Parlamentares do PSDB, PFL, PPS, PDT e PV se reúnem hoje para discutir a proposta de afastamento voluntário do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O objetivo é que Severino fique fora do cargo até que se concluam as investigações sobre a denúncia publicada nas revistas Veja e Época desta semana. Elas apontam que Severino teria recebido propina de R$ 10 mil para prorrogar o contrato junto ao concessionário do restaurante Fiorela, o empresário Sebastião Buani. O grupo pretende reunir assinaturas para solicitar a retirada de Severino do cargo - medida que seria votada em plenário. Outra estratégia dos oposicionistas é entrar com representação contra Cavalcanti no Conselho de Ética, solicitando sua cassação por quebra de decoro parlamentar - caso o presidente não deixe o cargo espontaneamente.
Em resposta às acusações, Severino Cavalcanti se disse vítima de extorsão - versão que a Polícia Federal começa a apurar nesta segunda-feira. Paralelamente, o presidente da Câmara divulgou neste domingo nota afirmando que já determinou ao diretor-geral da Casa, Sérgio Sampaio, a criação de uma comissão de sindicância para apurar os fatos. Os integrantes dessa comissão serão indicados pelo próprio diretor-geral. Sampaio já adiantou que romperá nesta segunda-feira o contrato da Câmara com o Fiorela, "unilateralmente".
Severino também anunciou que solicitará que o Tribunal de Contas da União (TCU) audite todos os contratos da Câmara que envolvam a empresa Buani & Paulucci Ltda, concessionária do restaurante.
A iniciativa de Severino, em vez de acalmar os ânimos de seus acusadores, elevou a temperatura no Congresso. Antes mesmo de iniciadas as investigações, Sampaio descartou de antemão a possibilidade de encontrar qualquer ilícito na redação do contrato sob suspeita. "Eu conheço bem o contrato. Não tem absolutamente nenhuma ilegalidade", antecipou. Sérgio Sampaio deverá escolher nesta segunda-feira os três membros da comissão e, anunciou, irá ouvir Buani. A PF deverá inquirir o empresário também nos próximos dias.
O clima de compadrio propalado pelos opositores do presidente também se deve ao fato de o titular da Corregedoria, Ciro Nogueira (PP-PI), ser "compadre" de Severino, que o indicou para o cargo e costuma chamá-lo de "meu filho".
O PSDB, que foi um dos grandes responsáveis pela eleição de Severino no início do ano, também pressiona o deputado a desmentir as declarações feitas neste fim de semana, quando sugeriu que os tucanos e o PFL estariam por trás da denúncia de propina ou "mensalinho" envolvendo o deputado do PP. Dias antes de estourar o escândalo, Severino tinha se declarado favorável a pena mais branda que a cassação para envolvidos em esquema de caixa dois. Na mesma ocasião (entrevista para o jornal Folha de S.Paulo), Cavalcanti acusou o PSDB de haver comprado votos para aprovar a emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
"Ou ele desmente ou pediremos a renúncia dele", declarou o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP).
A posição favorável a punições mais leves rendeu um bate-boca no plenário entre Severino e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) na semana passada, antes de surgirem as acusações envolvendo o restaurante. Na ocasião, Gabeira, que é um dos líderes da frente que pede o afastamento de Cavalcanti, já tinha ameaçado organizar parlamentares contrários ao presidente da Câmara dos Deputados. Caso Severino se retire do posto, seu sucessor seria o vice-presidente da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL).
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