Aparentemente, entramos numa fase de otimismo oficial, embora nem tudo aponte na direção de uma retomada daquilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama de espetáculo do crescimento, ou do desenvolvimento. A equipe econômica mantém as taxas de juros em alturas que, na opinião de empresários e de economistas não oficiais, inibem o desenvolvimento: investimentos produtivos, criação de empregos, mais justa distribuição de renda, consumo, poupança, capacidade de o Estado exercer seu papel. Há sinais de aumento de uma carga tributária que já é absurda. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, batalha para que o Congresso mantenha um orçamento compatível com a estagnação. Mas, é o mesmo ministro que vai à TV para dizer que vencemos a inflação e chegou a hora de crescer. Palocci não conseguiu transmitir sua animação ao empresariado, apesar de ter dito que agora é a vez de os empresários fazerem sua parte, com investimentos que levem ao aumento de exportações, à oferta de emprego, ao consumo. O presidente da Abdib (infra-estrutura e indústria de base), José Augusto Marques, afirma que os empresários só vão voltar a investir se o Governo definir regras para o setor, como garantia de cumprimento de contratos. Realmente, não basta dizer que se ganhou uma batalha; é preciso que o Governo tenha uma agenda de desenvolvimento e a promova. Temos que reconhecer que há bons resultados no controle da inflação, na queda do risco-país e da cotação do dólar, queda ajudada por uma conjuntura internacional favorável a fluxos de capital para países emergentes. O ministro, porém, não mencionou os graves problemas que o ajuste econômico causou no setor produtivo. A responsabilidade pela desejada estréia do espetáculo do crescimento não cabe somente ao setor produtivo, a partir de agora, mas também ao Governo e ao setor bancário. Pelo crédito a empresas e consumidores, esse setor cobra juros e taxas que mantêm o prolongado adiamento daquele espetáculo. É consenso amplo que os spreads praticados pelo setor financeiro constituem uma perversa anomalia. Vale notar que, no mesmo dia em que Palocci anunciava uma nova era, o vice-presidente sênior e economista-chefe do Banco Mundial, François Bourguignon, afirmava no Rio de Janeiro que, para o Brasil voltar a crescer, a taxa de juros terá de baixar: “O ponto-chave é que se necessita de uma baixa da taxa de juros para que o crescimento possa acontecer de novo”. Ele participava de seminário que analisou o relatório do banco sobre desigualdades na América Latina e no Caribe. Observou que, com os atuais níveis de juros, há desestímulo ao investimento. E disse mais que, “para haver a retomada do crescimento no Brasil, a política monetária deve ser afrouxada”. Não se travava um debate entre monetaristas e desenvolvimentistas. É só uma questão de bom senso em política financeira. Bourguignon não deixou de ressaltar pontos positivos na economia brasileira e afirmou que o pior momento para o País já passou. “Acho que temos de ficar esperançosos em relação ao próximo ano”, disse. No mesmo dia do seminário, Palocci foi à TV; e é positivo que tenha tentado infundir algum otimismo no sofrido povo deste país e naquele segmento que faz o desenvolvimento, o dos empresários. Temos o direito de cobrar dele, agora, o que o Governo ainda não fez, como mais facilidade de acesso ao crédito, sem juros extorsivos, um saneamento do caos tributário, com a imprescindível cooperação do Congresso. A esperança de que falou o alto funcionário do Banco Mundial é compartilhada pelo ministro da Fazenda. Palocci previu “um Natal um pouco melhor para o comércio, e um Ano Novo com muito mais esperança para o povo brasileiro”. Amém.
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