O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer usar a propaganda eleitoral no rádio e na TV, a partir de terça-feira, para consolidar a avaliação positiva do governo e garantir a vantagem sobre os adversários nas pesquisas, sem precisar atacá-los diretamente.
O tucano Geraldo Alckmin, principal adversário de Lula, vai tentar uma polarização direta com o presidente, fustigando o PT no campo ético e político, e atacando o governo no campo administrativo.
As estratégias distintas serão testadas nessa nova etapa da campanha eleitoral, que vai até 28 de setembro, com dois blocos diários de propaganda eleitoral, às terças, quintas e sábados, para os sete candidatos ao Palácio do Planalto.
"Não vamos fazer um programa para falar de nossos adversários, mas para falar de nós mesmos, do que fizemos e ainda podemos fazer no governo", disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini, coordenador da campanha de Lula.
"A campanha do PSDB vai mostrar na tevê que há dois candidatos na disputa, não apenas um", resumiu um dos estrategistas de Alckmin, confirmando que o tucano quer chamar o líder para o confronto direto.
As duas campanhas procuram manter em segredo o conteúdo dos programas, mas conselheiros de Lula e de Alckmin traçaram, falando na condição de anonimato, as linhas centrais da propaganda de cada candidato.
Lula vai usar a maior parte do tempo (40 programas de pouco mais de 7 minutos) para fazer o que chama de "balanço dinâmico" de quatro anos de governo e apresentar um programa para o segundo mandato com base no que já foi feito.
"Não queremos apresentar uma lista de realizações, mas explicar o que mudou para melhor nesses anos, por que mudou e como pode melhorar num segundo mandato", disse um dos colaboradores do presidente.
Lula não pretende atacar diretamente qualquer dos adversários, pois seu objetivo é justamente não alterar a tendência apontada nas últimas pesquisas. "Será uma campanha de candidato que lidera pesquisas, que não precisa derrubar adversários", resumiu a fonte.
As pesquisas da última semana antes do horário eleitoral mostraram que Lula tem de 44 a 47 por cento das intenções de voto. Os programas de rádio e televisão pretendem levar argumentos para não perder votos "frouxos" desse eleitorado e ganhar indecisos.
Nos primeiros programas, parte do tempo será utilizada para defender Lula preventivamente de ataques de adversários o que nas campanhas se chama de "vacina". Respostas diretas a ataques vão depender de uma avaliação política de seu impacto sobre a candidatura.
Desde a semana passada, Lula está gravando cenas no estúdio da TV Mais, em Brasília, e já havia aprovado cinco programas até ontem.
O aumento da vantagem de Lula nas pesquisas desta semana acabou com as dúvidas que havia no comando tucano sobre a estratégia a seguir na televisão: valorizar o candidato e atacar o líder das pesquisas, tentando associar o presidente aos escândalos de corrupção e a uma imagem de ineficiência administrativa.
A campanha de Alckmin vai dispor de pouco mais de dez minutos em cada bloco de 25 minutos diários para dosar sua estratégia. O objetivo é relembrar 2005, quando estourou o mensalão e Lula foi derrubado nas pesquisas, e mostrar o "custo da corrupção", nas palavras do próprio Alckmin.
Até quinta-feira, quando o candidato tucano gravou sua primeira participação nos estúdios da produtora GW, em Brasília, ainda havia divergências na campanha quanto ao tom dos ataques. O PFL, aliado dos tucanos, defende o tom mais agressivo possível, mas o próprio candidato resiste a baixar o nível da campanha.
Alckmin afirma que "na tradição brasileira, a tevê decide a eleição". Seu melhor desempenho nas pesquisas, na primeira semana de julho, veio depois de um mês inteiro (junho) com programas partidários de tevê do PSDB, PFL e PPS, e nenhum do PT ou aliados.
Encerrado o período de exposição, a curva de Alckmin caiu e Lula voltou a subir, na primeira semana de agosto, em todas as pesquisas divulgadas.
A candidata do Psol, Heloísa Helena, deve repetir na televisão a estratégia "contra-tudo-o-que-está-aí", característica de sua atuação no Senado. A orientação do partido é continuar criticando tanto Lula quanto Alckmin
"Vou ter só 45 segundos para dar meu recado", disse a candidata, lembrando que a utilização de vinhetas e alguns poucos recursos vai reduzir ainda mais o tempo de 1 minuto e 11 segundos destinado a sua coligação em cada bloco de propaganda eleitoral.
Cristovam Buarque, do PDT, que terá menos de 2 minutos e meio em cada bloco, disse à Reuters que vai continuar defendendo "a revolução pela educação" na propaganda de tevê que, segundo ele, "será mais propositiva, sem deixar de ser analítica".
"Algumas pessoas dizem que eu só falo em educação, como se isso fosse pouco", disse Cristovam. "Vou mostrar que educação é tudo".
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