Promessas de Campanha: onde está o projeto de política industrial

 

Politica - 07/03/2003 - 11:59:13

 

Promessas de Campanha: onde está o projeto de política industrial

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

O desenho da política industrial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva está atrasado. Oficialmente, ele ainda não começou a ser feito. Passados dois meses, dois postos-chave para a elaboração e execução desta política permanecem vagos. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) estão sem titular a Câmara de Comércio Exterior (Camex), a Secretaria de Desenvolvimento da Produção e a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A idéia de criar uma secretaria especial de Comércio Exterior ligada diretamente à presidência da República foi abandonada e o ministro Luiz Fernando Furlan, titular do MDIC, deixou claro que a formulação desta política caberia ao executivo e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teria um papel de execução. O Partido dos Trabalhadores (PT) passou toda a campanha eleitoral defendendo a necessidade de definir claramente uma política que levasse ao aumento das exportações e à substituição competitiva das importações. Essa política era apresentada como prioridade e como o mecanismo que faria a diferença entre a política econômica anterior - que não agiu para reduzir a vulnerabilidade externa - e a nova política, cuja estratégia estaria voltada para aumentar o saldo comercial do país, agregar valor à produção local, desenvolver o mercado interno e assim reduzir a dependência externa. Passados dois meses, o governo tem sido ortodoxo com as contas públicas, tem garantido autonomia ao Banco Central, manteve a política de metas de inflação e iniciou o debate das reformas da Previdência e Tributária. Mas a política industrial não começou a ser desenhada. Oficialmente, o ministro Luiz Fernando Furlan fez dois movimentos nesta direção na semana passada. Na segunda-feira jantou com os empresários do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e na quinta-feira esteve com empresários da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nas duas ocasiões, elegeu os setores eletroeletrônico e químicos como prioridade na política industrial porque possuem déficits comerciais expressivos. Não disse como pretende reduzí-los. Também informou que sua equipe estaria completa nesta semana. Está marcado para amanhã o anúncio dos secretários. Dois meses após o início do governo. O economista Gilberto Dupas, coordenador-geral do grupo de conjuntura internacional da Universidade de São Paulo (USP), vê o atraso com preocupação. “A definição da política industrial está relativamente abandonada”, resume ele. “Lógico que é cedo para pedir que ela esteja pronta, mas é preciso começar imediatamente.” Dupas teme que o novo governo veja o dólar a R$ 3,60 como uma salvação para as exportações. “O Brasil que vai resultar de um dólar neste nível é muito pior do que o que vemos hoje em termos de inflação, juros, desestruturação das cadeias produtivas, dívida das empresas”, argumenta. Esse custo de dólar, diz ele, tem um potencial destrutivo muito grande sobre a economia brasileira. Dupas é um defensor intransigente de uma política de desenvolvimento. E garante que ela não fere nenhuma regra da Organização Internacional do Comércio (OMC). Dupas volta no tempo para argumentar que a abertura comercial e adesão de países como o Brasil à globalização acabou por resultar em déficits crescentes nas contas corrente e comercial, especialmente. A principal razão deste déficit foi o expressivo aumento das importações, que cresceram muito acima do crescimento das exportações. Os países passaram a importar peças e partes de maior valor tecnológico e desestruturaram suas estruturas produtivas. “A única forma de desatar o nó da nossa vulnerabilidade externa é uma política de desenvolvimento que agregue valor à produção porque ela permite, ao mesmo tempo, aumentar exportações e substituir importações”, defende. Dupas não vê quem no governo esteja desenhando essa política de desenvolvimento. Ele também defende que o governo chame as grandes empresas transnacionais e barganhe com elas o aumento de suas exportações. “Todos os países mantém políticas industriais, é possível fazê-lo dentro da OMC”, garante. Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, não partilha da mesma preocupação de Dupas. Ele acha que o governo tem tempo e avalia que o ministro tomou para si a tarefa de desejar essa política e começará a fazê-lo a partir da definição, nesta semana, dos seus secretários. O ministro Furlan e o economista Fábio Erber, um dos formuladores da política industrial do PT e hoje diretor do BNDES, foram procurados mas não deram entrevistas.

Links

...Continue Lendo...

...Continue Lendo...

Vídeo