O teólogo Alberto Libânio, o Frei Betto, apontou a reforma agrária e a política econômica como os pontos fracos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem era assessor até o ano passado. Frei Betto, que ajudou Lula na elaboração do Fome Zero, deu na noite desta sexta uma palestra intitulada "O compromisso dos governos na erradicação da pobreza" a convite da prefeitura de Mataró, na Catalunha, leste da Espanha.
O teólogo manifestou seu apoio incondicional a Lula, embora tenha reconhecido que o governo tem dois pontos fracos: a reforma agrária, que "deveria ser agilizada após dois anos de legislação", e a reforma econômica, que considera ainda "muito ortodoxa" e "submissa ao Fundo Monetário Internacional".
Frei Betto também pediu uma Lei de Responsabilidade Social. Segundo o teólogo, o povo do Brasil não está decepcionado com o trabalho de Lula porque sabe que a reforma será lenta após 20 anos de ditadura e de governos neoliberais, mas reconheceu o decepção da esquerda, que - disse - esperava uma revolução.
O ex-assessor do Governo Federal afirmou que a ajuda internacional aos países em desenvolvimento deve ser vinculada a programas educativos porque "as pessoas desconhecem o uso racional do dinheiro".
"Em meu país - disse Frei Betto - as pessoas recebem uma ajuda, a investem na terra, ganham dinheiro e depois vão para a cidade, onde, ao não saber administrá-lo, em seguida voltam para pobreza. Sem apoio, são incapazes de conceber outras alternativas como uma cooperativa", disse.
Por isso, Frei Betto lembrou que o Governo recusa toda ajuda em alimentos vinda do exterior porque "assim se geram vínculos de submissão, as pessoas ficam dependentes das doações e destroem a agricultura local".
O teólogo, avaliou positivamente sua passagem pelo mundo da política e chamou este projeto de "aplicação política do Evangelho da repartição dos pães e peixes".
Frei Betto disse que as nações desenvolvidas devem deixar que os países pobres exerçam "seu direito de cometer seus próprios erros". Ele explicou que o melhor caminho para o desenvolvimento dos países pobres são os fundos econômicos, porque permitem "ativar a capacidade empreendedora das pessoas pobres que não são ajudadas desde a colonização".
"Às vezes - acrescentou o teólogo - recebem-se ajudas econômicas com a condição de nos ensinar o que devemos fazer com elas".
Na questão religiosa, o frade dominicano explicou que "a Igreja católica na América Latina pagou um preço muito alto para estar ao lado dos pobres", sobretudo no Brasil, onde os religiosos ainda deve, sofrer atentados de morte e citou como exemplo o bispo espanhol Pere Casaldáliga, aposentado há pouco tempo.
Num momento em que todo o mundo está atento à saúde do papa João Paulo II, Frei Betto chamou de "ambíguo" o atual pontificado por "ser desde um ponto de vista doutrinal muito conservador".
O teólogo destacou alguns gestos importantes do papa para a América Latina, como a recusa em assistir a certas homenagens a militares, e pediu ao próximo papa uma "abertura das discussões sobre temas de educação sexual".
"O Vaticano no Brasil teve momentos de apoio e outros de censura ao tentar 'vaticanizar' a Igreja, processo que não conseguiram", assegurou Frei Betto, que atualmente dedica a maior parte de seu tempo à literatura.
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