O governo Lula está a completar noventa dias e a grande surpresa é que ele não trouxe surpresa alguma: não obstante os compromissos históricos de fazer diferença na economia e no “social” (entre aspas, pois que econômico e social formam uma unidade inseparável), vimos até agora ministradas as mesmas soluções que FHC utilizou.
O problema é que essas soluções não são soluções. É verdade que, se o PT tentasse inventar moda, a essa hora estaríamos assistindo a um desastre apocalíptico, mas não mergulhar no abismo não quer dizer que soluções foram encontradas. O Estado brasileiro continua endividado, pagando quem sabe as maiores taxas de juros do planeta, a economia experimenta desemprego estratosférico e o saldo na balança comercial tem sido obtido pelo contingenciamento forçado das importações, o que significa que é obtido à custa do crescimento econômico. De quebra, verifica-se elevada taxa de inflação, que deprime adicionalmente o mercado interno.
Haveria um Plano “B” exeqüível? Certamente, mas esse passa ao largo dos compromissos que impõem o mais do mesmo. Não há solução para o Brasil que não passe pela quebra dos chamados direitos adquiridos por funcionários públicos e aposentados. Como o governo Lula não pode sair desse pressuposto - pois não teria coragem de enfrentar os “companheiros”, sua base política - só resta mesmo esse feijão-com-arroz requentado de arrancar dinheiro de quem trabalha para sustentar a legião de parasitas do Estado. Soluções que demorem décadas para ter eficácia não resolverão os problemas da hora.
Três meses podem parecer pouco, mas já são bastante para uma avaliação. A continuar nesse ritmo, o capital político de Lula deverá desvanecer-se como a névoa na aurora, que não tem como resistir ao sol abrasante. Mais três meses e poderemos começar a ver massas na rua, a pedir correção de rumos e mesmo a cabeça dos mentirosos eleitorais. O problema é que as massas querem as soluções para os seus problemas, mas não sabem os meios, daí serem presa fácil para os demagogos.
Findando a esperança chegará o temor do caos, o medo tão exorcizado pela propaganda eleitoral petista. Quem sabe, todavia, nunca se iludiu. Quem aprendeu, já sabe. Quando os muitos do vulgo se aperceberem do logro, temo pelo que virá. Pior do que ter a esperança frustrada é sentir-se enganado.
O que passa por competência do governo Lula é a extrema mediocridade que destruiu eleitoralmente FHC. É coerente. Nem o círculo íntimo do presidente esperaria ir além disso. O problema é que os horizontes da Nação estão sendo estreitados em tal grau que muitos grupos sociais poderão sentir-se ameaçados. Uma situação essa não pode trazer nada de bom.
Quem viver verá.
(*) Nivaldo Cordeiro reside em São Paulo/SP www.nivaldocordeiro.hpg.ig.com.br )
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