O ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, membro da executiva nacional do PT, será um dos principais alvos da Polícia Federal na Operação Satiagraha II, um desdobramento do inquérito que apura o esquema operado pelo ex-banqueiro Daniel Dantas. A suspeita é de que ele tenha atuado em favor do Grupo Opportunity na fusão da Brasil Telecom com a Oi - na criação da "Supertele" - para levantar uma propina de cerca de US$ 260 milhões que, segundo a Polícia Federal, se destinaria ao caixa dois "de alguma campanha eleitoral".
Greenhalgh nega qualquer irregularidade. O relatório da PF aponta, no entanto, que ele aparece numa série de diálogos como o braço direito de Daniel Dantas, Humberto Braz, entre março e abril deste ano, onde os dois falam de valores, audiências e encontros com gente importante do governo. No trecho mais interessante das conversas captadas pela polícia, fazem referência a recursos relacionados a "custos" e "trabalho", dificuldades para entabular supostas negociações e muitas cifras. "Os compradores estão orientados para resolver nosso problema", teria afirmado o ex-deputado no dia 26 de março.
Diferença
Na mesma gravação, Humberto Braz diz que está para receber os US$ 260 milhões, mas o fechamento esbarra numa diferença de US$ 40 milhões, divididos entre os dois grupos supostamente interessados na fusão, que estariam se negando a pagar.
A parte mais resistente ao pagamento, segundo a transcrição, envolveria o Citi e a Telemig, que queria pagar US$ 110 milhões, US$ 20 milhões a menos do que havia sido combinado e aceito pelo Opportunity e Citi para que a fusão das operadoras telefônicas (Brasil Telecom, Oi, Telemig Celular e Amazônia Celular) fosse autorizada depois das gestões supostamente feitas pelo ex-deputado junto a autoridades do governo.
O analista da Polícia Federal escreve no relatório que, aparentemente, "o valor discutido se refere ao custo para o trabalho de tráfico de influência e que a suposta comissão representa 0,3% do total envolvido na fusão, algo em torno de US$ 6,7 bilhões." A divergência não estava no valor do negócio e sim em quanto cada parte interessada estaria disposta a pagar para criação da "SuperTele" exigindo os lobista a quantia de US$ 260 milhões, valor que possivelmente irá constituir "caixa de alguma campanha eleitoral, já que não existe na legislação autorização para fusão das operadoras de telefonia envolvidas, mas os lobistas estão "atuando" para que o negócio que já se concretizou de fato seja autorizado pelo governo federal como de direito e para isso cobram seu preço", escreve o analista da PF.
No mesmo relatório, o policial diz que não há como sustentar que há envolvimento de autoridades federais na suposta negociata e prefere levantar a suspeita de que "os lobistas estão "vendendo" aos interessados pelo negócio possível e pretendem atuar com "tráfico de influência" perante ninistros de Estado, talvez com a participação de deputado federal ou senador da República, que não são objeto dessa investigação".
Em nota distribuída ontem, o ex-deputado diz que não pode mais se calar e que " o diálogo em questão tratava de uma negociação em curso e os valores citados se referiam a essa negociação como um todo. Não há no diálogo nenhuma menção a tentativa de lobby. Mas a conclusão distorcida do relatório do delegado Protógenes Queiroz é que esse valor se destinava a remunerar tráfico de influências. Pior, sem que nenhuma palavra sobre isso fosse mencionada, escreve que o dinheiro seria usado em "caixa dois" de campanha eleitoral. Querer ver neste diálogo a existência de propina, lobby, de dinheiro para campanha eleitoral é pura má-fé. (...) Isto é uma calúnia a que vou repelir, custe o que custar", afirmou. Disse que seu trabalho consistiu na análise de processos relacionados ao Opportunity nas esferas civil e criminal. "A negociação que resultou na criação da BrOi foi árdua, foi longa, foi tensa, mas não teve nenhum ilícito", garante.