O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pediu afastamento do cargo, visando a manter o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal e levar seu braço-direito, Murillo Portugal, provisoriamente ao cargo. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concordou com a chicana jurídica e transformou o afastamento em demissão.
Do ponto de vista pessoal, Palocci perde junto com o cargo a prerrogativa de só ser processado no STF e passa a estar sujeito a constrangimentos judiciais, como o de ser intimado a depor pelos delegados que investigam sua administração em Ribeirão Preto. Se for confirmado que ele participou do esquema ilegal para violar o sigilo bancário do caseiro Nildo, ele poderá ser processado por crime comum.
Do ponto de vista político e econômico, a demissão de Palocci abre a porta para uma mudança de toda a equipe econômica e de condução da economia. O nome mais cogitado para o cargo, o do presidente do BNDES, Guido Mantega, sinaliza para uma visão mais intervencionista e um eventual conflito com a política de juros altos desenvolvida pelo Banco Central.
A queda de Palocci não se deveu a uma questão econômica ou jurídica, mas política. Lula não poderia sustentar o ministro sem que houvesse uma prova definitiva de que ele não participou da violação do sigilo bancário do caseiro da República de Ribeirão. Do ponto de vista eleitoral, seria mortal para ele defender um poderoso contra um cidadão comum injustamente coagido pelo Estado.
O fator definitivo para a queda de Palocci foi o depoimento da Caixa Econômica Federal à PF, Jorge Mattoso. Ao confirmar que foi o ministro da Fazenda que lhe pediu para quebrar o sigilo do caseiro, tornou insustentável a manutenção de Palocci e de sua equipe. Eles deverão ser indiciados por um crime.
Ao pedir afastamento e não demissão, Palocci ainda tentou uma saída honrosa e uma garantia jurídica de não sofrer constrangimentos mais sérios. Mas Lula não teve meios de dar essa opção ao ministro, sob risco de ser considerado co-responsável pela crise.
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