Ao ler no editorial do Le Monde que o presidente foi designado “professeur Lula”, apesar de eu ser um dissidente do PT, não posso deixar de observar que o presidente pode fazer muita coisa, se resolver alguns problemas no governo.
De uma certa forma, eu já vi esse filme e o Lula segue o padrão de uma administração petista que costuma ruir: deslumbramento com o poder, amadorismo, despotismo, nepotismo (embora rechaçado até agora). Porém, o Lula ainda está em condições de mudar o rumo da história. Basta querer.
O Lula precisa perceber rápido que os petistas são independentes, pensadores, agentes. Não lhes traga um projeto pronto, não lhes peça que sigam incondicionalmente, porque isso não acontecerá. O PT e a sociedade são ricos em pessoas inteligentes e experientes. Se deixar que os seus nomeados se julguem os melhores, não ouvirão as opiniões internas. E estas tornar-se-ão externas, prejudicando a credibilidade do governo.
É o que ocorreu com o Graziano, todo mundo que entende posicionou-se contra a forma e ele continua insistindo. Por que? Por que é ministro? Faça de seu governo uma hierarquia branda, do contrário pagará caro por causa dos inexperientes teimosos.
Para corrigir seus projetos e colocá-los em uma direção confiável basta ouvir a sociedade. Os erros do governo são vistos facilmente pelos outros, basta ler os jornais. Escale alguém (que seja esperto o suficiente) para selecionar as críticas. Leia-as todo dia.
Já que a informatização dos nossos bancos é a maior do mundo, poderia fazer com que melhorassem seus serviços, o que facilitaria a vida de muita gente. Por exemplo, a transferência entre contas, por que não pode ser entre bancos também? A facilidade eletrônica existe e é fácil implementar, é uma questão política. E de custo zero (ou de milionésimo de centavo). Também as contas vencidas poderiam ser pagas em até 30 dias em qualquer banco, por que não? Se pode facilitar...
Nas companhias telefônicas dá para melhorar muito. Essa assinatura que pagamos mensalmente é um absurdo, todo órgão de defesa do consumidor diz isso. O PT também. O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) levantou que, em 1999, as concessionárias de telefonia fixa Telemar, Brasil Telecom e Telefonica arrecadaram mais de R$ 4 bilhões com a cobrança da assinatura básica. O próprio deputado tentou acabar com isso.
Companheiro presidente lembra-se quando acreditava que juros altos geravam recessão e desemprego? Por que insistir em uma política que toda a esquerda é contra? Se um economista deu certo na Saúde, não significa que um médico vai dar certo na Fazenda. Mude de médico antes que o paciente morra, porque a doença não é paciente.
Salário mínimo de R$ 234,00? O que que é isso companheiro? É brincadeira ou balão de ensaio, certo? Até o Serra iria dar coisa melhor. E ainda quer que o Paim bata palmas? E a economia que vai gerar um salário mais realista? Município ou estado que não se mantém deve ser anexado pelo vizinho. Só é preciso coragem. A tal “vontade política”, lembra?
E o imposto de renda? Sacrificar o “pobre” assalariado, você, companheiro? Não pode, nem deve! Que se taxe o lucro dos bancos ou as grandes fortunas. Aliás, que não se taxe ninguém, o PT tem experiência em melhorar a eficiência da máquina, quando se colocam as pessoas certas em seus devidos lugares. Um real na nossa mão vale dois, já esqueceu? Implante a Gestão de gastos.
E o CPMF? Que se mantenha, apenas para a fiscalização. É preciso coerência com os 23 anos do partido. Daqui a pouco o PT será chamado de traidor da causa. Não deixe que isso aconteça, presidente. Enquanto há tempo.
(*) Mário Eugênio Saturno é Tecnologista Sênior da Divisão de Sistemas Espaciais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Professor da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Catanduva (FAFICA) e congregado mariano. (Email: saturno@dea.inpe.br)
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