Acuado por uma série de denúncias de corrupção contra seu partido dentro do governo federal, especialmente nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o presidente nacional do PTB, deputado federal Roberto Jefferson, resolveu contra-atacar. Em entrevista publicada na edição desta segunda-feira do jornal Folha de S.Paulo, o petebista acusa o Planalto de pagar, até janeiro passado, mesada de R$ 30 mil aos parlamentares da base aliada em troca de apoio no Congresso. O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, seria o responsável pela entrega do "mensalão" para siglas como PP e PL. Jefferson diz que informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do fato no início do ano, e Lula, imediatamente, teria ordenado a suspensão do repasse do dinheiro, supostamente originário de estatais. O deputado sugere que o corte no pagamento é a causa dos problemas hoje enfrentados pelo governo para aprovar seus projetos no Congresso. De acordo com o deputado, os aliados não só pressionam a administração federal e o PT para reaverem a "mesada" como pretendem que o valor seja reajustado para "R$ 50 mil, R$ 60 mil".
O deputado federal afirma ainda que, ao informar Lula do suposto esquema de corrupção, o presidente chegou a chorar e pediu que Jefferson repetisse a história para os ministros José Dirceu, da Coordenação Política, Antonio Palocci, da Fazenda, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política. Dirceu, ao ser informado da situação, teria dado um soco na mesa e declarado que tinha avisado Delúbio para não fazer os repasses.
Na entrevista, o petebista garante que seu partido rejeitou o referido "mensalão", apesar de susposta pressão do governo federal para que aceitasse. Jefferson afirma que o PMDB estava fora do esquema e dá certeza de que o susposto pagamento nunca ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O parlamentar também desmente as recentes denúncias apresentadas pela imprensa contra o PTB (em uma delas, publicada na última edição de Veja, o partido é acusado de cobrar "mesada" de R$ 400 mil do IRB) e afirma que as pressões por ele enfrentadas se devem justamente ao fato de ter denunciado o pagamento das "mesadas". Por trás dos esforços do Planalto de abafar a CPI dos Correios estaria o temor de que o esquema referido por Jefferson fosse descoberto.
Na entrevista concedida à Folha, Jefferson também volta a desmentir afirmações do consultor Arlindo Molina, o qual garante conhecê-lo há mais de dois anos. O petebista garante tê-lo conhecido apenas em março de 2005. "Não é verdade que nos conhecíamos antes disso", afirmou. Molina seria uma das pessoas que o procuraram para fazer lobby nos Correios.
Roberto Jefferson insiste que Ezequiel Ferreira, indicado pelo PTB para assumir a diretoria de Teconologia dos Correios (e mencionado na reportagem de Veja que deflagrou a onda de denúncias contra o partido e o governo), nunca tomou posse. O deputado salienta que o atual ocupante do cargo é indicação do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.
Em relação às denúncias do ex-presidente do IRB Lídio Duarte, presentes na última edição de Veja, de que o PTB teria pressionado Lídio a fim de receber R$ 400 mil mensais do instituto, Jefferson diz que o próprio consultor negou ter dado a entrevista em carta, bem como desmentiu as afirmações em depoimento à Polícia Federal (PF). "É algo que ele terá de esclarecer à PF", afirmou o parlamentar. Jefferson diz que tudo o que ocorreu foi uma negociação de doações para a sigla de empresas que trabalhavam para o IRB. Lídio teria informado que o dinheiro seria entregue "por fora", sem recibo, ao que Jefferson teria vetado a oferta.
O presidente petebista garante que a indicação de Appolonio Neto (PTP) para susbstituir Lídio no IRB foi uma "decisão salomônica" do ministro Palocci para agradar tanto ao PTB como ao PP, partido do tio de Appolonio, Delfim Netto. Quanto às denúncias de que Henrique Brandão, da corretora de seguros Assurê (e amigo pessoal de Jefferson), teria pedido ao IRB contribuições em nome do deputado, o deputado garante que "não houve tal pedido". A única solicitação, diz ele, foi feita pelo próprio a Lídio, para obter ajuda ao PTB nas últimas eleições.
Roberto Jefferson diz que defende as investigações e dará apoio para que a comissão vingue no Congresso. Porém ele havia afirmado anteriormente que, se tivesse de sentar na cadeira da CPI, prestes a ser instalada, "levaria junto" consigo José Dirceu, Delúbio e Sílvio Pereira.
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