Considerando poucas as chances de eleição do candidato do PSDB à Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aposta no poder dos governos de São Paulo e Minas Gerais, onde os tucanos devem vencer, para o partido rejeitar um pacto com o PT e chegar a 2010 com amplas chances de retomar o Palácio do Planalto.
Em entrevista, Fernando Henrique rejeitou categoricamente o pacto: enquanto o PSDB tem dois candidatos visíveis para a disputa presidencial daqui a quatro anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem sucessor.
"O Lula teve a chance de fazer um pacto em 2003. Depois da transição que nós fizemos, ele podia ter feito um pacto. Mas eles resolveram fazer acordos com os setores mais atrasados no Congresso. Deu no que deu", disse o ex-presidente de 75 anos, que admitiu nunca ter imaginado ver "a marca da corrupção" atrelada ao governo petista.
"Não é hora de pedir um pacto político. Quando se falou de um pacto durante uma eleição? Eleição é uma competição", argumentou. Nessa competição, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, ainda não decolou, segundo as pesquisas de intenção de voto, que mostram Lula à frente com grande probabilidade de vencer em 1º de outubro, já no primeiro turno. E FHC reconhece ser difícil reverter esse quadro, embora não tenha jogado totalmente a toalha.
"Ele é espantosamente pouco conhecido", declarou. "Primeiro é preciso torná-lo conhecido, apresentá-lo ao Brasil. Precisa ver se vai dar tempo... Para fazer um segundo turno acho que é ainda possível. Não vai ser fácil, mas é possível. Tem um mês ainda de campanha", disse o ex-presidente e sociólogo autor de mais de 20 livros.
Fernando Henrique nunca escondeu a inclinação pela candidatura à Presidência do ex-prefeito de São Paulo José Serra, que ele aponta como o político mais experiente do PSDB. Mas afirmou nessa entrevista que teve expectativa frustrada com o desempenho de Alckmin. "Eu não sei se o Serra seria melhor candidato do que o Geraldo... O Geraldo era mais novo, com uma cara nova, é o oposto do Lula. Podia ter dado certo", declarou. "Eu até achava que o Geraldo teria mais capacidade de surpreender do que o Serra. Por enquanto, não surpreendeu."
A aposta de Fernando Henrique agora é na eleição de Serra para o governo de São Paulo e de Aécio Neves para mais quatro anos em Minas Gerais, ambos considerados desde já candidatos a candidatos ao Planalto em 2010. "De qualquer maneira, mesmo que o Lula ganhe, o PSDB continua sendo um pólo de poder graças ao fato de que o Serra e o Aécio vão ganhar. Se não fosse isso, não seria pólo de poder", disse.
"Entre esses dois Estados, vamos dar um show de bola, vamos botar em ordem a segurança e a educação, e vamos mostrar um outro caminho para o Brasil." Essa provável vitrine para governadores do PSDB em dois dos Estados mais ricos do país vai cacifar o partido para uma confrontação com o PT, na avaliação do ex-presidente.
"O PT não tem candidato a não ser o Lula, então, é difícil um pacto com o PSDB. O que o PSDB ganha com isso?", questionou. "O que os eventuais candidatos do PSDB, há dois mais visíveis, ganhariam com isso se o PT não tem sucessão? De qualquer maneira, isso vai esvaziar o poder do presidente da República."
Reforma plítica e segurança
Independentemente de quem vença as eleições, FHC elenca dois temas como prioritários para o próximo governo: segurança pública e reforma política. "Se existem dois sentimentos difusos na sociedade, um é de repulsa, nojo, por causa da corrupção. E outro é de medo, por causa da segurança", afirmou.
O ex-presidente fez um mea culpa nessas duas áreas. Admitiu ter deixado na mão do Congresso a reforma política e ter dado apenas os passos iniciais na questão da segurança. "Na verdade, não encaramos a segurança, não era prioridade. Eu talvez pudesse ter avançado mais nisso. Hoje em dia virou um tema dramático", disse.
A criminalidade tornou-se uma questão importante nesta campanha em função da onda de violência que causou a morte de quase 200 pessoas no Estado de São Paulo desde maio. Os ataques afetaram a campanha do ex-governador Alckmin, já que muitos eleitores apontam fracasso no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A reforma política, bandeira que também foi encampada pelo presidente Lula, pode atrair menos manchetes que o crime, mas FHC vê nesse tema a mesma importância para o futuro do país. Uma reforma dificultaria a troca de partido pelos parlamentares, reduzindo os incentivos para a corrupção, entre outras medidas. "Para mim, o principal na reforma política é mudar o sistema de voto, introduzir o voto distrital, porque isso quebra o sistema atual. E ele precisa estar quebrado porque ele está alinhado com a parte da corrupção".
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