, tricô, crochê e rendas. A festa local do bumba-meu-boi é bastante tradicional. Um grupo de pessoas forma um círculo e uma outra se fantasia de boi. Ao som de canções folclóricas, o “boi” dança e parte para cima do grupo, que fica tentando fugir.
Frutos do mar - A última parada antes de aventurar-se na travessia de barco para conhecer as ilhas e praias dos distritos que pertencem à Maraú é feita em Camamu, às margens do Rio Acaraí. Antes de entrar na cidade, aproveite para conhecer a Cachoeira de Acaraí, a seis quilômetros de Camamu pela BA-001. A queda d’água nem é tão grande - cerca de dez metros -, mas o lugar, onde também já funcionou uma hidrelétrica, é bem simpático. Um dos prédios que abrigava a usina foi transformado em um restaurante especializado em frutos do mar. A cidade é dividida em parte alta e baixa. Como em todo lugar de colonização portuguesa e de forte influência dos jesuítas, os casarões têm dois andares. Os mais antigos estão na parte alta, bem como as igrejas Matriz de Nossa Senhora da Assunção, São Benedito e a de Nossa Senhora do Desterro. Na cidade baixa estão a feira, onde predomina a venda de peixes e mariscos, e o porto, onde estão os barcos que transportam passageiros e mercadorias para os povoados próximos.
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