Paixão e política

 

Opinião - 21/10/2003 - 16:24:29

 

Paixão e política

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Decência e honradez são requisitos necessários para o político, mas não suficientes. Dele há que se exigir muitas outras qualidades

Decência e honradez são requisitos necessários para o político, mas não suficientes. Dele há que se exigir muitas outras qualidades

Está fazendo um grande sucesso na Espanha um livro traduzido para a língua hispânica e de autoria de um inglês, John B. Thompson, O Escândalo Político. A tese nuclear do livro é que com o fim das ideologias ganha vigência a noção de que o governante deve à sociedade uma reputação acima de qualquer suspeita. Pelo menos em dois pontos: competência profissional e integridade pessoal. Isso explica a obsessão com que se fabricam todos os dias demolidores dossiês, que proliferam como cogumelos, principalmente em tempos eleitorais, disparando denúncias de improbidade a torto e a direito. Todos os dias são armados bombásticos escândalos que às vezes pegam, outras não, e muitas candidaturas sobrevivem ou não dependendo do grau de imunização de cada um dos candidatos. Este clima denuncista, quando absolutamente vazios, contribuem muito para a desmoralização dos políticos e da democracia. Duas atitudes derivam desde logo deste quadro de sintomatologia política. A primeira é de alheamento e desinteresse pelo processo político, o que faz aumentar cada vez mais os números da abstenção eleitoral; a segunda faz baixar as exigências em relação aos candidatos. Basta que tenham boa reputação, honestos e de bons antecedentes. Este é o ponto em que insiste o inglês Thompson. Trata-se de requisito necessário, mas que não é suficiente. Integridade pessoal é um pressuposto que todo cidadão deve se esforçar por possuir, mas por si só não qualifica um político. Este há que ter argúcia, inteligência, preparo e sobretudo paixão. Paixão como queria Weber, ou seja, uma dedicação apaixonada a uma causa, mas com senso de responsabilidade e de proporção. Paixão fria, recomendava Weber aos políticos. Como os esportistas, que para ter sucesso em competições precisam ter paixão, mas também objetividade. Uma paixão disciplinada pelo instrumento que tem em suas mãos, como um grande pianista ou violinista. O “instrumento” que o político tem em mãos é a república, a nação, a cidade, com seu molde, sua composição, suas contradições, suas relações de força que imprimem à paixão política suas medidas e suas dimensões adequadas. Como disse Nietzsche, em outro sentido, que o artista (alma sempre ardente e apaixonada) “é o homem que dança encadeado”, assim também há de ser o político. Um ser apaixonado por algumas causas, mas sem que a paixão cegue sua clarividência objetiva. O certo é que Hegel tinha razão quando sustentava que tudo o que o homem fez de grandioso na História foi movido pela paixão. Honradez e decência são qualidades imprescindíveis ao homem público, mas não constituem as virtudes primárias e constitutivas do verdadeiro político. Dele temos que exigir muito mais que as virtudes básicas, aquelas que devem ser comuns a todos os homens.

Decência e honradez são requisitos necessários para o político, mas não suficientes. Dele há que se exigir muitas outras qualidades

Decência e honradez são requisitos necessários para o político, mas não suficientes. Dele há que se exigir muitas outras qualidades

Decência e honradez são requisitos necessários para o político, mas não suficientes. Dele há que se exigir muitas outras qualidades

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