Alma Gêmea sofre de uma falta de sintonia entre os protagonistas interpretados por Priscila Fantin e Eduardo Moscovis. E como o autor Walcyr Carrasco não pôde se sustentar no casal Serena e Rafael - principalmente pela sofrível atuação de Eduardo Moscovis - a saída foi desviar o centro da ação para núcleos secundários na sinopse, mas prioritários para garantir a boa audiência da novela.
Nesse desvio, quem ganhou espaço foi o núcleo da pensão - a rigor, toda a vila em que se situa a pensão. Naquele microcosmo, Walcyr consegue explorar dramas e comédias com maestria.
Além disso, tem chance utilizar um recurso cada vez mais comum em novelas, exatamente por ser agradável e familiar para quem vê: as reuniões informais em torno de uma mesa. As refeições se tornam uma oportunidade para explorar situações de união e discórdia - com direito a disputas encarniçadas pelo último pedaço a mais de frango ou por mais um pastel.
O convívio dos muitos personagens contribuem para movimentar a trama e dá aos atores momentos de brilho individual. E mesmo eventuais tropeços acabam sendo relevados. É o caso do robótico Rodrigo Phavanello. Até agora, depois de ultrapassados 100 capítulos, ele não se entendeu com seu personagem Roberval.
O contrário acontece com um casal de atores que esbanja sintonia. O bem-humorado romance entre Vitório e Olívia, vividos por Malvino Salvador e Drica Moraes, rendem excelentes cenas. O amor dos dois, no maior estilo entre tapas e beijos, consegue fugir do óbvio e açucarado romance titular da trama.
Não é só pela história, mas as atuações e a veia cômica de Drica e Malvino os deixam ainda mais em evidência. Mesmo em destaque, eles dão espaço para quem está em volta brilhar, como Renan Ribeiro. O intérprete de Carlito está impagável como o garoto chato que não quer deixar a mãe namorar.
Já Mirna, personagem de Fernanda Souza, vem garantindo um espaço em Alma Gêmea, valorizado pela boa tabelinha com Emílio Orciollo Neto, que faz o irmão da moça, Crispim. O romance de Mirna com Jorge, vivido por Marcelo Faria, também tem garantido bons momentos, como o primeiro beijo da moça, repleto de ingenuidade.
Walcyr Carrasco, aliás, sabe recorrer como ninguém à moral de época para carregar na tinta ao mexer com o ingênuo e retratar amores puros.
Quem também está chamando atenção na trama é Nívea Stelmann. Ao interpretar a insana Alexandra, subiu um degrau na carreira. Até então, a atriz ainda carregava o peso de ter estourado na tevê como a Eliete, a ganhadora do concurso "Bumbum de Ouro", em Suave Veneno. Era então apenas mais uma carinha bonita.
Agora está mostrando um talento bem mais palpável - em especial nas crises enfrentadas por sua personagem. Todo o acerto também se deve à direção de Jorge Fernando, que conduz a novela de forma suave, onde as cenas mais chatas, como os encontros entre Cristina e Guto, personagens de Flávia Alessandra e Alexandre Barillari, passam
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