Em sua primeira viagem aos Estados Unidos com uma agenda política e empresarial, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que irá trabalhar para que o PSDB adie ao máximo a definição do nome que concorrerá contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo ano. Segundo o governador, o ideal é que a definição só ocorra no começo de 2006. Na pior das hipóteses, no fim deste ano. De acordo com Alckmin, as pesquisas de intenção de voto já divulgadas, que mostram o prefeito de São Paulo, José Serra, como o tucano melhor posicionado para disputar contra o PT "não têm valor político, só estatístico".
Para Alckmin, "o que existe é um retrato da última eleição. Aparece mais forte quem concorreu há menos tempo". Segundo o governador, o fato de sua possível candidatura aparecer em pé de igualdade nas pesquisas com as do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de Minas, Aécio Neves, ambos tucanos, e do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB) indicam apenas o grau de conhecimento dos candidatos. "A disputa eleitoral só vai poder ser considerada iniciada quando começar o horário na televisão", disse.
A falta de pressa não diz respeito apenas à situação interna do PSDB, mas aos problemas políticos e sociais que o governador enfrenta no Estado. Na sexta-feira, um novo motim na Febem provocou a evasão de 307 internos e ofuscou a viagem internacional do governador. Há suspeitas, não comprovadas, dentro do governo estadual de conivência dos funcionários da instituição. Alckmin afirmou que a política do governo estadual de reestruturar o quadro dos servidores da Febem, com um grande número de demissões, não irá mudar. Mas admitiu que o problema está longe de terminar: "Sabíamos que haveria um período de turbulência que ainda será longo".
No âmbito político, a relação entre o PSDB e o PFL no Estado está em xeque com o lançamento da candidatura do deputado estadual Rodrigo Garcia à presidência da Assembléia Legislativa, contra o candidato do governador, o deputado estadual tucano Edson Aparecido. Alckmin afirma não ter dúvidas de que a direção pefelista não está envolvida na decisão de Garcia, mas o apoio do PT ao PFL acabou com o favoritismo de Aparecido.
A escalada de ataques entre o governador e o Planalto, entretanto, deve continuar. "Não tenho medo de cara feia", afirmou Alckmin, referindo-se às críticas feitas pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, na semana passada. "Devemos mostrar nossas diferenças. A abordagem de princípios e valores é fundamental no debate. Nossa posição é a de levar a experiência de São Paulo na melhora da essência do gasto público para a redução da carga tributária".
Na visita aos Estados Unidos, o governador sinalizou que a intensidade dos ataques no Brasil de fato não significa uma intenção sua em tornar aberto o debate sucessório. Lembrado da condição de presidenciável em vários momentos pelos interlocutores em sua viagem, Alckmin mostrou-se contido sempre.
Ao visitar a sede da Igreja Batista da comunidade brasileira de Pompano Beach, no norte da Flórida, um brasileiro radicado nos Estados Unidos perguntou sobre as propostas de Alckmin para os emigrados, "na condição de futuro presidente da República". O governador desvencilhou-se de forma seca. "Este é um assunto do governo federal, do qual o governo estadual não tem como participar de forma direta", disse. Perguntado por jornalistas sobre a participação do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Alckmin preferiu passar a resposta ao embaixador do país nos Estados Unidos, Roberto Abdenur.
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