Comentamos recentemente os aspectos negativos para a economia brasileira e também suas chances no mercado internacional. Hoje tratamos da possibilidade de recessão que a guerra de George W. Bush pode provocar, inclusive no nosso País.
O impacto de uma guerra prolongada na economia mundial pode trazer, também para nós, seqüelas negativas, como a neutralização do esforço fiscal em curso. Faz tempo que não se vê o ambiente internacional tão perturbado por insegurança e pessimismo. Além da iminência de uma guerra por estoques de petróleo, a resposta que o Governo dos Estados Unidos decidiu dar ao terrorismo ensandecido de que foi vítima o seu país, no dia 11 de setembro de 2001, provoca mais e mais ameaças de outros atentados terroristas do porte daqueles que atingiram Nova Iorque e Washington, há um ano e meio. Seria uma crise econômica de porte global.
É lamentável o retrocesso dos EUA no campo dos direitos humanos e garantias individuais, tirando-lhe uma prática política e moral exemplar e empurrando-o de volta às práticas macartistas, à intolerância com o pensamento de oposição, que empanaram esse grande país nos primeiros anos da Guerra Fria. Paralelamente, o esforço bélico americano leva seu orçamento militar às raias do absurdo, cortando gastos com o social, com despesas que interessam à maioria da população. Como esse país é uma superpotência, não somente bélica, mas comercial, isso repercute mal no mundo todo, que já deixou claro que não quer uma nova Guerra do Golfo. Bush continua teimando com os inspetores da ONU, só vê solução na guerra. Isolado, mas poderoso.
O Brasil está numa situação econômica tão melindrosa que o novo Governo não tem condições para mudar, com a rapidez desejável, a orientação antidesenvolvimentista e monetarista da equipe econômica do Governo passado. O tão apregoado risco-Brasil tende a aumentar com uma guerra das proporções anunciadas, que cortaria ainda mais investimentos, inclusive especulativos, no País. O preço internacional do petróleo tende à alta (aliás, os ricos poços de petróleo do Iraque estão no olho do furacão dessa guerra). Mais pressões inflacionárias. Juros mais altos. Dívida pública maior. Mais aperto. Queda ainda maior da produção e da oferta de empregos. Recessão. Remédios com alto custo social e de eficácia bem duvidosa, como vêm se revelando historicamente. Más perspectivas.
Por tudo isso, a guerra não nos interessa. A diplomacia do Brasil, há muito tempo, vem se baseando na paz e concórdia entre os povos. Após guerras infelizes, como a do Paraguai, aprendemos que só atingiremos o potencial de desenvolvimento, de progresso, que o Brasil tem, se praticarmos uma política de tolerância e amplo entendimento. A globalização, embora ainda imperfeita e discriminatória com os emergentes, nos trouxe novas lições sobre um mundo de entendimento, em que todos se sintam cidadãos de uma pátria maior que o Brasil, a Terra.
Se uma nova Guerra do Golfo for realmente inevitável para a geopolítica dos EUA, que ao menos não se arraste como a do Vietnam, como está se enrolando a do Afeganistão. Com razão, países ricos e importantes como a França e a Alemanha estão contra. Povos do mundo todo vêm demonstrando sua desaprovação à guerra, inclusive o nosso. Não é possível que países que se orgulham de sua cultura e civilização continuem buscando regular diferenças e conflitos, políticos ou econômicos, com a devastação que uma guerra causa. Não bastariam as duas guerras mundiais e as guerras mais restritas que se seguiram, derivadas do colonialismo? O que queremos é desenvolvimento, prosperidade, progresso, civilização. Nada de guerra. Basta de problemas.
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